quinta-feira, setembro 07, 2006

Milagres e afins

E porque o assobio não pára, eu não tenho outra escolha se não olhar para o lado feliz da vida, isto antes de ir tomar um comprimido para a dor de cabeça e de o João acabar de fazer a mézinha que me vai pôr a dormir, que finalmente me vai deitar a baixo como um dardo tranquilizador, em dose para rinoceronte, e no meio de um desespero ensurdecedor - eu oiço vozes, sabiam? Eu estou sempre a ouvir vozes, é isso que conta a saga do professor de Filosofia se algum dia lá chegar -, e reparo que houve um milagre hoje: o Ricardo, no meio do sudeste asiático, o Ricardo que nunca tem onde cair morto, e o Pedro, o tio Pedro, o Pedro que sentiu o pontapé mais assustador da Carolina, estava ela no oitavo mês na barriga da mãe, ambos se disponibilizaram para pagar a mensalidade do colégio da pequenita. E o João, o João não me deixa ir trabalhar no fim-de-semana para o El Corte Inglés. Diz que tudo se resolve.
Mais do que o grande prémio do Casino de Lisboa, mais do que uma eventual comoção do João de Valsassina Heitor ao ler a minha "anulação de matrícula, por motivo de desemprego de um dos progenitores", mais do que a funcionária da secretaria a desejar-me força neste momento, bom, isto vale muito mais do que isso.
Olho para o céu à espera que me caia um milagre na testa, remexo a terra das floreiras da janela à procura de notas de 500 euros e nem reparo que já bateu à porta uma coisa muito mais aterradora - estes amigos nunca me vão faltar.
E quanto ao outro, o que se espera de um homem que não pagou o enxoval da filha? Segue-se em frente, e nunca mais se espera nada de homens sem sangue quente a correrem-lhe nas veias.
(Agradeço à insónia pela clarividência. E vou-me deitar)

7 comentários:

Anónimo disse...

Hoje que tudo me pareceu correr mal de manhã passo pela farmácia para um comprar qualquer coisa para a dor de cabeça que parecia ir rebentar a qualquer momento, e enquanto esperava encontro a Alice. A Alice que levava a filha, a Sara de 8 anos que eu já não via há algum tempo. A Sara que está carequinha, de cabeça lisinha. A Sara dos olhos esverdeados e pestanudos que carrega com ela apesar dos seus 8 anos uma leucemia. Iam aos medicamentos que todos os meses vazam a carteira á Alice que vive agora de uma baixa médica que lhe rende um miséria. Esqueci a minha dor de cabeça, e todas as minhas dores de cabeça diárias desapareceram perante a tristeza dos olhos da Alice, o cansaço dos olhos da Sara, que na sua inocência ainda consegue sorrir.
É sempre assim Dia. Estamos sempre á espera dos milagres do céu e não nos lembramos que os verdadeiros milagres estão aqui na terra. Esses amigos que não são mais que milagres. Como o sorriso da Sara. Um milagre.

Isa disse...

boa sorte minha querida. que corra tudo bem. é triste, são tristes estas histórias, mas td se resolve, tudo se resolve, pode ser que para o ano a carolina possa ir p o colégio. Q Deus te ajude. bjs

Anónimo disse...

Tudo acabará por se encaixar...
Abraços

Anónimo disse...

cyber cafe stop sem acentos stop procuro de milagres stop como vai isso stop

Anónimo disse...

procuro milagres, claro. a frase anterior tinha um acento. apaguei-a. mal.

Dia disse...

Não ganhei o euromilhões. Merda!

Goiaoia disse...

Adoro quando encontro um comente da Lyra no teu blogue.
Desculpa lá, num consigo evitar, mesmo no meio da desgraça... (alheia, é certo, e por isso... só por isso, é que posso alardear o meu prazer.)

Acho que já li o próximo, portanto, este, será o "mark out".