quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Mira técnica (dentro de instantes segue um breve interlúdio musical)

As audiências deste quintal retomam o seu curso natural de ribeira calma que seca e parte de férias, sem destino, no Verão; a esquizofrenia acalma um pouco, e eu fico mais tranquila, em paz, sinto-me novamente em casa e, por isso, volto a escrever na primeira pessoa do singular. É melhor assim, gosto mais quando somos poucos, assim, ninguém me pisa as roseiras de Santa Teresinha, nem os agriões que dormem aos pés do poço.
Estou em período de reflexão. O 33.333 inquietou-me, diz que, dificilmente, posso dar mais de mim, que a escrita atingiu o seu estado de depuração máximo, lança-me a pergunta, que eu não estava à espera: "E agora? O que se segue?" E antes, poucos dias antes, o meu amante literário (andava à procura de um termo para este inominável, cheguei a pensar em amante platónico, mas penso que assim faz mais jus ao que ele é) já tinha feito o mesmo, ao dizer-me, ao magoar-me mesmo, com esta: "o teu blogue esgota-se em ti mesma".
Não sei onde isto vai parar, se está condenado à morte ou ao estatuto de neverending story (foi assim que eu a imaginei, quando a registei no blogger). Sei apenas que me inqueitaram e que, para além do pai de todos escavacado, passo as tardes com a língua encaixada nas traseiras do incisivo lateral direito e isto é sinónimo de um elevadíssimo grau de stress. Não sei gerir expectativas, porque nunca, ninguém, as teve para comigo.

Dito isto, e com um texto sobre o aumento dos preços dos transportes públicos nos subúrbios para escrever (erro de casting, erro de casting, porque continuam a insistir que eu sou a gaja dos passes sociais, quando eu não sei o que isso é?), apenas me apraz dizer que Deus estava inspirado quando baptizou as mais de 7.500 espécies de maçãs (fiquem sabendo, créditos à wikipedia, que as macieiras não florescem em áreas tropicais, porque necessitam de geada - gostam de um pouco de dor, há muita gente assim). Ando a pensar nisto há muitos dias: Reineta, Starking, Granny Smith, mas a melhor de todas é a Bravo de Esmolfe.

9 comentários:

MPR disse...

Bravo de Esmolfe? Sem dúvida, pequena, dura e doce sem ser enjoativa, como as que há no quintal da minha avó a mais de quinhentos quilometros daqui... Expectativas? Quais expectativas? Porquê expectativas? Acaso ganhaste o Nobel ou vendeste 3 milhões de exemplares do teu último romance? Então esquece, não há expectativas a não ser aquelas que queres fazer na tua própria cabeça. Desculpa dizer-te, principalmente como fiel fã diário, mas isto é (apenas) um blog... Escreve o que quiseres, quando quiseres, como quiseres... Sem olhar ao statcounter e muito menos a expectativas, ou escreves para agradar a um público?

Anónimo disse...

GRANDE MPR. FALAS E FALAS BEM.
ESCREVE PARA TEU PRAZER E POR ARRASTO DAS PRAZER (LITERARIO PARA NÃO HAVER CONFUSÕES) A QUEM TE LÊ MAS NÃO DEIXES Q ISSO TE ESGOTE.
TEM CALMA
;)

Dia disse...

Meninos,
Não sejam naïfs. Escreve-se sempre para agradar a um público. Sempre. E tenho a dizer que estou com saudades do meu anónimo favorito, o do sacrilégio.

MPR disse...

Sempre? Tenho uma amiga que me acusou disso quando o meu blog começou. Não percebi ao inicio, mas fui deixando de me preocupar tanto... os posts são bem diferentes. Não melhores, mas diferentes. Quando falas do homem na tua cama é porque achas que as pessoas que te visitam querem ler acerca de sexo?

Dia disse...

Um querido amigo escreveu aí numa caixa de comentários que isto é o Truman/ Tralha show. O 33.333 diz que se fosse editado em livro não tinha metade da piada, porque, neste caso, o meio é mesmo a mensagem, como diria do McLuhan.
Quando eu escrevo que está um homem na minha cama, quero exorcizar o medo de ter um rapaz decorativo a dormir nos lençóis bordados pelas mãos da minha mãe e, claro, quero fazer um brilharete. Não é à toa que ficou tudo doido com esse post (até o meu inominável favorito, o que trabalha mesmo à minha frente). Porque esstá escrito para todos vocês. Se fosse para escrever só para mim, talvez não saísse tão bem.

