quinta-feira, abril 28, 2005

Falar do tempo no meu blog não é um bom sinal, pois não?

Hoje à noite vou pensar numa história gira para vos contar.
Ah, já sei!
A história do Sr Rogério e do Rogerinho.
Aguardem.

Boletim Meteorológico

Alguns de vós sabem que eu tenho joelhos meteorológicos.
Lamento, mas vai chover.
Quando cheguei ao Dubai, falei deste dom (que eu preferia não ter) do meu esqueleto, disse ao Lourenço e ao Xico: "Eu sei que é estranho, mas doem-me os joelhos. Acho que vai chover..."
Galhofa total: 40 graus lá fora, 'tás mas é maluca, deve ter sido da viagem (sete horas em económica não ajudaram, de facto).
Mas, dois dias depois, estava a chover no dubai. Torrencialmente.
Vão por mim. Vai chover. E como o São Pedro é um gajo reaccionário, vai chover no primeiro de Maio, para estragar a festa à CGTP.

quarta-feira, abril 27, 2005

Última foto da Leica até eu me lembrar deste duro golpe



Não dormi nada.
A pensar onde é que está, onde é que eu enfiei o CD onde estão as fotos que o Toshiba devorou -lembras-te, Maique, um que tinha as fotos do jantar de Natal da Pandilha, que estava semi-roídoo pela Carolina e que só abria nos computadores da Fotografia? -, revirei a casa inteira até às seis e meia da manhã, depois desisti, tentei vencer a insónia de raiva às novas tecnologias vendo o TV Shop. Estive quase tentada a comprar um "robot" que faz tudo em menos de dez segundos - pica alho e cebola, faz granizados, batidos, molhos, omoletes e muffins -, mas adormeci, entretanto, antes de saber sequer quanto é que ele custava, uma fortuna, de certeza, mas que jeito que me dava uma coisa daquelas. Cheguei ao jornal, vasculhei entre papéis e gavetas: nada, nada, nada.
Era nove da manhã, olheiras negras, costas feitas num oito de ter dormido meia hora em poses contorcionistas no sofá, agarrei na Leica e enterrei-a na sua caixinha prateada. Estás de castigo, minha menina.
Fui buscar a Canoninha, enfiei-lhe um rolo 200 asa de 36 fotos e disparei dez seguidas à minha filhota que dormia de boca aberta, sossegada, sem imaginar que a puta da Leica lhe roubou um mês de fotos.
Estou mesmo magoada.
Mas esta foto está bem gira.
Desculpem lá o ego.

terça-feira, abril 26, 2005

Detesto máquinas fotográficas digitais

Detesto-as!
Há noites assim.
Noites em que penso que, desde que te comprei, Leiquinha, só me dás desgostos.
Primeiro foram as fotos do nascimento da Carolina que a Kodak perdeu - não vai haver nada "para mais tarde recordar".
Hoje perdi todas as fotos de Julho a Setembro da minha boneca. Porque o computador pifou e só desapareceram as fotos da minha filha. Estão lá todos os textos chatos que eu escrevi para a Economia, estão lá todos os mp3 que eu downloadei do bearshare.
Detesto-te, Leica!
Vou voltar à Canoninha. Que nunca me deu um único desgosto. Que tirou grandes fotos, como aquela do menino em Alfama com o santo António nas mãos.

Vendo cinco assoalhadas em Alvalade

A capa da Business Week desta semana é dedicada ao poder dos blogs.
Eu, por cá, vou testar a capacidade comercial da coisa, apesar de saber que os leitores deste blog não são multi-milionários.
São cinco assoalhadas, na esquina da Avenida do Brasil com a Rio de Janeiro - três quartos, duas salas, duas casas-de-banho, duas despensas, uma cozinha (naturalmente); a área ronda os 120 a 130 metros quadrados. É um rés-do-chão com altura de um primeiro andar. Precisa de obras. Custa a módica quantia de 220 mil euros.
Quem quer ser co-proprietário da família Oliveira-Ralha?

Gold Souk



No comments.
Multipliquem isto por 200: é o Gold Souk.

Estranha sinaléctica



Os jockeys dos camelos são crianças, com menos de seis anos, que vão literalmente amarradas aos bichos. As queixas das organizações defensoras dos direitos das crianças são tão ferozes que houve um "idiota" que inventou um robot para o efeito. E esta eu li cá em Portugal. No meu Publicozinho.
No Dubai li que passar pornografia por mms dá 1250 chicotadas.

