sexta-feira, abril 13, 2007

A Maldição do Alto Minho

Quando a noite cai, o silêncio desce as escadas desenhadas pelo Ventura Terra em pezinhos de lã, e desprendem-se das paredes luminescências que me fazem pensar sobre a maldição do Alto Minho.
As sapatas da porta 86 B da Rua de Santa Marta estão amaldiçoadas. Foram escavadas por cima das sepulturas de um cemitério índio. É tão simples quanto isto. Não pode, não arranjo outra explicação.
Nem sempre foi assim. Oiço relatos dos vizinhos que falam de uma taberna afamada, de uma cozinheira minhota de formas roliças, de um rodopio de febras e pipis, paredes pintadas com gordura e enxurradas de copos três e finos, que fariam transbordar o desolador chafariz do Largo de Andaluz.
O Alto Minho é um restaurante. É um restaurante simpático, irresistível pelo painel de azulejos monumental com vaquinhas e bois a puxarem uma carroça em Paredes de Coura.
O Alto Minho está amaldiçoado, só lá vai com água benta e crucifixo. Até lá, está condenado a este fado: abre, fecha, trespassa-se, arrenda-se. O Alto Minho não aguenta mais do que um mês com o letreiro da porta a dizer “Aberto”, mesmo com a imperial a 50 cêntimos. 50 cêntimos. Nem no boteco da D. Beatriz se bebe um café com 50 cêntimos.
É profundamente desolador. A mim entristece-me a maldição do Alto Minho.
Os vizinhos do restaurante Andaluz, na porta 84 B, têm a casa sempre cheia. Uma refeição ronda, em média os 15 euros por pessoa, e não há quem diga aos vizinhos que o raio das azeitonas não são lá grande coisa, e que, já agora, mudavam o fornecedor do queijo que não sabe rigorosamente a nada. Mas é vê-los todas as semanas com o mesma ementa afixada na porta, é vê-los todas as semanas a abarrotar. À hora do almoço e à hora do jantar.
Na porta ao lado, nem uma mosca se atreve a zumbir dentro das quatro paredes amaldiçoadas do Alto Minho.
Por vezes vamos lá. Não tememos.
Os olhares dos empregados já não têm uma réstia de esperança – devem já ter ouvido falar da maldição do Alto Minho. A lenda espalha-se de ouvido em ouvido, toda a gente a conhece de cor, como uma lenga-lenga.
A rapariga que nos serve o jantar está, sempre, sem excepção, à beira de um ataque de nervos, deita faísca pela ponta dos dedos e aquilo enternece-me, derreto-me com o nervoso miudinho e um misto de ansiedade infantil de quem acabou de desembrulhar um presente, quando chegamos e, apesar de todas as mesas estarem vazias, pedimos para nos sentar na zona de fumadores.
Depois, desdobra-se em atenções dignas de restaurante de primeira categoria: serve as bebidas, por vezes não lhe corre lá muito bem, entorna um bocadinho para fora do copo, mas nós não dizemos nada, nem nos atrevemos, mesmo quando ela não entende o pedido, ou se engana, nós temos medo que ela desate a chorar de desalento, desfazemo-nos em elogios à comida, ao serviço, em jeito de consolo, em jeito de a culpa não é vossa, a culpa é da Maldição do Alto Minho, e ela lá atura a Carolina com a maior das paciências, dá-lhe todas as palhinhas que o seu capricho de diabrete loiro entende pedir.
O Alto Minho tem os melhores secretos de porco preto de Lisboa. Sopa, azeitonas, pão, manteiga, prato, bebida, sobremesa (salva de palmas para a mousse de chocolate – caseira, com raspas de chocolate branco) custa 7,5 euros.
O Alto Minho deve estar quase a fechar as suas portas. E assim vai ficar, com o placard da agência imobiliária na porta, até que algum empresário do ramo da restauração que não tenha lido a newsletter da ARESP, o reabra.

Pelo sim, pelo não, sem medo da maldição, hoje vou lá jantar.

5 comentários:

Anónimo disse...

E eu a pensar que os melhores secretos eram nos Grelhados de Alcântara ;-) Bem, têm pelo menos a melhor sangria de champagne ;-)

Isa disse...

mt bom post, saudades de posts destes :-) bjs e ba janta

MPR disse...

Fica a dica... podia-se começar um abaixo-assinado para salvar o Alto Minho. Ou falar com um padre perito em exorcismos. Ir à bruxa, lançar cartas, fazer uma manif convocada por sms... tenho que lá ir um dia... espero que antes da maldição se consumar.

Anónimo disse...

UMA SUGESTÃO...

