quarta-feira, março 30, 2005

Papel higiénico preto: sim ou não?

[Este post é dedicado ao Enric Vives-Rubio, fotojornalista, que fez o seu terceiro serviço comigo e, mais uma vez, era uma cagada monumental - primeiro foi o buraco que tinha sido tapado, depois os cartazes em Campo de Ourique que não existiam e agora o buraquito na Infante Santo. Eu não me esqueci e sei que te devo, pelo menos, uma refeição]

A Renova, uma das minhas empresas favoritas, uma das empresas sobre as quais eu escrevia quando era uma jornalista à séria, quando falava com ministros, banqueiros e dirigentes sindicais (e não perdia o meu tempo a escrever sobre buracos que na Lusa tinham dois metros e, in loco, tinham apenas 50 centímetros), acaba de lançar um novo produto: depois do papel higiénico com creme hidratante, do papel higiénico húmido (Dodot's para gente crescida), eis que eles se passaram de vez (o administrador da Renova é um indivíduo com muita piada, louco, visionário e igual ao Mr Bean) - o papel higiénico preto.
Eu, até agora, sou a única pessoa que acha uma grande ideia. Vai ficar a matar com a minha casa-de-banho laranja e, além disso, toda a gente sabe (ou devia saber) que o papel branco faz mal ao ambiente (o branqueamento do papel é extremamente poluente) e as outras cores "pastel" (rosa, pêssego e azul) são, literalmente, cores de ir ao cú.
Digam de vossa justiça!

Esticada, bem esticadinha, já a doer, a minha mão alcança uma oitava e quase três teclas de marfim - 22 centímetros, não está mal, nada mal mesmo, informalmente, sem nenhum compromisso, entreti-me durante anos a esticar o meu palmo, em exercícios forçados, na esperança de começar a qualquer instante a tocar piano.
Hoje dizes-me que foi a oitava vez, e eu só me lembro de teclados de piano.
Recortei tantas vezes o anúncio do Expresso, há um professor de música que, semanalmente, lá publica um anúncio: diz que ensina ao domicílio, eu acho sempre que é muito caro, que não tenho dinheiro, que sou muito velha, que, de certeza, não terei jeito para a coisa.
Vou amontoando os recortes, mas pode ser que, por me teres dito que foi a oitava vez, eu ganhe coragem.

domingo, março 27, 2005

Rewind

Hoje não quis saber da seca, da poupança de água, do gado moribundo e esquelético no Alentejo, ou das laranjas caídas no chão árido, praticamente mumificadas pela falta das duas moléculas de hidrogénio e uma de oxigénio, no Algarve.
Hoje demorei-me no duche, pela primeira vez em muito tempo, estive quietinha, quase imóvel, a contar os azulejos de 1,5 por 1,5 centímetros da minha minúscula casa de banho, água a escaldar, a pele muito encarnada a queixar-se, os dedos enrugados e, de repente, do nada, ou melhor, talvez porque hoje é Domingo de Páscoa, é dia de ressurreição, fecho os olhos esborratados pelo rímel que não tirei de madrugada, e vejo-o nitidamente, a olhar por debaixo do sobrolho, enorme, gigantesco, a esconder-se atrás das cortinas brancas com peixes laranjas da sala, a brincar com a Carolina, impecavelmente vestido, fato da Boss - uma visão agradável, uma imagem que gravei antes de dizer: "Esta é a altura em que tu foges, depois de conheceres a minha filha" (e ele respondeu: "eu não fujo", eu tenho a certeza que ele disse isso, depois de fumarmos os Gundangarans que o Maique me deu, não foi uma alucinação).
Voltamos à estaca zero, é uma imagem bonita, garanto-vos, lágrimas misturadas com a água do chuveiro, escondidas por um manto de nevoeiro de vapor.
O que o elevador do parque do Camões, apinhado de holandeses, faz a uma miúda.
Rewind.

sexta-feira, março 25, 2005

Fast Forward


Nome comum: Papiro

Nome científico: Cyperus alternifolius

Família: Cyperaceae

Categoria: Vivacias

Origem: Africa tropical (sobretudo Egipto).

Folhagem: Persistente

Floração: Final do Inverno (flores brancas, deliciosas)

Altura: Entre 2 e 4 metros

Crescimento: Rápido

Transplantação : Primavera (através da divisão dos seus rizomas)

E, se de repente, numa bela tarde de Sábado (em que não comprei sapatos, mas na qual gastei o equivalente a um bom parzito de stillettos Pura Lopez em dois trapitos da cadeia do melhor amigo do Ingvar Kamprad, dono do IKEA), era dia do Pai, depois de ter descido o Chiado, de ter batido de trás para a frente a Rua Augusta e a Praça da Figueira

(que está cheia de putas por todo o lado - eu dizia, atónita, à Mónica, que mais uma vez me passeava, numa tarde de Sábado: 'não, não pode ser, as senhoras devem estar à espera de alguém, de boleia...' e ela, naïf como eu, balançava a cabeça para a direita e para a esquerda, como quem pondera o 'talvez', mas o raio das mulheres, que até tinham muito bom aspecto, insistiam em dobrar a perna de encontro às fachadas dos prédios pombalinos onde eu gostava de morar e agumas até tinham banquinhos desmontáveis e as mais pobrezinhas improvisavam-nos com caixotes de madeira, aqueles onde vem acondicionada a fruta, à espera de clientela),

dizia eu, se em plena Praça da Figueira, depois de ter descido ao submundo do Martim Moniz, onde se falam todas as línguas menos a portuguesa e onde eu até me misturo incógnita, sem destoar, pela herança genética que carrego e que está estampada na cara, para encontrar um ATM que não estivesse "Em Actualização", ou "Com dificuldades de comunicação", e que regurjitasse, com a satisfação de dever cumprido, uma nota de dez euros, para comer um croissant na Confeitaria Nacional, onde eu nunca tinha entrado na vida, mas onde a minha querida Astride queria satisfazer a gula. "São maravilhosos", disse ela acerca dos ditos croissants (os melhores que eu já comi são na esquina do Dave), depois de ter gasto também um dinheirão em roupa (o top de seda azul petróleo ficou-me no goto).

se, numa tarde até calma, cinzenta, ameaçando chuva, se depois de tudo isto, nos aparece à frente um indivíduo muito moreno, vestido de preto, cabelo cor-de-prata encarapinhado e com três papiros com mais de dois metros de altura na mão, tenham medo, tenham mesmo muito medo... - conseguiram entrar no vórtice que é a minha vida, um mundo onde acontecem as coisas mais bizarras e inéditas (e desta vez eu tenho testemunhas, a Mónica viu tudo, pode atestar que não sou eu quem inventou ou sonhou com o homem dos papiros).