Mohammed

[Este post tem bolinha encarnada ( encarnada e não vermelha; reparem como eu sou benzoca) no canto superior direito]

Senhor Schindler,
Põe-te a pau: a concorrência desleal não vem só do país onde toda a gente tem os olhos em bico e uma tez amarelada e não afecta apenas os têxteis da comunidade europeia.
Este post esteve em lume brando durante os últimos dias (mil e uma desculpas aos leitores fervorosos deste humilde blog), porque estive a matutar arduamente sobre a possibilidade de o episódio Mohammed ter superado o nosso encontro imediato no elevador laranja.

Deserto de Sharjah.
Safari 4x4 pelas dunas, com um condutor que fala meia dúzia de palavras em inglês e tem uma higiene oral deplorável. Quando estamos a entrar no enorme Jeep, ainda no Garhoud, ele sentencia que eu é que vou no lugar do morto.
Não há discussão: tenho lugar VIP na virtiginosa montanha russa pelos montes e vales de areia do deserto.
Quando a noite cai no deserto e a areia já não queima os pés (fiquei com bolhas nos pezitos, depois de descer uma duna para fazer um xixizinho: "Ai foda-se, foda-se, foda-se! Caraaalhooooooo!", gritava eu, aos pulinhos, duna abaixo, agarrada ao Lourenço, que quase chorava a rir com as minhas figuras) chegamos a um acampamento para estrangeiro ver. Tendas fresquinhas, almofadões no chão, tapetes, muita shisha frutada para fumar, um falcão mixuruca (nem sequer o cheguei a ver), três camelos com açaimes de crochet, tatuagens de henna para as bifas, mulheres gordas, totalmente tapadas a preparem um pão delicioso, uma tendinha para brincar ao Carnaval árabe.
Fomos lá. Para eu vestir a abaia negra, para tapar o rosto e o cabelo.
Foi aí que eu encontrei o Mohammed. Foi ele quem me vestiu o traje que castra as mulheres árabes, a abaia. Foi ele quem me colocou o véu.
A minha história com este Mohammed (há Mohammed's aos pontapés: são os Manéis lá do sítio), que é treinador dos falcões do Sheikh do Dubai (que também se chama Mohammed), e que nos tempos livres é piloto de automóveis potentíssimos, que ele próprio transforma, resume-se ao véu negro transparente com o qual ele me tapou a cara.
Foi uma tarefa difícil, colocar o véu. Tenho cabelo a mais.
Agarrou numa grande madeixa de cabelo e, como quem acaricia o pelo sedoso de um gato, disse: "You have beautiful hair". Três ou quatro dias antes, alguém me tinha dito o mesmo.
Mais tarde, quando eu já tinha as mãos tatuadas de henna, o Mohammed bichanou-me ao ouvido que não devia mostrar a toda a gente o meu cabelo. Que o deveria guardar para alguém especial. (Para o tal, que me disse que o meu cabelo era bonito?, pensei eu...)
O cabelo está vaidoso, agora, ninguém o atura. A minha cabeleira andava cabisbaixa, havia um complot montado, toda a gente sentenciava: tesoura! Agora, depois de dois piropos capilares, vamos adiar a visita ao meu guia espiritual, o meu cabeleireiro gay.
Tive que prender o cabelo com um elástico, domá-lo, para facilitar a tarefa do Mohammed. Numa tenda escura, o árabe moreno de sorriso franco, colado às minhas costas, apertou-me o véu como um espartilho, tapou-me a cara, deixou só os olhos à vista.
Um ritual muito erótico, garanto-vos.
Já de frente para mim, enquanto retocava a posição do véu, e com um pátuá típico de árabe, sorriu e disse: "beautifull eyes too".

"Wait here".
Olhei para o espelho, gostei do que vi.
Percebi imediatamente porque é que os homens metiam conversa comigo na rua em árabe e porque é que as mulheres olhavam com desprezo para o meu cabelo, como quem diz: "Porca! Porque é que estás com o cabelo destapado?"
O Mohammed voltou ao interior da tenda com uma abaia branca, bordada a fio de prata. Insistiu que eu despisse a veste negra que ele acabara de me colocar no corpo para vestir aquela outra.
Despiu-me e vestiu-me mais uma vez (obviamente que eu tinha umas calças e um top por debaixo da abaia; não façam grandes filmes pornográficos, foi tudo muito subtil, muito suave e até respeitador), estava a esconder as pontas do véu negro da cabeça por dentro da túnica branca, quando me acariciou o seio esquerdo.
Abri muito os olhos - a única coisa da minha cara que estava à mostra -, pensei: "foi sem querer, nem deu pelo que acabou de fazer", mas ainda estava a meio deste pensamento, quando o Mohammed me voltou a apalpar a mama.
Não espingardei, disse em português ao Lourenço, que estava uns metros ao meu lado, também a ser vestido de Yasser Arafat, que o árabe me estava a apalpar, rimo-nos alto e foi um dos momentos mais eróticos na minha vida.