Mary Mary disse...

Escrever com o coração e com a cabeça. Simplesmente escrever sem ter em conta o número de caracteres. Lençois e mais lençois. Quem gosta lê, quem não gosta que clike na cruz ali em cima e feche a janela. Ninguém manda em nós nem dizem a qualidade e a quantidade que temos de o fazer. Não te preocupes, continua a ser quem és. Escreve o que te vier à cabeça. Nem mais nem menos... Este quintal é dos meus favoritos e quando os posts são curtos fico triste. Quero mais, quero sempre mais. Mas no dia em que deixar de haver também não me preocupe, tenho o arquivo para me entreter.

Escrever para os outros? Sim e não. Também me dizem isso. "Mary Mary não pode desiludir os seus fãs! Tem que escrever todos os dias!". Ora... Escrevo todos os dias porque se tornou num vício, porque tal como tu tenho enxurradas de posts dentro da cabeça. É claro que podia acabar com as minhas visitas começando a pôr receitas sabe-se lá do quê. Mas escrevo a meu belo prazer, e sim também ligo ao que dizem, quero saber o que as pessoas sentem ao ler o que escrevo. Enfim, podem ser opiniões contrárias aquilo que disse mas é assim que penso...

Toca a escrever... E não é "apenas" um blog. É "o" blog da Dia, é simplesmente único. :)

Giant kiss e sorry pelo testamento. Entusiasmei-me (será que é assim que se escreve. Tendinite voltou a doer ontem e neurinite instalada há um mês!)

Anónimo disse...

mary mary, entusiasma-te que tens razao! :)

Anónimo disse...

Desculpa. Eu não te queria baralhar. Estava apenas interrogar. A pensar um pouco em voz alta à tua frente. Nunca te disse que estes posts não tinham metade da piada quando passados a livro. Puro engano. Não fui mesmo por aí. Nada. O que perguntei foi se achavas que o imediatismo do blog faz com que uma pessoa se sinta um pouco voyeur? Só que as palavras misturaram-se com mexer do chá de baunilha no açúcar. A ordem das palavras misturou-se na tua cabeça. Pensaste diferente. Disse que os mesmos textos num livro davam outra sensação na leitura. Só isso. Exactamente os mesmos textos.
(Agora todos, olhem para mim e oiçam: experimentem imprimir, arrumem-se no vosso cantinho a ler em papel. Fujam do escuro do blog - que é como eu gosto dele -, esqueçam a pressa de querer saber por não aguentar de impaciência. Deixem-no decantar como um vinho.)
Dia, o que eu disse é que o blog me dá a sensação de olhar pelo buraco da fechadura, daí a importância do preto no template.
Disse-te que num livro com os mesmos textos, imagino as pessoas a perguntarem-se sobre a criação de cada cenário, na forma de como cada holofote faz cair a sua luz sobre a acção descrita. Como será ela concebeu esta ideia? Será que viveu?
Disse-te que em livro nasce a dúvida. Ganha força. No blog toda a gente parte do princípio: escreveu/viveu.
Disse-te que para mim este blog é um livro. É. Só que tenho pena que pouca gente o veja assim.
A segunda ideia, essa sim, tinha um pouco mais de cafeína e vinha da anterior, da ideia do sofá, do papel, do cantinho… Ousei perguntar-te: e agora? O que vais fazer?
Falei-te do João Gilberto que está há mais de 40 anos a cantar a mesma canção porque acha que já não tem mais por onde evoluir. Fez um ovo. Redondinho. Já não sai dali.
Perguntei: agora que a escrita está depurada, o imaginário definido, a coragem de te expores tomada… E agora? Nós leitores, os teus leitores, vamos continuar a visitar na mesma a tua casa, assim como quem visita uma amiga? Vais levar-nos a viajar contigo a sítios diferentes? És tu quem vai decidir: escrever a expiação dos males como quem espeta pequenas agulhas debaixo das unhas para se obrigar a reagir? Vamos arriscar em viagens à procura de mundos diferentes? Independente de tudo, nós vamos contigo e é por isso que estamos aqui.

Dia disse...

As minhas desculpas pelo mal entendido, meu querido 33.333.