Fomos atraídas, ao mesmo tempo, para a exótica vegetação, que se assemelha a uma cabeleira postiça verde. Os meus olhos subiram, perfeitamente sincronizados com os da Mónica, à altura dos gigantes papiros e desceram, também, na mesma fracção de segundo, com a curiosidade louca de saber que vagabundo excêntrico era aquele que medingava por trocos, apoiado em três papiros (eu sabia que eram papiros, a Mónica desconhecia o nome da planta). Ao mesmo, os nossos queixos caíram e das nossas bocas esvoaçou a frase: "Olha, é o meu (ela disse 'o teu') pai".

Olhei para o Zé Ralha e naquele instante em que franzi a testa e fiquei com a ruga de expressão igual àquela que ele tem entre as sobrancelhas, fui transportada em fast forward para um futuro não muito distante. Um futuro em que o Zé Ralha já não tem o meu avô a amparar-lhe os golpes baixos, um futuro em que terá estoirado em menos de um ano todo o dinheiro que recebeu de herança - em papiros e noutras espécies exóticas (a quinta do meu avô tem mais espécies vegetais que o Jardim Botânico) e, claro, em vinho e whiskey -, nessa altura, ele estará ali, algures entre o Rossio e a Praça da Figueira, mais cabeludo, admito, com grandes barbas prateadas, imagino, talvez a fazer uns desenhos porreiros em troca de um copo três, prevejo.

E, nessa altura, tal como fiz nesta tarde em que se comemorava o dia do Pai, entrarei, sem olhar para trás, sem hesitar, na Confeitaria Nacional, para comer um croissant.

quinta-feira, março 24, 2005

Haunted

IP: 81.193.137.138
ISP: Telepac
Browser: MSIE 6.0
OS: Windows XP

IP: 192.168.15.60
ISP: Private IP Adress Lan
Browser: MSIE 5.23
OS: PPC

Dois Ip's. A mesma pessoa - aquela que pôs a (T)ralha em 'watchlist'. E que mesmo recebendo os 'updates' deste blog no e-mail cá continua a vir dezenas de vezes. Sou mesmo importante. Devo escrever mesmo bem.

quarta-feira, março 23, 2005

Wanted

IP: 81.193.80.148
OS: Mac OS X
Browser: Safari 1.2

Who are you?

Dão-se alvísseras a quem descobrir.

Braces



5 de Maio. Está marcado. 5 de Maio: braces out!

[Foto: DQ ou JCC - não sei ao certo - versão reduzida by MMM]

terça-feira, março 22, 2005

50

If I should die this very moment
I wouldn't fear
For I've never known completeness
Like being here
Wrapped in the warmth of you
Loving every breath of you
Still in my heart this moment
Or it might burst
Could we stay right here
Until the end of time until the earth stops turning
Wanna love you until the seas run dry
I've found the one I've waited for
All this time I've loved you
And never known your face
All this time I've missed you
And searched this human race
Here is true peace
Here my heart knows calm
Safe in your soul
Bathed in your sighs
Wanna stay right here
Until the end of time
'Til the earth stops turning
Gonna love you until the seas run dry
I've found the one I've waited for
The one I've waited for
All I've known
All I've done
All I've felt was leading to this
All I've known
All I've done
All I've felt was leading to this
Wanna stay right here
'Til the end of time 'till the earth stops turning
I'm gonna love you till the seas run dry
I've found the one I've waited for
The one I've waited for
The one I've waited for
Wanna stay right here
'Til the end of time 'till the earth stops turning
I'm gonna love you till the seas run dry
I've found the one I've waited for
The one I've waited for
The one I've waited for

Como é que eu só descobri esta canção hoje?
É a faixa 50 do CD que o João me fez - o Yep -, um CD para ouvir em "random", disse-me ele. Eu não obedeci. Ouvia as músicas de enfiada, por isso, nunca cheguei à 50.
João, era esta a música que procuravas no meu CD de Lamb? Na noite em que fomos comprar as pizzas com a Diana?, na noite em que eu estava desfeita?, na noite em que a pandilha bébé cuidou de mim?, na noite em que entrámos clandestinos num prédio da avenida João XXI para deixar um recado por debaixo de uma porta? [Já pensei fazê-lo outra vez, confesso, mas se não resultou daquela vez, porque haveria de ser agora?]
"Andamos desencontrados", escrevi eu numa cobarde sms, às tantas da manhã, quando vinha de tua casa, João, depois de ter estado com a Qui Qui mais de uma hora sentadas num banco de jardim a ouvir Yann Tiersen do Ipodezinho lindo. Às vezes há estacionamento à porta, há luz na janela da sala que eu conheci clandestinamente, num sábado em que fui feliz, num sábado em que se eu conhecesse esta canção, de certeza lha teria cantado enquanto conduzia o Idea até Campolide - 'come on baby light my fire': o Ritzenhoff que eu lhe dei, em cima do estirador, na sala, ainda na caixa, intocado, abri o fecho de metal da caixinha de madeira e lá dentro o envelope pequenino, com a minha letra também miudinha; ainda procurei a tela laranja com uma sinaléctica que é a a nossa história, mas não a encontrei, não devia ter estado ali sem permissão, eu disse-lhe que esperava lá fora, que não queria subir, mas aquilo deve ter sido um qualquer capricho 'kinky' holandês e, por isso, eu sei que os azulejos da casa de banho são pretos, raiados a branco -, e eu quero parar, tocar para o cabeleireiro para me abrirem a porta como da outra vez, e fazer as pazes com aquela casa, fazer as pazes com o dono daquela casa.
Hoje lembrei-me do "random", não sei porquê, não gosto do "random", as coisas têm um princípio, um meio e um fim, eu gosto de saber sempre o que vem a seguir. Mas o desconhecido é como uma droga: abre-nos o mundo de mão beijada, faz-nos explodir para lá do que achávamos ser possível. Eu não queria estar aqui, a escrever uma não-notícia sobre a concessionária das travessias do Tejo. Queria deixar um rasto de zigue-zagues na areia molhada, queria estar no telhado da minha casa e abraçar toda a cidade. Queria jogar às escondidas num campo de girassóis, queria estender lençóis brancos ao sol com molas de madeira e deixá-los a corar. Queria o silêncio dos corpos cansados. Queria contar sardas, comparar cicatrizes de guerra.
Esta canção leva-me a todos estes sítios. E a mais alguns. Que eu não conto.
Eu hei-de cantar esta canção. Esta e o "Por toda a minha vida".
No dia em que te descobrir.

segunda-feira, março 21, 2005

STOP!



