quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Tant Pirre

Tant Pirre!
Quando um dia Jeunet falha os objectivos a que se propôs, os seus interveninetes encolhem os ombros e dizem, sempre em francês: "Tant Pirre"!
Quando as coisas correm às mil maravilhas, exclamam, também em francês, "Ça marche bien" e, mal o som nasalado da última palavra é projectado para o ar, acontecem os fenómenos naturais mais extraordinários: o céu pigmenta-se de laranja, os animais de estimação adquirem o dom da palavra, os objectos inanimados, como por exemplo, o teclado Compaq em que escrevo estas linhas, ganham vida própria e ensinam-nos o sentido da vida.
A música de um dia Jeunet bem sucedido é do Tiersen, claro, frenética, bombos, pianinhos de brincar, caixinhas de música de bébé. Num dia Jeunet triste, a melancolia do Yann invade os seus intervenientes e o piano (e às vezes o acordeão) afiambra toda a banda sonora.
O dia Tiersen de ontem foi especial. A luz estava perfeita, os scones na Versailles também e o lusco fusco da minha varanda de quase duzentos anos sobre o Marquês de Pombal deu o necessário toque francês à coisa.
O senhor Vring não ligou. Não escreveu. Não Gmailou. Não enviou um pombo correio. Não amestrou pulgas. Não projectou uma mensagem nas estrelas. Não deixou um bilhete na caixa do correio. Nem debaixo do tapete da entrada.
À meia noite acabou o prazo. Não me transformei em abóbora e também não chorei.
Fiquei apenas triste. Corri para a aparelhagem tirei do "pause" a música "les jours tristes" do Tiersen. Se as coisas tivessem corrido bem, recuava umas faixas e deixar-me-ia levar pela "Valse d'Amélie".
Continuo em greve de silêncio. Apesar de ter feito batota e de o ter visto, propositadamente, há bocadinho, de relance, num carro branco demasiado pequeno para a sua estatura. Não lhe vi a cicatriz no nariz , não o olhei nos olhos. Balbuciei qualquer coisa, dei uma pancadinha no Fiat que ele tinha mal estacionado em segunda fila e fui embora, comprar cigarros que não precisava para nada.

Hoje é um dia Jeunet triste. Na minha cabeça, está, em repeat one, esta:

Les Jours Tristes

It's hard, hard not to sit on your hands
And bury your head in the sand
Hard not to make other plans
and claim that you've done all you can all along
And life must go on

It's hard, hard to stand up for what's right
And bring home the bacon each night
Hard not to break down and cry
When every idea that you've tried has been wrong
But you must go on

It's hard but you know it's worth the fight
'cause you know you've got the truth on your side
When the accusations fly, hold tight
Don't be afraid of what they'll say
Who cares what cowards think, anyway
They will understand one day, one day

It's hard, hard when you're here all alone
And everyone else has gone home
Harder to know right from wrong
When all objectivity's gone
And it's gone
But you still carry on

'cause you, you are the only one left
And you've got to clean up this mess
You know you'll end up like the rest:
Bitter and twisted, unless
You stay strong and you carry on

It's hard but you know it's worth the fight
'cause you know you've got the truth on your side
When the accusations fly, hold tight
And don't be afraid of what they'll say
Who cares what cowards think, anyway
They will understand one day, one day.

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