Mas, senhor Schindler, continuas à frente.

Nothing compares to you.

quarta-feira, abril 20, 2005

Viciada



Eu tinha resistido à tentação. 35 dirhams, uma pechinha, qualquer coisa como sete euros, feitos à mão, brilhantes, uma delí­cia, confortáveis. Os pés doíam-me como o caraças - fui de sandálias de salto alto para uma tarde nos soukes do ouro e dos tecidos -, mas resisti-lhes.
Ainda fiquei algum tempo a olhar para uns pequeninos, para a Carolina, mas não a quis iniciar nesta droga, quando ela ainda nem sabe verbalizar mais do que uns "mãmã".
Mas depois vem o senhor Maique, cm os seus comments geniais, que me fazem sorrir com sabor a água fresca, a insinuar que eu venho com a mala cheia de sapatos e eu, pronto, estava mentalizada que era hoje que eu ia comprar um ipod mini verdinho, mas cheguei à loja e não foi desta - estavam esgotados, os verditos, havia turquesa, mas eu queria mesmo era o verde e então comprei dois sapatitos destes, das mil e uma noites. E um volume de Gudang Garam Professional, por menos de cinco euros...
E a culpa é toda sua, senhor Mikel. Dos Gudang, mas, sobretudo dos sapatos.
A aventura das Arábias acaba amanhã.
Valeu muito a pena.
Sabe bem ter-te por perto. Mesmo que num mundo diferente, que não é, com certeza o meu.

Entrada de post retardada - há um senhor, por quem eu estive deslumbrada, o tal que já era, que tem um mini ipod cor-de-rosa... Tristeza...

terça-feira, abril 19, 2005

Feira das vaidades

Está quase a terminar, a aventura das arábias.
Se quiserem ficar com o ego na merda aconselho-vos este lugar. É o paraíso da beleza.
A Sónia - que me assegura o Miguel: "nem está nada deprimida como o que é habitual" - diz-me: "Faço diariamente a lista das coisas que tenho que fazer. Manicure, pedicure, depilação. O meu dia é isto".
A Sónia quando vivia em Lisboa andava de ténis, calças largas. Parava na Bicaense e no Suave. Fumava ganzas e bebia copos. A Sónia, quando vivia em Lisboa, não depilava todo e qualquer centímetro quadrado do seu corpo.
Eu detesto pelos, mas aqui abusa-se. Faz-se waxing em todo o lado. A Sónia, ontem, tinha os braços cheios de borbulhinhas de pus, porque também tira os pelos dos braços. Chorei a rir com a mímica e ginástica que a Karen faz a explicar como se processa a depilação dos seus genitais.
Aqui, o que parece é.

sábado, abril 16, 2005

Julgavas que eu ia escrever sobre ti?

Passaste a vir aqui diariamente.
Com medo que eu conte? Que eu diga?
Eu não escrevo sobre ti.

Mini-post

Tenho muitas saudades. Muitas mesmo. E tenho novos visitantes por este blog. Mais um Safari...
Maique, não vi nenhuma surpresa no browser... Do que falavas?

sexta-feira, abril 15, 2005

O post das arabias

Nao tenho til, nao tenho acentos nenhuns, na verdade. Nem ces cedilhados.
Ja tenho uma historia para contar, mas recuso-me a escreve-la sem a adequada pontuacao. Amanha, se o computador do Lourenco decicir funcionar - sao tres da manha locais e estou no quarto do flat mate lindo de morrer dele (ele esta a dormir, insistiu que eu viesse para o seu quarto utilizar o portatil, tao angustiada que eu ando hoje por nao arranjar maneira de vir aqui ao pasquim) -, la vos contarei a historia do Mohamed.
Ate a esse momento, que Ala esteja convosco.

terça-feira, abril 12, 2005

http://o_vring_ja_era.blogspot.com

Só perdeu quem não me amou.