Jantar da mini-pandilha. Memorável. Tão memorável que estreia os posts fotográficos deste blog (sem ter a mania que sou artista, que percebo alguma coisa de fotografia - não há cá arrastados, nem desfocados pseudo-intelectuais; apenas grão, porque gosto de grão nas fotos, na sopinha e vai muito bem também com bacalhau cozido)

quinta-feira, março 17, 2005

A lista de Schindler

O elevador de que vos quero falar não é Schindler - é da marca Otis. Esta fatalidade estraga-me o 'gague' do título do post, mas não lhe resisti. Tontinha...
O elevador de que vos quero falar tem uma enorme superfície vidrada, do lado esquerdo de quem entra. À direita, é laranja - a cor favorita da pandilha - e nessa imensidão cromática, existe, centrada, a consola de botões prateados, que vão do menos quatro até ao sexto piso. O sistema de ventilação do elevador de que vos quero falar está marado há não sei quantos meses, faz um zumbido irritante, agudo e claustrofóbico.

Eu sei todas estas coisas sobre o elevador de que vos quero falar, porque, para mim, este espaço tornou-se um local de culto. O elevador de que vos quero falar mudou a minha vida.
Ele não sabe. Todos os dias o apanho - ora a ele, ora o seu vizinho da esquerda, que não zumbe como o elevador de que vos quero falar. Todos os dias partilho silêncios comprometedores com os demais passageiros. Olhamos para o espelho, para o chão, para as mãos, para os pés, eu não sei assobiar, mas, se soubesse, trauteava uma qualquer melodia "pan pipes", ao melhor estilo centro comercial do Belmiro de Azevedo.
Não sei dizer com precisão a data em que o elevador laranja mudou a minha existência. Eu não tenho psicopatias ou fixações com datas - as únicas manias com números são só mesmo as capicuas e os ímpares. Sei, porém, o que tinha vestido. E calçado, naturalmente - umas sandálias beige, lindas, da Fendi, que os passeios de Lisboa arruinaram pouco tempo depois deste episódio Otis.
Foi no Verão passado, depois dos meus anos, provavelmente em Agosto, porque tinha vestido o "cache coeur" salmão de tricot que a Catarina me ofereceu pelos meus 26 anos. É uma peça de vestuário interessante, com um decote até ao umbigo, e eu lembro-me que nessa tarde eu estava a sair bastante mais cedo porque já não aguentava das mamas, carregadas de leite - o lanchinho da minha filha Carolina. Mas a única coisa interessante em mim, nesse dia, era só mesmo o decote que transbordava (e pingava, tenho que vos confessar) com as minhas mamas de vaca leiteira tamanho 38.
Nesse dia não. Minto. Todos os dias. Não havia nada de interessante em mim para além do gigantesco peito firme. Porque eu não queria. Porque eu não me dava ao trabalho. Porque eu achava que não valia a pena. Porque estava gordíssima, porque a única coisa que me interessava era a minha filha Carolina, porque já não me pintava, porque o cabelo enorme e bonito estava sempre preso e escondido num rabo de cavalo. Porque estava fechada para balanço. Porque assim ninguém dava por mim. Porque assim ninguém me faria sofrer. Porque assim ninguém me desconcertaria.
É sempre assim. É sempre quando menos se espera.
Chamei o elevador: abriu as portas, vazio. Carreguei para o zero, rumo à saída. As portas abriram-se, eu disse-lhe 'Olha, o homem que eu andava à procura' (referia-me a um trabalho). Ele não me deixou sair. Chegou-se perto demais, desrespeitando todas as distâncias mínimas de segurança e disse: "Não passa desta". Empurrou-me para um canto do elevador, encostada ao espelho. Ficou tão perto que lhe senti, na respiração, a cerveja que tinha acabado de beber.
Este foi o momento mais erótico da minha vida.
Já fizemos uma boa meia dúzia de viagens de elevadores interessantes - as coincidências existem mesmo, não acreditem em quem vos quiser convencer que não, porque estou sempre a apanhar o sr Schindler sozinho no elevador que zumbe baixinho.
Ao senhor Schindler, que me acordou de uma transe, que me fez sentir bonita outra vez: um grande bem haja!

Cherry blossom girl

Jacintos em flor, tulipas em flor, cactos da Páscoa em flor, antúrios em flor.
Todos decidiram florir hoje.
Só falto eu.

quarta-feira, março 16, 2005

"Os outros. Nem imaginam..."

[As noites, com o maique a iluminar o escuro da net são assim. os 'outros', nem imaginam..."]

cherry blossom girl says:
como pude sofrer tanto?
nao dou mais para esse peditório
maique says:
pq eh assim mesmo
cherry blossom girl says:
eu sei q ele n merece
maique says:
as pessoas querem acreditar
e acreditam...
cherry blossom girl says:
amanha apago-o outra vez
ele fez-me acreditar
maique says:
e depois chega uma altura em q percebem q n vale a pena
eu sei
a mim tb
cherry blossom girl says:
eu n apaguei os mails dele para saber sempre isso
q ele fez-me acreditar, que eu não inventei nada

q n tive alucinações
maique says:
eu apagava
jah acabou
cherry blossom girl says:
arquivei-os
maique says:
se os deixas ficar
ainda voltas a ler
cherry blossom girl says:
tirei-os do inbox
maique says:
e eh capaz de te deixar triste outra vez
se os apagares nunca mais os podes ler
cherry blossom girl says:
ainda n estou preparada
maique says:
eu prefiro apagar
rapido
cherry blossom girl says:
talvez para a semana
maique says:
e nunca mais pensar neles
cherry blossom girl says:
vou tentar
maique says:
vemos p a semana...
mas eu apago logo
e depois
ahs vezes
tenho pena de o ter feito
cherry blossom girl says:
apaguei a foto dele do meu telem
maique says:
mas
como jah estah feito
cherry blossom girl says:
essa custou
maique says:
n se pode voltar atras
cherry blossom girl says:
n devemos apagar o passado
maique says:
fotos ha muitas
n apagas
simplesmente n deixas
q ele volte p te assombrar
cherry blossom girl says:
nao volta
maique says:
comigo eh assim

cherry blossom girl says:
ter falado c o D no teu dia de anos fez-me ver

a figura de parva q eu andava a fazer
maique says:
se fazes as coisas de outra maneira
eh contigo
n andaste a fazer figura de parva
acreditaste
cherry blossom girl says:
qdo o proprio do gabiru disse: eu sou mto amigo dele

mas sei dizer quando as pessoas se estão a portar mal
maique says:
olha a figura de parvo
q eu andava a fazer
se as coisas n dessem certo!
cherry blossom girl says:
tu disseste-me o q o D disse milhares de vezes
maique says:
mas acreditei
cherry blossom girl says:
e eu n liguei
maique says:
eh sempre mais complicado ver as coisas qd se estah do lado de dentro
cherry blossom girl says:
arranjava desculpas para as atitudes dele
maique says:
e, por mais q as pessoas digam,
temos de ir lah sempre partir a cara
e o coracao
eh assim
cherry blossom girl says:
aquela noite no bicaense... estava c o coração despedaçado

com a revelação do D.
maique says:
mas
qd as coisas correm bem
ninguem se diverte mais do q nohs
cherry blossom girl says:
É o estado de graça total!

