terça-feira, junho 14, 2005

Bocas da reacção - ou a história dos homens "coerentes" e "de grandes convicções"

Longe de mim transformar este blog num fórum de discussão política. Não gosto de política, sou totalmente apolítica, mas não posso deixar passar em branco a morte de dois combatentes anti-fascistas, o companheiro Vasco e o camarada Álvaro.
Mas, lamento, não vou aqui fazer uma ode maravilhosa de fazer chorar as pedras da calçada, a propósito da morte destas duas individualidades da esfera política portuguesa. Não vou falar da "coerência dos ideais" destes senhores, ou das suas "grandes convicções" - para isso, liguem a televisão em qualquer canal, sintonizem uma qualquer estação de rádio, desfolhem qualquer jornal.
Agora, os finados são uns santos. Só o director do meu pasquim teve a coragem de falar que se tratavam de potenciais ditadores de esquerda e, caramba, vou ter que lhe tirar o chapéu por ter tido a coragem, porque, fónix, até o Soares, que, a 6 de Novembro de 1975, celebrizou o "olhe que não, olhe que não", no ponto alto da resistência socialista ao PREC, só faloude "coerência e grandes convicções"...
Porque eram velhotes e fica sempre mal contar os podres dos defuntos, ainda mais quando eram uns velhotes tão simpáticos e frágeis.
Espero que o Pinochet e o Fidel Castro morram no mesmo dia. E aí, vamos ver as diferenças: aposto que o Fidel será, com certeza, um "homem coerente, de grandes convicções". O Pinochet, naturalmente, um assassino.

4 comentários:

Anónimo disse...

Diana, quando não se sabe do que se fala, mas vale não se falar. E não deves mesmo ter lido jornais, porque o teu director até deve ter sido dos mais contidos no ataque. E santo é coisa que o Álvaro não foi nem nunca quis ser.

Catarina Pires

Dia disse...

Caríssima,
"Olhe que não, olhe que não..."

Outra reacção não seria de esperar de uma pessoa que privou com o Álvaro, que escreveu um livro com ele, de uma pessoa que é "casada" com um membro do comité central... Como este é um blog democrático, e a partir do momento em que permito comentários, o teu não será saneado, riscado com o lápis azul.
Gosto, porém, de contatar, mais uma vez, que os membros do partido comunista e seus simpatizantes (uma vez que não és - ainda- filiada) não aceitam nenhum tipo de crítica. Quando alguém discorda, é porque "não sabem nada do assunto". Já aconteceu nas nossas discussões sobre temáticas "quentes", como por exemplo o aborto. Não sei, de facto, como é que és a minha melhor amiga, quando não nos revemos em absolutamente nada do que uma e outra acreditam.
Repito: eu não acredito em nenhum partido. E, na realidade, sempre me considerei de esquerda, até perceber que toda a gente defende valores de esquerda - igualdade, liberdade, direitos dos trabalhadores. Não renego é os factos históricos (apesar de a história actual ser escrita pela esquerda; o que está certo, muito certo; durante séculos e séculos coube à direita esse trabalho). E, por isso, sei que a Coreia do Norte não é uma democracia; muito menos Cuba. E, cara, adoro o capitalismo. E tu também.
Tudo isto não quer dizer, obviamente, que eu não admire o Álvaro Cunhal, pela sua luta pelo derrube do regime de Salazar.
Quanto ao tema mediático, se li os jornais ou não, estás novamente enganada. Li-os de fio a pavio, sobretudo depois de me teres dito que foram escritos horrores sobre o Álvaro.
Não encontrei nenhuma aberração - talvez a crónica do pulido valente fosse forte demais, mas lá está, isso é liberdade de imprensa e de pensamento, aquelas coisas pelas quais o Cunhal lutou.
E, o meu director, no dia da morte do Álvaro, foi o único que eu ouvi falar daquela faceta menos democrática do teu camarada, porque os outros (Soares incluído; posteriormente, redimiu-se) limitaram-se a falar da "coerência" e "grandes convicções".
E ontem, na RTP Memória, deliciei-me com os debates de 75 entre o Soares e o Álvaro Cunhal.
End of conversation.

Dia disse...

E, como eu gosto muito de ler notícias, até os brasileiros, deixo-te outra da terra onde o teu marido e meu amigo andou há poucos dias:

"O portal MSN da Microsoft na China proibiu seus utilizadores de mencionarem as palavras “democracia” e “liberdade”, informou o jornal Financial Times, na última sexta-feira.
A medida faz parte de um esforço do portal para não se indispor com os censores do governo chinês. Quando os usuários tentam usar termos que ressaltem a democracia naquele país o site pede a substituição da palavra.

O governo chinês vem controlando de perto o uso da internet. As autoridades determinaram que todos os websites tenham um registro oficial no governo e deu prazo até 30 de junho para que realizem um cadastro. Os que não cumprirem a determinação terão suas páginas canceladas.

Outra grande democracia...

Dia disse...

Mais palavras proibidas:

pornografia, independência de Taiwan e do Tibet, Falun Gong, Dalai Lama, incidente da Praça Tiananmen, partidos políticos de oposição e movimentos anti-Comunistas.

Espero que o Google não se renda também.