[O próximo post vai ser escrito nas Arábias. Até lá]

domingo, abril 10, 2005

Dia D

[Seguem, dentro de algumas horas, as prometidas histórias. Hoje só me sai este]

sexta-feira, abril 08, 2005

Explicações

Caros leitores,
Eu sei que não vos devo explicações, mas a minha falta de assiduidade esta semana aqui pelos lados da (T)ralha angustia-me.
O outro, o tal que a Inês Pedrosa citou na sua crónica de há quinze dias no Expresso, diz no seu blog para não se admirarem pela balda de textos e imagens, mas é que está apaixonado e não quer partilhar aquele amor com ninguém.
Comigo é ao contrário. Escrevo melhor quando ando com os amores. Quero contar ao mundo todo.
Não esqueci o Vring, mas já só penso nele quando a noite já vai alta.
Tenho muitas histórias para contar, muitas mesmo. Histórias de amor. Não minhas, de outros, mas é o melhor que se arranja...
Fiquem atentos. Vai haver novidades assim que acabar uma notícia que não quer ser parida.
E perdoem-me a ausência.
Dia

quarta-feira, abril 06, 2005

Experiência Mac Velhinho

Não liguem a este post. É apenas: "um , dois, três: experiência". É que o meu portátil continua em coma, eu não fiz olhos de bambi ao informático do cabelo de caniche e ele, passados dois meses de eu lhe ter levado a criança para as urgências, só hoje é que acordou para o problema...
Mas isto até é giro, com o Mac velhinho, pelo menos agora, que tenho um teclado novo, excelente, que não preciso de o mutilar para lhe arrancar umas letritas.
E depois já tenho tudo o que preciso: já há Gmail para browser jurássicos (eu estou a escrever-vos estas linhas com o MSIE 5.16) e o Maique arranjou aquela coisa extraordinária do Mac Messenger, quando se viu preso a um power book lindíssimo, mas ultrapassado.
O Blogger deixa-me bloggar, mas não me aparecem as opções de formatação do texto, logo, não faço ideia se conseguirão ler estas linhas, ou pior, se as lerão em Times New Roman...
Como sempre, já me alonguei demais.
Um, dois, três: experiência...

terça-feira, abril 05, 2005

Nina, eu tenho nojo de mim!

02h54m
Pleno Bairro das Colónias, o conta quilómetros marca 10290 (a laranja, claro, os quilómetros e as horas). A Carolina dorme o sono dos anjos, na cadeirinha colocada atrás do lugar do condutor. Está tudo em silêncio. Apenas se ouve o ronronar do meu motor 1.3 Multijet e o barulho do papel do meu cigarro a arder.

De repente, um homem, preto como a noite sem luar, repete esta frase, totalmente desesperado: "Nina, eu tenho nojo de mim, Nina eu tenho nojo de mim!".
O sinal fica verde, eu sigo o meu caminho e ainda olho o homem pelo retrovisor, agachado, com o auscultador do telefone público no ventre. Passo pela rua do ex tsunami só porque sim, para variar o caminho, não porque tenha esperança ou desejo de o reencontrar.
Porque é que teria tanto nojo dele próprio?

segunda-feira, abril 04, 2005

Carlos Augusto Stucky

O homem do googalize it, quando googaliza o seu nome não aparece nada. E ele googaliza-se amiúde, como eu: é sempre bom saber o que dizem sobre nós no imenso ciberespaço, porque somos como o outro - gostamos que falem sobre nós nem que seja para dizer bem - , mas o segredo do sucesso de pessoas incómodas como eu e o Carlos Augusto Stucky, é saber sempre o que os outros sussuram (ora aqui está um verbo que eu amo: o sibilante "sussurrar", quase impossível de dizer sem lançar uma chuva de perdigotos - outra palavra bem gira - quando se usa aparelho nos dentes) sobre nós.
Nicles. Rien. Népia.
Ele já me tinha avisado do seu anonimato electrónico, confessou-o com alguma tristeza embargada na voz, nas escadinhas tranquilas e recatadas numa travessa perto do Bicaense, enquanto fazia um cigarro de substâncias ilícitas, à holandesa (já cá faltava, parece que esta nacionalidade me persegue desde o Natal), especialmente para a Qui Qui.
Parece impossível que este brasileiro, natural de Porto Alegre (o Estado mais rico do Brasil), 43 anos (parece, no máximo, ter a idade inversa, lida ao espelho, 34 anos), nunca tenha sido citado numa qualquer webpage dos milhões e milhões existentes na Internet. É que ele, e a vida de capote errante que escolheu, davam, pelo menos, uma hilariante sitcom.