maique says:
os 'outros'
nem imaginam
cherry blossom girl says:
A sorte ha-de mudar
maique says:
sim
cherry blossom girl says:
pois nao, não sabem como é
maique says:
muda sempre
cherry blossom girl says:
olha q coisa bonita
este nosso dialogo
vou copiar para o blog
maique says:
entao ?
cherry blossom girl says:
"os outros"
maique says:
eh apenas a conversa de dois romanticos
Os outros, os q n sao romanticos
cherry blossom girl says:
"nem imaginam"
maique says:
sao uns tontos

José Lourenço (ou a minha primeira Barbie)

[O Blogger anda cheio de fome - comeu este post, tive que o reescrever e não ficou tão bom como o original: merda!]

Quem oferece a primeira Barbie a uma menina marca para sempre o seu destino - tenham isto bem presente.
Quem me ofereceu a minha primeira Barbie foi o meu tio, José Lourenço. Eu tinha seis anos, estava desdentada, e as Barbies tinham acabado de chegar a Portugal.
Todas as meninas tinham uma Barbie Tropical - a mais barata e mixuruca delas todas: vinha vestida apenas com um fato de banho e um pareo amarelo de poliester. Todas as meninas é uma forma de expressão. Aprendi as primeiras letras na sala cinco de uma escola pública no Bairro das Estacas, com a professora Gertrudes Maria.
Olho para as fotos daquela altura - as fotos da praxe, em grupo, para mais tarde recordar - e tínhamos todos um aspecto miserável: a Minashri, muito pequenina, de sahri indiano e pintinha encarnada na testa, o Rahim e o Caim com calças de bombazine à boca de sino castanhas e verde floresta, respectivamente, e camisolas de gola alta coçadas adornadas com cotoveleiras de napa, a Alexandra muito mal amanhada, com as suas orelhas de dumbo e olhos azuis semi-cerrados, o André - o menino muito moreno e de pestanas compridas e encaracoladas que me roubou clandestinamente, no ginásio, o meu primeiro beijo e que me enviou, um ano depois, na segunda classe, quando já sabia escrever qualquer coisa, um bilhetinho a pedir-me em namoro -, com uma camisola de lã grossa azul da prússia tricotada pela mãe e umas calças de ganga muito escura também também com joelheiras de napa, os gémeos falsos Carlos e Carla, miseráveis, rotos, com as caritas sujas e já marcadas com cicatrizes da varicela, e eu, no meio da pandilha multi-étnica esfarrapada, ao lado da senhora professora Gertrudes Maria, ou não fosse a mais bonita e a mais inteligente, de camisola turquesa de gola alta e saia de fazenda, com peitilho cor-de-rosa, duas enormes trançinhas com laçinhos de veludo azul escuro, um sorriso lindo desdentado e uma covinha profunda na bochecha direita (ainda cá está, a covinha). Portanto, na turma da senhora professora Gertrudes Maria, três ou quatro meninas tinham a Barbie Tropical. A Alexandra tinha (tinha, também, o Ken e a Skipper Tropicais).
Hoje em dia, há Barbies de todos os feitios: brancas, pretas, asiáticas, loiras, morenas, ruivas, cabelos curtos e compridos, lisos ou encaracolados, com franja ou sem ela. Na altura, havia meia dúzia. De qualquer forma, notem bem, hoje, como há duas décadas atrás, há Barbies de primeira e de segunda categoria. Uma Barbie de primeira tem os braços dobrados a 90 graus e consegue movê-los em dois sentidos - para trás e para a frente e para os lados. As Barbies de luxo têm, geralmente, brincos e anéis. As parentes pobres (nem se deviam chamar Barbies) têm os braços esticados, hirtos, só os movem para trás e para a frente. A Barbie Tropical tinha os braços assim e vinha descalça. Era mesmo pobrezita, mas custava dois contos e quinhentos. Uma dinheirama!
O José Lourenço era, há vinte anos atrás, um professor do ensino técnico em início de carreira, que tinha que se sujeitar às colocações loucas do ministério da Educação. Dava aulas em Ponte de Sôr, vinha a Lisboa só aos fins-de-semana.
Comprámos a minha primeira Barbie - era a Barbie Cintilante, o vestido rosa com saia de tule e corpete de veludo rosa velho brilhava no escuro - na papelaria Erasmus, no cimo da Avenida da Igreja. Há mais de uma década que a Erasmus já não existe, é uma MultiÓpticas, mas para mim há-de ser sempre a Erasmus, o toldo tinha uma tartaruga e tenho uma cicatriz no dedo mindinho da minha mão esquerda que fiz num Domingo, nas grades de alumínio que protegiam a montra da Erasmus dos larápios, que não me faz esquecer a papelaria que vendia de tudo um pouco.
A Barbie cintilante custou seis contos e fez-me a menina mais feliz do mundo. O José Lourenço ganhava pouco mais de trinta contos na altura.
O Zé Ralha subornou-me três ou quatro anos depois, quando finalmente o conheci, com dezenas de Barbies (nunca quis Ken's, isso já deveria querer dizer qualquer coisa...), comprou-me até a Barbie 6º Aniversário, vestida pelo Augustus (custou 12 contos), mas se eu tiver um filho, ele vai-se chamar José Lourenço. Como o avô. Como o único pai que eu tive.

[Saiu hoje o divórcio do Zé - estás livre!]

domingo, março 13, 2005

O Pacto

[Parabéns, João Cortesão. Gosto muito de ti.]

Eu devia ter desconfiado. Meia hora para estacionar é como um preto de cabeleira loira - não é natural. Pelo menos para mim.

