quinta-feira, junho 08, 2006

Em contagem decrescente para o post "bestial" e para o jantar com a sogra

Podia ter sido pior, penso eu, neste preciso momento, ao abrir o dashboard e preparar os três mil e picos caracteres que passei a escrever de três em três dias: a visita 66.665+1 poderia ter ocorrido no dia 6/6/06, no post 665+1.

Mas ainda faltam dezassete textos para esse evento e à cadência de caracol que agora regurgito textos, lá para o mês que vem há-de chegar o post "bestial" (agora, como ando entretida, já não escrevo posts na cabeça a conduzir ou a andar pelas pedras na calçada. Curiosamente, inaugurei uma nova modalidade de escrita mental: em sonhos. Há duas noites escrevi posts belíssimos em sonhos e eram todos sobre os Açores. Eu ainda não vou contei, mas no Domingo parto para São Miguel, para a primeira lua-de-mel). Entretanto e até lá, apenas um desejo: que com ele não venha nenhuma gastroenterite, e hoje, que vou jantar a casa da senhora dona sogra, o meu maior receio é, de facto, vomitar o jantar ou ficar verde de enjoo.

Mas nem dei pela contagem decrescente do post da besta. Ando alheada e, ultimamente, e porque estou amantizada com o senhor revisor, não venho sequer fazer uma visita de médico ao agonizante dashboard: escrevo e publico os textos a partir do Word, porque o dicionário da aplicaçãozita do senhor Gates assinala às ondinhas encarnadas as gralhas e os tropeções que dou na língua do Camões e, assim, com menos correcções dele a caneta encarnada, dá-me para picotar, menos vezes por semana, os pulsos e a auto estima fica menos abalada (e quase me convenço que não sou analfabeta de todo).
Coisas do arco-da-velha continuam a acontecer.
A Magui continua a não reconhecer o senhor 50.000, passa por ele como se fosse transparente e eu fico piursa com a má educação da senhora mãezinha. "Não conheço e não quero conhecer, és uma pinga-amor, tal e qual como o teu pai. Apaixonas-te e desapaixonas-te a velocidade da luz e depois eu é que sofro, porque perco filhos. Foi assim com o Carlos e assim com o Pedro", diz ela, de uma boca sem nenhum dente e, invariavelmente, eu desato aos gritos e chamo-lhe mal-educada e lembro-lhe que namorei particamente cinco anos com esses filhos que ela perdeu, e que na realidade não perdeu, porque o Pedro é o meu melhor amigo e continua a lá ir a casa, a telefonar-lhe para saber como é que se faz favas cozidas, e a chamar-lhe mãezinha (apesar de ela não merecer, porque, às vezes, é tão mal educada com ele, como é com o senhor meu noivo). Estranhamente, o senhor meu "husband to be" já conheceu o Zé Ralha e todo o braço paterno da família siciliana. O Zé portou-se bem, não fez nenhum filme, não houve nenhum drama, até me ajudou brilhantemente numa gaffe que cometi em frente à sua ... não sei o que ela é... companheira, talvez, mas a mim vem-me sempre a outra história à memória, uma sobre a sua performance sexual, que está algures nos arquivos e que não irei reproduzir sob pena de vir a ser processada até ao tutano, eu disse à carolina para ela riscar à vontade a revista Xis, que ninguém lia aquela merda, e a pobre senhora, que até se esforça por ser simpática, diz, a medo: "Eu gosto". E eu não tive um ataque de riso histérico, porque paizinho veio em meu auxílio e retorquiu: "Eu achava que só a .... lia a Xis, que o PÚBLICO não acabava com a revista por causa da ..., mas afinal há duas pessoas que a lêem. Uma amiga da ... também lê".