Naturalmente, Stucky, se eu me deixar desta vida de escrever sobre buracos nas estradas e espaços verdes ao abandono, e me dedicar a escrevinhar textos (livros, argumentos, crónicas, seja lá o que for) não só para as duas dúzias de leitores deste blog (grandes leitores, diga-se de passagem: o que importa não é a quantidade, mas sim a qualidade, e a propósito, fiquei meia encabelada de o meu irmão ter declarado, a meio do almoço de família de Domingo, que cá vem espreitar, que gostou do texto do papiro, porque, enfim, não lhe chego aos calcanhares, e agora até tenho medo de escrever), tu serás uma das minhas melhores personagens, com certeza, uma das minhas predilectas.
Eu conheci o Carlos Augusto Stucky em Olinda, Pernambuco. Num restaurante lindíssimo, com vista para um manto de buganvílias magenta, que enquadravam lá longe Recife e o mar. Minutos antes de o conhecer, numa praça também em Olinda (que é mesmo linda, património mundial da Humanidade, reza a história que se chama Olinda, porque quando foi decoberta alguém exclamou: Oh, linda!"), dois velhotes nordestinos, rugas esculpidas numa cara muito bronzeada, cantaram-me uma ladaínha em troca de alguns reais e vaticinaram uma grande paixão com o rapaz que estava a comprar duas cervejas Brahma.
Gordinho, com pouco cabelo, mas com uma gargalhada idêntica à minha, o Stucky conquistou-me quando, em Maria Farinha, no Hotel Amoaras, propriedade de um português seboso, sobejamente frequentado por putedo (o Hotel, não o proprietário seboso), ao abrigo das conhecidas rotas do turismo sexual do nordeste brasileiro, disse, para todo o mundo ouvir: "Atolei o pé na merda!".
E tinha mesmo, literalmente, atolado o pé na merda. Maria Farinha e o hotel Amoaras eram uma lixeira a céu aberto, eu deveria ter desconfiado que o romance que os velhotes cantaram acompanhados de um violão não podia correr bem, por ter começado ali, num quarto em que o ar condicionado parecia estar com problemas gástricos.
Era talvez o quarto dia em que eu não conseguia dormir. Por causa do calor, por causa das noites que passávamos a dançar forró, por causa das pessoas encantadoras que acabáramos de conhecer: a Bia, do ministério do Turismo, depois o Stucky, que se pendurou à "colectiva" de imprensa que foi conhecer Pernambuco a convite da TAP e do Governo pernambucano (o Stucky trabalhava para um operador turístico italiano), e já na recta final da viagem (os melhores momentos daquela viagem em que eu vim magríssima e a achar que tinha encontrado um grande amor - sou sempre a mesma idiota...), a Valéria e o Tio Dá Dá, nossos anfitriões no paraíso ao qual deram o nome de Porto de Galinhas.
Queria absorver tudo - o meu brasilian dream, como eu lhe chamei num álbum de fotografias que não ouso desfolhar há pelo menos dois anos. Dormir estava fora de questão.
Passámos essa primeira noite no Amoaras, a rir à gargalhada com as histórias do Stucky, entre banhos de piscina, dezenas e dezenas de caipirinhas, e incontáveis maços de Carlton. O Stucky tem esse condão, de ser o centro das atenções, um magnetismo inexplicável - a Qui Qui que o diga, jantou com o homem e esteve com ele meia dúzia de horas e agora passa o dia a gmailar-me: "Quando é que escreves sobre o Stucky, quando é que escreves sobre o Stucky?"
Mais de três anos depois daquela viagem maravilhosa a Pernambuco, eu raramente falo com os jornalistas que descobriram aquele Estado do nordeste brasileiro comigo. O homem a que a ladaínha dos velhotes de Olinda se referia, para além de ter um grave problema de erecção no pouco tempo em que esteve comigo, casou-se com outra poucos meses depois.
Fui mantendo algum contacto com o Stucky pelo Messenger, mas ele seria apenas uma boa recordação no baú do meu brasilian dream, se a minha vida e a dele não tivessem dado umas cambalhotas, seguidas de piruetas e mortais encarpados - eu grávida de um pulha e ele órfão de pai e mãe.
Reencontrámo-nos, mais uma vez, com a bênção do software da Microsoft, e o mar trouxe-o até a mim. Já por duas vezes.
Chama-nos fadinhas, a mim e à Carolina, e sabe-me bem, saber que há alguém, algures no meio do Atlântico, que gosta de mim incondicionalmente, tal como sou - insconstante, mais depressiva que maníaca. Disse-me para nunca perder o dom de me apaixonar com a violência de um vírus terrível. Que me hei-de dar bem.
A ele, sabe-lhe bem ter um porto seguro numa cidade tão bonita como a de Lisboa. E vai-lhe saber bem, da próxima vez que se googalizar. Espero que gostes, Stucky.