Para os milhares de carros que se deslocam diariamente para o centro da cidade acredito que sim; dezenas e dezenas de voltas ao quarteirão devem fazer parte do castigo divino pela teimosia de trazer o carro para o Marquês de Pombal, os nervos devem ficar em franja com a procissão de fé do "pára-arranca" e a franja deve ficar em pé, com tanta electricidade estática acumulada pelas dezenas de lugares de estacionamento que são apanhados pelo carro que segue à frente do nosso.
Mas para mim não.
Sexta feira - e não era 13, verifiquei agora na agenda preta e laranja que uma agência de publicidade me enviou no início do ano -, quatro Lucky Strikes fumados religiosamente de cinco em cinco minutos, e depois de cantar 14 faixas do CD em coro com a Amy Lee ("Now I will tell you what I've done for you. 15 thousand tears I've cryed", em repeat one) arranjei um buraco em frente à Maternidade Alfredo da Costa (quem terá sido o senhor, assalta-me agora esta dúvida...), isto sem não antes ter que me degladiar com um indivíduo de meia idade, ao volante de um carro potente e no meio de uma crise aguda de andropausa, que teimava comigo que tinha visto o dito lugar de estacionamento primiero que eu e de ter resolvido o assunto com esta frase acutilante: "Só fica com o lugar porque é uma senhora..." O homem ainda devia ter bem presentes alguns resquícios do politicamente oito de Março - o dia internacional da mulher: terá o senhor levado rosas para a mulher e para a filha nesse dia?
Depositei um euro e meio nos cofres da EMEL, enquanto tirava as moedas da carteira pensei: "Não pode ser... Era bom demais". Nunca tinha desembolsado dinheiro para a EMEL com um sorriso nos lábios, com a sensação que tudo se resolveria a partir daquele momento, através de um talão de estacionamento me permitia ocupar aquela fracção do passeio até às 13h13 (devia ter prestado atenção a isto, também, mas estava concentrada num prédio de gaveto bonito, abandonado e assombrado, de certeza, na rua Andrade Corvo, e a pensar na maneira de roubar os azulejos arte nova com videiras que ainda persistem na sua fachada).
No início da semana passada, em plena ressaca do apaganço forçado do sr Andy da minha vida, estava a estacionar o meu Idea de estofos laranja à porta do jornal, num lugarzinho não pago e cobiçado por toda a redacção, quando ousei, nos dois micromilésimos de segundo que demorou este pensamento, fazer a seguinte prece: "Trocava de bom grado a sorte ao estacionamento, o pacto com a nossa senhora do estacionamento não pago (ou com o demónio do estacionomaneto não pago - não sei muito bem a quem é que vendi a alma), por boa ventura no amor". "Tolice, dá muito mais jeito lugarzinho à porta todos os dias, a qualquer hora", admiti à última da hora, com os meus botões, tentando-me convencer disto à força.
Entreguei o IRS pela Internet - o grande objectivo do dia -, estive meia dúzia de minutos com a Joana e com o Rui, almoçei no Laçinho - massada de Pampo, com o Madeira e Companhia - e o Xico dá-me ordem de soltura às 15h00. Diz: "Não há nada para fazer, vai ter com a tua filha, bom fim-de-semana". O queixo caiu-me, ainda tentei blogar (não consegui grande coisa) e às 15h30 (duas horas depois de o meu talão de estacionamento ter expirado), pus-me a caminho do Idea.
Lá estava, perto do prédio assombrado, decorado de fitas amarelas e pretas (que ficam muito bem com o cinzento chumbo da sua carroceria), com a roda da frente fechada a cadeado. Acabara de ser bloqueado por ocupação ilegal do lugar de estacionamento. Cinco minutos antes.
"Será? Será possível? Não é só nos filmes?", matutava eu, enquanto dizia à operadora da EMEL onde é que me encontrava. A espera foi curta, escrevi meia dúzia de linhas para o João Rocha, na Moleskine que comprei para lhe oferecer recheada com as minhas histórias, quando três rapazes vestidos de verde escuro bateram à minha janela.
Sorri, entreguei os documentos e o cartão Multibanco sem refilar, sem dizer nada, sem os tentar convencer de uma treta qualquer. Nada. Eles estavam atónitos, ganharam o dia: "Sabe?", dizia-me o loirinho, enquanto processava o pagamento - "Nós não estamos habituados às pessoas serem simpáticas e agradáveis... Até temos um colega que anda no psiquiatra por ser tão insultado na rua".
"Tenho só um pedido a fazer-vos", avançei, no momento em que me desbloqueavam a roda. "Queria ficar com a fita amarela, pode ser?". "Oh Morais, vai buscar um rolo de fita para a senhora". "É que essa está suja, a senhora merece um rolo de fita novinho", disse o loirinho, que acabou por se despedir lamentando o facto de me terem bloqueado o veículo. "Não é um carro que se veja muito, e com os estofos laranja muito menos", disse o outro dos olhos verdes. "Das próximas vezes, se virmos o seu carro por aqui não o bloqueamos, pode ter a certeza minha senhora", disse o terceiro, enquanto me enrolava uma boa dezena de metros de fita amarela (que fez as delícias da Carolina, dos cães e dos gatos da minha mãe e que vai decorar o meu frigorífico, o meu Aspes em segunda mão, que custou 50 euros, mas que continua a servir-me lealmente todos os dias).
Contente, pelo meu azar ao estacionamento, lá fui para casa sonhar alto.
Hoje cá me esperava o lugar à porta.

sexta-feira, março 11, 2005

Big, my heart

De repente, deram todos para falar do tamanho do meu coração.
Dizem que é grande, que é bom, que está em estado puro, que não foi lapidado. Por isso, tem um brilho baço, bruto, e, apesar de ser enorme, ninguém dá por ele. Deve ser isso.
Ontem, um senhor que tem pestanas gigantes, sardas pequeninas nas maçãs do rosto e um sorriso como eu nunca vi - há qualquer coisa nesse teu canino, aquele que eu te falei -, junta-lhe mais um defeito: diz-me que ofusca, que assusta quem se aproxima demasiado dele.
Não estava preparada para ouvir isto.
Estava preparada para todas as justificações absurdas menos esta.

Amanhã há mais.

segunda-feira, março 07, 2005

Astride

A Mónica é a minha "babysitter".
Sim, a minha "babysitter" - também cuida da minha filha, vela-lhe pelo sono quando eu quero ir beber um copo com a Pandilha ao Bicaense, mas, essencialmente, a Mónica cuida de mim. Cuida de mim, quando eu fico pequenina e frágil, todas as semanas, todos os sábados em que a Carolina me é arrancada por ordem judicial.
Nesse dia, que passou a ser o mais odiado da semana, a Mónica passeia-me pela cidade, arrasta-me para matinés de cinema no Alvaláxia, seduz-me com sessões de consumismo desenfreado (é louca por sapatos, por vestidos cai-cai e por casacos "cache-coeur" como eu) e sacieia-me a gula com sundaes (com dose dupla de molho), no mais curioso Mc Donalds da rede nacional - o da Avenida de Roma, onde velhinhas de cabelo armado arejam os seus visons bolorentos, bebericam meias de leite, exercitam as suas dentaduras postiças dando trincas gulosas nos "brownies" da cadeia de "fast food", coxixam sobre a vida alheia e lêm a "!Ola!" espanhola, com a mesma naturalidade com que o fizeram, durante décadas a fio, quando aquele espaço não estava decorado com cores berrantes - era escuro, datado, parado nos anos 70 - e se chamava pastelaria Roma.

