terça-feira, maio 10, 2005

Maniaco-depressiva Parte III

Estava a colocar a chave na fechadura da porta do prédio, ainda a suspirar, porque tu não olhas sequer por cima do sobrolho, porque te sou totalmente indiferente, estava em perfeita simbiose com os blues da chuvinha de molha-tolos que decidiu aparecer finalmente, quando surge, do meu lado esquerdo, um puto - tinha, com certeza a minha idade, mas para mim são sempre putos - a tocar à campainha do sexto andar e a interromper o meu faduncho.
"Oh não", pensei eu, largando um sonoro suspiro, "Só me faltava agora uma viagem silenciosa e desconfortável de elevador", matutei franzindo a testa.
Mas hoje, ou está tudo tarado, ou eu estou mesmo irresistível e tu é que parvo.
O velhinho elevador, que já viu muito na vida, tinha já galgado até ao terceiro piso quando o dito jovem disse: "Grande decote".
Os meus olhos abriram-se muito, baixei a cabeça, colei o queixo ao peito e confirmei a imagem mental da minha vestimenta. "Não, o decote hoje nem é nada de especial", respondi eu.
"Não, não estou a falar desse". Apontou para as rachas imorais que o meu vestido tem, que descobrem dois terços da minha coxa enorme.
"É um bocado demais, não é?", disse eu à criança.
"Qual quê? É lindíssimo", respondeu ele com uma lata que eu até me belisquei para ver se estaria a sonhar, no momento em que o elevador parou, com um sobressalto, no sexto andar.

Isto aconteceu mesmo e tu és muito parvo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Há andares vagos no teu prédio? O teu elevador é mto mais interessante q o meu...

K disse...

eu nao tenho elevador...;)

Dia disse...

Há andares vagos neste prédio, sim!
Qualquer dia, faço lá outra grande party e o elevador passa a ter mais histórias para contar (sabem, ele é daqueles que se pode parar entre pisos...)