A garrafa de Veuve Clicquot
Se calhar, nunca existiu nenhum parecer jurídico de um qualquer advogado reputado neoliberal, cujo nome também nunca veio à baila. Aos poucos, a sindicalista deslumbrante perdia a sua ingenuidade e aprendia que cada cartada deste jogo traz na manga um trunfo e que a cor do seu naipe é o bluff.
É Natal e a sindicalista deslumbrante e sus muchachos deram o melhor presente ao presidente do conselho de administração. Plenário para aqui, plenário para acolá, duas semanas de férias praticamente arruinadas, comunicados escrevinhados à pressa, mas que, mesmo assim, fizeram ferver o leite e saltar a tampa da panela, houve de tudo, para todos os gostos e idades: emails intimidativos na caixa de correio, bombistas suicidas nas margens do Douro, houve moções escritas a chorar, às tantas da manhã, porque até o gato morreu nas benditas férias.
A sindicalista deslumbrante estreou a sua echarpe verde, cuidadosamente bordada por crianças paquistanesas. Disse ao presidente do conselho de administração, tinha que o dizer, também, nada a fazer, podiam vir mais emails gralhados das suas hierarquias de propósito duvidoso, podiam vir processos disciplinares, ou mesmo, um lugar longínquo no novo organigrama, mas têm um azar do caralho desta vez, é que a sindicalista deslumbrante não teme mais, entrou nesta aventura porque, olhem, foi como na faculdade, quando a sindicalista deslumbrante estudava numa escola superior muito bonita, disse um dia, estou farta desta merda, mãe, estou a desaprender, sinto-me a sufocar, e então passou a nivelar por baixo, pior era impossível, e então, tudo o que se sucedesse acima do patamar mínimo da dignidade humana era uma festa, era balões e foguetes a toda a hora, e neste caso, a jornalista deslumbrante só aceitou transformar-se em sindicalista igualmente deslumbrante, porque não tem nada, mesmo nada a perder, e foi por isso, que com os bordados das mãos pequeninas dos meninos de tez de meia de leite ao pescoço, e com um processo de cessação do contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho a abanar e a tremer na mão direita, ela disse, teve que dizer, já que horas mais tarde, o presidente do conselho de administração estaria a brindar com uma garrafa de Veuve Clicquot Brut: “Há dias em que eu tenho vergonha de pertencer a uma empresa assim”.
E o presidente do conselho de administração fez um lifting imediato à testa por a ter esticado muito, e a sindicalista deslumbrante acha que o viu a encolher os ombros também e, nesse momento, achou-o parecido com o José Mourinho, mas nada, mesmo nada que ela dissesse o faria não abrir a garrafa de espumante prometida para o dia em que ele cortasse, com um aperto de mão da comichão de trabalhadores, 400 mil euros de custos fixos.
5 comentários:
puta que o pariu...
Ainda assim espero que tenhas um Natal especial temperado de canela e outros prlimpimpins que nos fazem acreditar que tudo será melhor...
...Estou tão lamechas que me comovo só de ver brilhar uma bola vermelha numa qualquer àrvore de Natal...
Feliz Natal!
Prestes a ir para a minha «aldeia», um Feliz natal também para si.
PS: Sobre sindicalistas, teria muito a dizer (e por experiência própria, eheheheh) mas fica para uma próxima altura.
é dar-lhes, é dar-lhes, sem pena, nem piedade. de resto, bom Natal e um ano de 2007 bem melhor que este que agora se "corta"...
minha querida, um óptimo Natal e um excelente 2007. bjs mil
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