Eu, injustamente, não agradeço à Mónica, pela sua paciência e amizade, tantas vezes como devia. Acho que não agradeço de todo. Sou parva e ela fica a achar que não é importante para nós. Porque teimo em nunca me referir à Mónica como a minha melhor amiga, magoando-a de morte quando dou esse estatuto à senhora editora Catarina. Tu não és a melhor amiga, és a amiga, a minha irmãzita mais velha (não refiles: és mais velha - dois meses e meio mais velha).

No dia em que a minha mãe saiu da Clínica de São Miguel comigo ao colo, seguiu a pé com a tia Lena até à Guerra Junqueiro para me registar. Foi o cabo dos trabalhos: A lady Di ainda não era lady em Inglaterra e Diana era nome de cão (de caça).
A conservadora estribuxou, refilou, insultou a Magui de dar um nome de cão à filha, mas a minha mãe, rebelde sem causa, em tom provocatório disse: "É nome de cão sim senhora! Tive uma cadela que gostava muito e é em honra dela que o dou à minha filha... E quer saber uma coisa? O meu filho mais velho chama-se Leonardo, porque eu tive um gato com esse nome de quem gostava muito...".
Escandalizada até à ponta dos seus burocráticos cabelos, a funcionária não teve outra hipótese: todos os nomes de divindades são permitidos em Portugal, e, por isso, a contra-gosto, lá colocou no assento de nascimento o "Diana".
Mas a minha mãe, naquele dia, estava bestialmente inspirada, ou então, foi só mesmo para pôr a pobre da mulher à beira de um ataque de nervos (não me espantava: conseguiu enlouquecer uma freira no Colégio do Sardão, a Madre Silva, levando consigo, para todas as aulas, um raminho de madressilva, que colocava estrategicamente em cima da carteira e sempre que a pedagoga da língua de Camões fazia uma pergunta à turma, a Magui agitava a ervinha cheirosa no ar, como quem diz: "Aqui, Madre Silva, eu sei a resposta!) e, então, sentenciou, segundos depois de vencer a batalha do meu nome próprio: "o segundo nome é Astrid" (a Magui sempre teve um estranho gosto para nomes próprios: o Leonardo se fosse menina seria Penélope).
A cinzenta funcionária tramou-a (ainda bem...) com essa, pesquisou nos registos dos nomes aceites em Portugal e saiu um veredicto: impossível! É a ainda utilizada regra dos registos civis nacionais, segundo a qual o nome próprio deve definir género. Ou seja, o mais parecido com Astrid que aquela conservatória aceitaria registar uma criança do sexo feminino era Astrida.

A Magui passou-se, "blá, blá, blá, sua ignorante: Astrid é nome de rainha, blá, blá, blá", mas a mulherzita lá permaneceu sentada, impávida e serena, sem reacção. Foi então, que a minha progenitora, com fumo a sair pelo nariz, muito cansada e já a começar uma grandessíssima depressão pós-parto se rendeu e, sem pachorra, me escolheu um segundo nome próprio também começado por "A". Foi assim que eu acabei a por me chamar Alexandra.
Mas um par de meses antes, numa outra Conservatória do Registo Civil, aposto, a Diná e o Zé, registavam a sua primeira filha com o nome de Mónica Astride. A Diná também é fresca como a Magui - é mulher para mandar para trás todos os bilhetes de identidade que lhe inscrevam o seu invulgar nome como Dina, vulgarizando-o -, e teria armado um pé de vento se lhe viessem com o "Astrida". Mas ninguém levantou ondas (o Astrid teve que levar com o "e" no final apenas) - devia haver, na altura, uma regra informal nas conservatórias, de só permitir o registo de um nome estranho a um bébé. Ora, eu tive direito ao Diana (dois ou três anos mais tarde, houve um "boom" de Dianas, quando a princesa lá deu o nó com o cara-de-cavalo do Carlos) e já não pude levar com o Astrid(e), mas a Mónica lá conseguiu a façanha (e ainda para mais gosta do nome, confessou-mo este fim-de-semana).
Logo por isto - e bastava só isto -, eu devia ter sentido, no primeiro instante em que nos cruzámos, que estávamos destinadas a ser grandes amigas. Mas não: andámos às turras, porque temos ambas mau feitio, porque eu não digeria muito bem o facto de ela ser melhor a matemática e em gestão do que eu e ela, por sua vez, não suportava o facto de eu ser melhor nas raras divagações criativas que o nosso curso de Publicidade nos possibilitou.

Já passámos por coisas do arco-da-velha: chorámos juntas, deslumbrantes, na passagem de ano do milénio, chorámos juntas, este Natal (na passagem de ano já não tínhamos mais lágrimas), pelo amor que tarda em aparecer. Lembras-te do teu Renault velhinho a arrastar consigo uma cauda de balões da BP pela via rápida da Caparica? Ou do dia em que a Carolina nasceu?
Nunca mais me digas que não fazes falta a ninguém.

Sete anos de azar

[Perdão pela ausência. Sábado a escrever sobre "marquises" - com um agradável encontro cibernético com o sr Michael Burton pelo meio (eu sei que estou proibida de falar de ti, mas tinha que o dizer, que iluminaste o meu fim-de-semana) -, e Domingo a ressacar e retemperar forças, depois de ter escrito duas páginas sobre as senhoras "marquesas"...]