Mas tirando este pequenito fait divers, tenho quase a certeza que o senhor 50.000 deve achar que todas as histórias que eu escrevi neste blogue sobre o progenitor são fruto de uma imaginação retorcida, ou ditadas ao ouvido esquerdo pelas vozes que não se calam dentro da minha cabeça.
Deixei o Zé Ralha brincar aos avozinhos com a Carolina e, num acesso de quase loucura, até o deixei passear com ela, sozinhos, sem supervisão de pessoas adultas, mesmo sabendo que teriam que atravessar a ponte de um pequeno lago da quintarola do avó Ralha. Tenho a certeza que nessa meia hora, ele a baptizou e armou cavaleira com água porca do charco lá de cima, que tem peixes laranja enormes, mas que eu não consegui descobrir no meio de bolas de vidro coloridas plantadas no chão, e ainda bem que a criança tem dois anos e meio e não se lembrará de nada (a mim, ensinou-me que as princesas nunca se ajoelham com os dois joelhos por terra, apenas com um, e depois desembainhou a réplica da Excalibur e armou-me cavaleira; aos manos, garantem-me eles, que ele ainda lhes deu uma carolada, uma espécie de baptismo de cavaleiros, que doeu à brava, o que só vem confirmar a teoria que nós, os filhos do casamento, sempre fomos mais bem tratados naquela casa).
O senhor 50.000 lá esteve caladinho, e o Leonardo que não sabia dessa sua faceta reservada, e devia achar impossível eu namorar com alguém parco em palavras, ainda me chamou à parte e perguntou: "É preciso chamar o João à conversa?". "Não, ele é mesmo assim, calado. Não te preocupes", respondi eu, com uma travessa de despojos mortais de sardinhas assadas na mão. Felizmente, nem avó, nem progenitor, nem madrasta arraçada de ogre, nem governanta, deu para perguntar onde nos conhecemos, eles não fazem ideia que eu tenho um blogue, mas há Internet no Robalo, logo iriam lá espreitar e creio que abriria as hostilidades novamente se lessem alguns dos nacos de prosa que para aí estão nos arquivos.
E para parentes googalizadores, basta-me a senhora sogrinha, que deu para pesquisar o meu nome e, depois, perguntou se eu era jornalista ou engenheira do ambiente (era isto?). Estranho não ter vindo cá parar (acabo de fazer uma googalização sem aspas e a primeira ocorrência é o (T)ralha), se calhar veio e faz parte da imensa massa silenciosa de leitores (depois de acabar este texto, que não faço ideia onde vai parar - seguramente já tem mais de três mil caracteres). Mas, amor com amor se paga. No dia em que descobri, com a madrinha T, que o senhor 50.000 vivia no número 56 de uma rua onde passa o eléctrico, conquista que soube a scones com manteiga e doce de morango (não soube a ginjas porque eu não acho grande piada às ginjas), porque apenas sabíamos que ele morava algures com vista para a Estrela e para o Castelo de São Jorge, num sexto andar sem elevador, contando 130 degraus até lá chegar (ai, que hoje vou ter que passar por essa provação), nessa altura eu ainda tratava cordialmente o senhor meu noivo por você, e estava crente que, por ser revisor tipográfico, teria que ter no mínimo 120 anos, eu também liguei para o 118, para confirmar se ali viveria de facto o senhor que me acompanhava à janela em noites terríveis de insónias que nunca mais acabavam. E foi então, na esplanada poluída e barulhenta de um café chamado 1500, a partilhar uma torrada e meia de leite com a miss T, que eu ouvi pela primeira o nome da senhora sogrinha: Cecília. Santa padroeira da música. Vai correr tudo bem esta noite. Não vou vomitar. Não vou ficar enjoada. O pequeno diabrete loiro não vai partir nada. Não vai fazer birras de meia noite ou puxar o rabo ao gato Post it. Sim?

[seis mil caracteres! UAU! Back on track]

5 comentários:

Mary Mary disse...

Vai correr tudo bem... :D

Seis mil caracteres e em grande! Fantástico!

ffidalgo disse...

Isto continua a sair muito bem. Essa é que é essa...
(e estratégicamente perfeito também. As mulheres...eheh)

Isa disse...

arraçada de ogre é liiiiiiiiindo. vai correr tudo bem, claro que vai. mais um post excelente, é o que é. bjs e boa sorte

mac disse...

apesar de um pouquinho "mais longe do corpo", continua o mesmo carinho e a mesma vontade de que a felicidade, ou qualquer coisa arraçada, igualmente lamechas, te toque também a ti.
quanto ao correr bem,... destino é coisa agarrável e nem é assim tão bravo: com duas nalgadas (hummm...) bem assentes pomos o bicho no sítio.
E mai nada.

Anónimo disse...

Tia, ainda bem que estás feliz. Vê-se. Ou não se te põe os olhos em cima. Tenho pena que quando andas assim não queiras saber dos velhos rituais de jantar nos Grelhados!... ;-) ou noutro sítio qq. Dá notícias. Antes ou depois dos Açores. Nós vamos para Viena.