ESTREIA-DEBATE NO AUDITÓRIO DO EPRAMI - ESCOLA PROFISSIONAL DO ALTO MINHO INTERIOR, ESTRADA DOS ARCOS, MONÇÃO

O FILME PORTUGUÊS
"WAITING FOR EUROPE" DE CHRISTINE REEH
VAI ESTREAR EM MONÇÃO A 27 DE ABRIL,
PELAS 21.30H
COM A PRESENÇA DA REALIZADORA



O filme português “Waiting for Europe”, realizado por Christine Reeh e produzido pela C.R.I.M Produções, vai ser estreado em Monção, no Auditório do EPRAMI – Escola Profissional do Alto Minho Interior, Estrada dos Arcos, 4950-438 Monção, no dia 27 de Abril, ás 21.30h, com o apoio da Câmara Municipal de Monção e do Cineclube de Monção e com a presença da realizadora, integrado nas iniciativas da Feira do Livro de Monção.

“Waiting for Europe” (À Espera da Europa”), ganhou o Best International Documentary no Festival "The New York International Independent Film and Video Festival" (apresentação de Los Angeles) e está seleccionado para a competição em Nova Iorque em Julho.

O filme rodado em Lisboa, Alcalá de Henares, Sofia e Blavoegrado, acompanhou durante dois anos, Vânia, uma imigrante do leste europeu em Portugal e Espanha. Trata-se de um retrato intimista sobre a imigração feminina.


“Waiting for Europe”, rodado em três países, Portugal, Espanha e Bulgária, foi produzido com o apoio do Instituto de Cinema, Audiovisual e Multimedia (ICAM), da RTP, do Ministério da Cultura, dos Médicos do Mundo, da Universidade de Alcalá de Henares , da Universidade Fernando Pessoa, da Câmara Municipal de Blavoegrado, do Instituto de Cinema Búlgaro, da PROFILM (Bulgária) e da Associação Aibebalcan em Espanha.

O ACIME (Alto Comissariado para a imigração e Minorias Étnicas), o Banco BES (www.bes.pt /novos residentes), a Federação Portuguesa dos Cineclubes, Associação Bulgari, e as câmaras municipais, colaboram nas estreias-debate a realizar em Portugal.


As próximas estreias-debate do filme, com a presença da realizadora, Christine Reeh, estão previstas para o Auditório da Faculdade de Ciências Socias e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (Centro de Estudos de Migrações e Minorias Étnicas) a 3 de Maio, pelas 15.00h; para o o Auditório Fernando Lopes Graça, em Almada, pelas 19.00h, integrada no V Campus Euroamericano de Cooperação Cultural; para Portalegre, no dia 22 de Maio; para o Centro Cultural António Aleixo, em Vila Real de Santo António, no dia 26 de Maio, pelas 21.30h; para o Cine-teatro em Sesimbra, dia 16 de Junho, pelas 21.00h.


O filme vai ainda ser estreado no Luxemburgo, a 8 de Maio, pelas 20.00horas, na Cinemateca de Luxemburgo, numa iniciativa conjunta da ASTI (Association de Soutien aux Travailleurs Immigrés) e da Cidade de Luxemburgo, com o apoio das duas centrais sindicais, da Associação de Amigos do 25 de Abril e ainda de associações de imigrantes portuguesas e búlgaras.


A revista "Cinema" da Federação Portuguesa dos Cineclubes, na sua edição Abril-Junho, nº37, publica um dossier sobre o "Waiting for Europe", que inclui uma entrevista a Christine Reeh, um artigo de André Martins, uma critica de Marta Mikolajczak, filmóloga polaca e um texto crítico de Paulo Duarte Teixeira, Presidente da Associação Jurídica do Porto e Magistrado Judicial. Na capa, Christine Reeh.

C.R.I.M Produções
Telf./Fax.218463284
Tm.918719003
crimproductions@netcabo.pt

Rubens Aponirário disse...

Eu estou cá agora, neste mesmo momento, nesse maravilhoso dia de casa cheia, em mais uma das 1027 noites e dias aqui passados como dono actual; venho dizer que me enobrece saber com grande satisfaçao;o meu, e de minha querida Helena e nossos fieis colaboradores,sempre com carinho e dedicação, agora colhendo a bela gratidão de todos meus queridos e amados clientes.
Estes que por vez ou outra já conseguem esperar alguns minutinhos pelo seu lugar para a sua refeiçao predileta.
Mantenho a tradição do Alto Minho que vim a conhecer e apreciar, trazendo uma dose de amor em cada prato aqui confeccionado.
Não conheci aqueles que anteriormente cá passaram e não tiveram a mesma sorte que eu, sucesso no RESTAURANTE ALTO MINHO. Sem mais fico grato por vencer mais esta sem padre algum, ou exorcista.
Obrigado, e para quem não me conhece venha cá e aprecie o que podemos fazer por si sempre aqui neste restaurante .
Hoje vim a conhecer esta página deste dito e posto os meus comentários 9 dezembro 2010.