Mal senti o espelho a deslizar por entre os dedos, fechei os olhos e pensei: "vai partir-se; são mais sete anos de azar". Valeu-me a consolação do som magnífico que fez o estilhaçar em mil pedaçinhos do pequeno e fiel espelho - no Natal, gosto de partir enfeites de vidro nas lojas Aki só para ouvir este som. Eles têm-nas expostas em grandes cestos de vime e eu dou um toquezito com a perna nos cestos e finjo que foi sem querer.
Pobrezinho do espelho, todas as manhãs inspeccionava os progressos da minha dentição outrora desalinhada, viu o meu sorriso a ficar quase perfeito e hoje, logo hoje, no seu último serviço - deve ter tido alguma premonição que o fim estava próximo -, teve que deitar por terra a esperança de me libertar da armadura de titânio que aprisionou os meus dentes há dois anos e cinco meses, no dia em que começa a Primavera.
Dia 21 de Março - está marcado na minha Moleskine: Dra Rosa liberta o meu sorriso. Vou riscar: abriu-se um espaço, milimétrico, entre o incisivo e o canino direitos.
Hoje vou passar por debaixo de todos os andaimes e escadas que encontrar, vou fazer tudo por tudo para me atravessar no caminho de um gato preto. Pode ser que tanto azar junto se anule.

quinta-feira, março 03, 2005

Delete

[Afinal, não cansem a vista, nem começem a semana com notícias de economia: o texto fluorescente já não é para esta semana, entrou publicidade]

Ontem, o estupor do Maique (está melhor assim, senhor? Mais coerente com a sua fama de durão?) enviou uma sms da vizinha Espanha que dizia: "Grande trabalho bloguista, dra Ralha. Muito bonito. Durma bem". Eu, tontinha, orgulhosa, humildemente respondi: "Escrevo para ele, para o senhor holandês".
Não escrevo mais para ele.
É muito mal educado.
Não o consegui apagar do Messenger (talvez amanhã consiga - foi assim no Gmail, deixei de o incluir nas orgias, de mansinho), mas despromovi-o da categoria de "amigo", e enterrei-o na pasta dos contactos "colegas" (colegas são as putas, ensinou-me, logo ao início, um grande nome do jornalismo português, a quem chamo de "camarada", por isso, tira daí as tuas conclusões).
Apaguei a foto dele do meu telemóvel - essa vou-me arrepender de certeza, mas eu gosto de fazer grandes dramalhões; tenho, inclusive, uma "label dramalhões" no meu Gmail, que já serviu para catalogar, entre outros, o "Tajavergate" e, mais recentemente, para arquivar o ainda não ultrapassado incidente "má ventura" -, mandei para o cano as sms que me enviou (custou-me apagar aquela que perguntava, no início do ano: "Como se chama a tua mãe? Isabel Ralha?", mas que se dane - deixei apenas a da madrugada do dia 24 de Dezembro, para mais tarde recordar) e, por último, risquei o número de telemóvel das agendas e do meu telefone laranja (há que tomar medidas drásticas, quando nos sentimos, de facto, ultrajados) .
Ufa!
Tudo isto por causa do Rodrigo Leão, um senhor que me inspira há tanto tempo, que aos 14 anos me levou a estudar Latim para poder entender as letras do Ave Mundi Luminar, o seu primeiro album fora dos Madredeus, com o panilas do Nuno Guerreiro a cantar sublimemente bem, em falsete, no registo de contra-alto.
Um dia, encontrei o Rodrigo Leão na sala de espera do consultório do Dr Mário (veterinário da bicharada, numa vivenda perto da estação de comboios da Avenida de Roma), com a sua boxer Luna, e disse-lhe isto - que a música dele mudou a minha vida. Que por causa dele eu sabia Latim.
Ficou encavacado, sem saber o que fazer e/ ou dizer. Eu tenho este efeito sobre as pessoas. Mas, de certeza, que o Rodrigo Leão ainda se lembra da miúda que, numa tarde de Setembro, enquanto fazia cálculos estatísticos (tinha exame de estatística no dia a seguir) num veterinário, lhe declarou que, aquilo que ele melhor sabe fazer, a sua música, lhe tinha mudado a vida.
E tu vais-te lembrar também.

Segue-se um pequeno interlúdio musical

Hoje, tenho que escrever notícias. Notícias para a secção cinzenta da Economia (a minha primeira casa). Leiam o suplemento de Economia da próxima segunda-feira e vejam com os vossos próprios olhos: uma notícia verde fluorescente.
Prometo regressar rapidamente. Vou, inclusive, ao terceiro piso, ver se o informático da franja comprida me põe o Toshiba a funcionar, para poder bloggar de casa, à noitinha.

quarta-feira, março 02, 2005

XANAX (ou a história da D. Domingas)

XANAX - lê-se de trás para a frente e da frente para trás, por isso, imediatamente, é uma palavra fetiche, daquelas que eu amo.
O Xanax, na realidade, não é mais do que Alprazolan. Os senhores da Pfizer, gúrus do "branding" farmacêutico, é que o baptizaram com este nome perfeito, simétrico (o genérico da Rathiopharm custa menos de metade, para quem queira saber).
O Xanax é a invenção farmacêutica do milénio - qual Aspirina, qual Prozac, qual Viagra, qual carapuça! X-A-N-A-X -
"Um por dia e nem sabe o bem que lhe fazia" era um slogan de um iogurte com bactérias (mais conhecidos pelo nome pedante de bifidus) que nos põem a cagar regularmente (o momento "all bran" do dia, como dizia outro anúncio idiota), mas eu cá acho que, se não houvesse as restrições absurdas à publicidade a fármacos, podia ser, muito bem, o mote do Xanax.
Não há melhor droga que o sr. Alprazolan (talvez a sra Sertralina, baptizada pela Pfizer de Zolofot - a bomba russa -, mas essa fica para outra história): é legal, comparticipada pelo Estado e, ainda por cima, dedutível no IRS.
Com o Xanax, caminha-se numa alcatifa de algodão doce cor-de-rosa ao som de Pizzicato 5 (gostaste, João?). As coisas más não nos atingem, são repelidas por um escudo invisível, e as emoções boas também são meramente indiferentes. Vive-se num mundo onde a serenidade reina despoticamente.
A D. Domingas era o ser mais bem disposto cá da rua. Distribuía sorrisos e beijinhos repenicados por toda a gente. Até a minha mãe - a pessoa mais avessa a demonstrações públicas de afecto - conseguia ela beijocar.

