terça-feira, janeiro 17, 2006

De mansinho

Eram 22 horas e 17 minutos, o episódio do CSI tinha acabado, os assassinos presos, a mulher queimada e grávida do melhor amigo do seu marido abriu um olho, foi a última frame, são quantas frames por segundo?, 16?, 24?, não me lembro, a Magui preparava-se para mudar do AXN para o GNT, a Magui está viciada no canal brasileiro, a malga do caldo verde descansava no meu colo, a Carolina brincava com os gatinhos bébés - é o gatino bébé, dizia, entre os meus automáticos "cuidado Carolina" -, a minha mãe fumava um Português Suave Amarelo e eu ergui os olhos do azulejo do chão que está partido, partido pelo arremesso de um cinzeiro de pedra pela minha filha, e disse: "Foda-se, era tão simples".
E depois levei o polegar e o indicador da mão direita ao início da cana do meu nariz, a tocar no orifício de onde saem as lágrimas, ainda pensei que bom que foi chorar hoje, e no fumódromo, o chefe preocupado comigo e eu a explicar-lhe que no dia em que soube, no corredor, que se preparavam para me sodomizar (a ausência de calão neste parágrafo é para o meu leitor anónimo; já está um asneiredo lá em cima) novamente, depois de eu abdicar da minha filha tantos dias consecutivos, chorei de raiva, chorei sem lágrimas, e eu, chefe não te preocupes, eu agora rio-me, sou incapaz de verter uma lágrima, estou crescida, já chorei muito, mas quando eu estava com o polegar e o indicador como molas da roupa na cana do nariz ainda pensei, numa micro-fracção de segundos, se calhar está entupido, se calhar tenho que beber mais líquidos, mas fechei os olhos, franzi o sobrolho, imprimi mais umas rugas no canto dos olhos, baixei a cabeça, abanei-a para um lado e para o outro, em sinal de reprovação, tudo isto sob o olhar atento da Magui que não estava a perceber nada e que deve ter ficado preocupada porque não lhe expliquei de que se tratava - a Magui sabe que eu tenho um blogue, onde escrevo demais, onde escrevo as histórias sinistras da família que ela de quando em quando vai deixando transpirar pela sua pele muito seca e muito branca, mas não sabe o que é a Internet, já viu, já lhe tentei pegar o bichinho, mas ela não tem tempo, cuida dos gatos, dos cães, dos pombos, dos piriquitos, dos melros e ainda cuida da neta -, e também não vou escrever agora.
Mas acho que estou a dar em doida. Hoje, depois do apagão da memória, abri a conta do Gmail desta tralha, com o intuito de dizer a um leitor que o sigo com muita atenção, que gosto de ver o que os seus olhos vêem, de ouvir as cordas dos violinos que tocam no seu bonito blogue (acho que é o mais bonito que eu já vi) e quando me aparece a inbox à frente dos olhos, surpresa, magia, abracadabra, pim pam pum, e andava eu hoje a queixar-me que os dias andavam muito normais, que nada de extraordinário acontecia desde Sábado, desde o vestido voador que aparece na caixa do céu aos trambolhões para ser estreado numa noite quente, e aparece-me o leitor como que por transmissão de pensamentos, mas antes, antes de abrir o e-mail dei para desafiar o destino, pedi-lhe: dá-me dias menos iguais aos anteriores, por favor, faz isso porque senão eu definho, e faço o login e a inbox tem um e-mail que se chama "de mansinho", foi baptizado por mim, ele fez reply de um mail muito antigo que eu lhe enviei, e repete-me que eu escrevo de uma forma crua e nua, e eu não concordo com o crua, acho que a minha escrita é meia barroca, cheia de folhinhos, de bordados à mão, de rendas de filet, quanto ao nua, é, de facto, a minha imagem de marca, por isso é que há tantos olhos a pairarem por cá todos os dias, porque uma mulher despida é um espectáculo difícil de se resisitir, e eu não sei quem ele é, sei que ele gosta de me ler, que acha que eu sou neurótica, que, às vezes se diverte, e eu apenos o sinto muito próximo de mim, a pisar a mesma calçada que eu piso todos os dias, e o post da Feira de São Mateus e das farturas tem a ver com o seu último post, e eu escrevi-lhe sobre esse post, porque me impressionou logo pela manhã, e como é que eu não me lembrei que era sobre isso que eu queria ter escrito dois posts abaixo. Cansaço? Loucura? Não sei. Mas porque raio é que só me lembrei no final do episódio do CSI?
Estou perturbada. Não consigo escrever uma história interminável esta noite. O post, o próximo, chama-se assim mesmo: história interminável.

8 comentários:

Mary Mary disse...

Ai ai... A pessoa perde-se no meio das linhas que escreves. Há sempre qualquer coisa! Alguns poderiam dizer que eras maluca! Eu digo que és simplesmente tu, simplesmente essa forma de escrever que se torna para nós numa droga e que temos de consumir todos os dias um pouco...

Faz tudo aquilo que queres, chora, grita, sonha, ama, sê feliz... (Hoje tou um pouco lamechas)

E aquilo que disseste no meu blog é um enorme DISPARATE!!! E respondi-te a isso...

MPR disse...

Na televisão são 25, no cinema 24... os frames, por isso é que os filmes na tv têm sempre alguns minutos a menos que no cinema... passam mais depressa e nós nem damos por isso... é como a vida às vezes... É um promenor eu sei... eu gosto de promenores...

MPR disse...

promenor??? santo analfabeto! e repito!! pormenor claro...

Anónimo disse...

Da-se..........tou sem tempo........preciso de melgar alguém e tou sem tempo!!!!!!!!!!!!!!!!!

Mary Mary disse...

Grande música... E o meu nome aparece lá (bochechas a explodirem como tu sabes)... Big Kiss!!! :)

Anónimo disse...

Acabou a ampulheta ou mudou de ampulheta? Que espera, senão curiosidade?

Anónimo disse...

De facto está correcto o que foi esclarecido - são 25 ips (imagens por segundo) em televisão, bem chamados de frames. Mas infelizmente é bem mais violento do que isso. Num segundo o bombardeamento de imagens, ou parte delas, é, electrónicamente, muito acima. Preciosismos, mas os meios são muitas vezes diferentes dos resultados.

Dia disse...

Espero um nome, para alimentar a curiosidade. Está faminta.
E a ampulheta é enorme, há areia para uma camioneta lá dentro.