Besuntava o rosto com uma base muito mais escura do que o seu tom de pele, o que lhe conferia uma tez de aspecto de argamassa; abusava do "blush"; pintava os olhos de um característico "verde velha" e era fã de um baton laranja que teimava em trespassar os contornos dos seus lábios carnudos.
Saía sempre à rua muito aprumadinha, de tailleur, só lavava o cabelo no cabeleireiro, tresandava a laca, mas o seu traço mais marcante e que tantas saudades ainda me traz, era um sorriso aberto constante.
Tinha um casamento de meio século feliz. Ela e o marido, cujo nome não sei, bebiam a bica juntos, diariamente, no café do Sr. Zé Manuel e, embora ele não fosse tão extravagante e bem disposto como ela (gostava de usar pólos "piquet" da Lacoste, lembro-me agora dessa característica), ficava à vista de todos que, as bodas de ouro, não tinham criado aquele azedume amargo de um casamento longo demais.
No café das velhas (como eu carinhosamente apelido a tasca de seis lugares sentados do Sr. Zé Manuel), a D.Domingas beliscava-me as bochechas — "que linda covinha que ela faz na bochechinha, Guidinha", dizia ela para a minha mãe e a minha mãe até lhe perdoava o facto de a chamar de Guida (que ela detesta) e não de Magui — , dava-me beijinhos, xi-corações (usava Chanel nº5) e propagandeava os meus feitos jornalísticos às outras velhotas — "é jornalista do Público, Celestinha (a D. Celeste tem 90 anos, mas todos, inclusive eu, a tratamos por Celestinha: sempre que a encontro digo-lhe que não a quero na rua a namorar até tarde e ela derrete-se toda, fica mais nova 20 anos e até lhe passa, momentaneamente, o raio do reumático). “É aquele jornal muito conhecido”, dizia ela às velhotas, que não faziam a mínima ideia do que é que ela estava a falar (a sua leitura resume-se a revistas de esquemas de crochet), mas que devia ser, pelas suas palavras, uma coisa importante.
O ritual diário da D. Domingas, no café, passava pela biquinha, o bolo mais doce que pudesse haver na vitrine e 100 mg de Xanax. [Nunca fui até aos 100 mg. O meu máximo ficou-se pelos 50 mg e foi uma viagem surpreendentemente agradável].

A D. Domingas morreu subitamente de diabetes. Ninguém sabia que ela sofria da doença, entre nós, assíduos clientes do Sr. Zé Manuel. O marido, de luto ainda recente, explicou-me que ela não era dada a restrições, que preferia viver poucos anos feliz, do que muitos anos de penitência conventual. Daí se alambuzar todos os dias em doces, a sua perdição.
Tenho muitas saudades da D.Domingas, mas nunca consegui chorar a morte dela, desde que descobri o seu sublime lema de vida. Grande mulher, muito sorridente, talvez por causa do Xanax, mas qual é o mal de uma batotazinha?

terça-feira, março 01, 2005

Acabou

Acabou.
Fevereiro acabou. Mês pequenino, entalado entre dois irmãos importantes - o Janeiro, mês do recomeço, das boas intenções, e o Março, mês do amor, das flores e das abelhinhas -, Fevereiro este ano quis dar nas vistas, provar que também é importante e conseguiu: despedaçou-me.
Mas, acabou. Acabaram-se as histórias tristes, decido eu.
Vem aí a Primavera, as ameixoeiras, macieiras e amendoeiras em flor, as orquídeas, os amores-perfeitos, as prímulas, as "marçejas" (não faço ideia que flores são estas, mas a minha mãe fala muito nelas), as rinites alérgicas por causa de todos estes pólens e as ninhadas de gatinhos concebidos em Janeiro (eu e a Carolina temos "encomendadas" duas meninas: a Matilde e a Margarida, que hão-de nascer dentro de dias..).
Março chegou e hoje, esta do Cole Porter, está em "repeat one"

Birds do it, bees do it
Even educated fleas do it
Let's do it, let's fall in love

In Spain the best upper sets do it
Lithuanians and Letts do it
Let's do it, let's fall in love

The Dutch in old Amsterdam do it (já cá faltava esta, acrescento eu!)
Not to mention the Finns
Folks in Siam do it
Think of Siamese twins

Some Argentines, without means do it
People say in Boston even beans do it
Let's do it, let's fall in love

Romantic sponges they say do it
Oysters down in Oyster Bay do it
Let's do it, let's fall in love

Cold Cape Cod clams, 'gainst their wish, do it
Even lazy jellyfish do it
Let's do it, let's fall in love

Electric eels, I might add, do it
Though it shocks 'em I know
Why ask if shad do it
Waiter, bring me shadroe

In shallow shoals, English soles do it
Goldfish in the privacy of bowls do it
Let's do it, let's fall in love

Ode aos meus leitores

Tenho mais um vício - que se junta aos sapatos (ontem, o maique ligou-me, preocupado, e deixou o aviso: "não vou deixar que te afundes em sapatos"; foi bonito: o maique tem destas coisas, habitua-me mal...), à nicotina, à minha tara por números ímpares, capicuas, matrículas de automóvel, gmail, messenger, and so on, and so on...
Chama-se Stat Counter. O Maique instalou-o neste blog há pouco mais de uma semana e, desde então, mais de 500 page loads depois (unbelievable!!!), passo o dia a "xutar" estatísticas. Abençoadas "bolachinhas" - as cookies - que me dizem tudo o que eu quero e o que também dispensava saber sobre os meus fiéis leitores: de onde vêm (a grande maioria vem do pasquim do maique - ele pôs lá um link, lindo, laranjinha, a (t)ralha está em lugar de destaque e no dia em que ele sobrepôs o meu blog ao site do Dave comovi-me, são coisas pequenas que me tocam, como um sms que não vou apagar e que dizia: "ehs fixe e ainda bem que jah gostas de mim"), quem são (fico hipnotizada com as sequências de números dos IP's e já sei alguns de cor: o do maique, o do Público e o do DN), que browser e sistema operativo utilizam (o MSIE ainda domina, mas já temos muita gente a bombar com firefox 1.0 e até dois leitores com o Safari 1.2 - que o Maique me ensinou que é o browser por defeito dos Mac), a que horas me visitam (é comum haver entradas de madrugada - hoje tenho uma às quatro da matina e, claro, só podia ser o sr. Miguel! -, mas também há passarinhos madrugadores neste "blog"), quanto tempo passam por aqui e quantas vezes voltam a esta casa.
Já preguei grandes cagassos à conta do Stat Counter. Como por exemplo, telefonar para os Emirados Árabes Unidos e dizer ao meu Lourenço: sei que estiveste a ler o meu blog. Foi às "x" horas, leste os posts "w", "y" e "z". Ou enviar um mail para o meu mais graduado leitor, investigador em Cambridge, e reconstituir todos os passos da sua visita.
Dou comigo, siderada de espanto e armada em Sherlock Holmes dos tempos modernos, a tentar encontrar nomes e caras para os IP's que me são totalmente estranhos. Como por exemplo, para o meu mais frequente e fiel leitor: um senhor, ou uma senhora, que trabalha numa empresa de construções do Cávado.
Fico, também, a saber que há pessoas estranhas e taradas. Que cinco tipos (tenho a certeza que são gajos) vieram cá parar porque "googalizaram" a palavra "esporradela". Mas há melhor: quem é que vai ao google pesquisar "óculos grandes de massa pretos"? Pois...
A todos vós: amigos, amigos de amigos, totais desconhecidos, tarados e gente estranha, um grande bem haja!