segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Morfologia do filme pornográfico (ou especialistas instantâneos em Propp)

O formalista russo Vladimir Propp (1895 - 1970) escreveu, em 1928, a obra "A Morfologia do Conto" - um dos únicos livros que gostei de devorar, durante a minha exposição universitária forçada ao mundo das ciências da comunicação (Barthes, Levi-Strauss - não é o senhor das calças de ganga - e Luhman foram as outras excepções, assim que me lembre de repente).
O senhor Propp, podia-lhe ter dado para pior, mas dedicou-se, durante um período extenso da sua vida, a estudar a estrutura narrativa dos contos de fadas populares russos. E chegou a conclusões extraordinárias, ao analisar os personagens e a acção dos supostos inofensivos contos de fadas.

Propp identificou 31 temas narrativos possíveis e, se bem que é possível que não estejam todos presentes num conto, o formalista russo descobriu que seguem sempre esta ordem:

1. Um mebro da família sai de casa (o herói é apresentado)
2. O herói é proibido de fazer algo ("não vás ali")
3. O herói viola a interdição
4. O vilão entra em acção
5. O vilão informa-se sobre a vítima
6. O vilão tenta enganar a vítima/ tenta apoderar-se dos seus pertences (o vilão tenta ganhar a confiança da vítima)
7. A vítima, levada por alguma decepção, acaba por ajudar o inimigo
8. O vilão magoa (há várias alterantivas aqui: por magia, casamentos forçados, raptos, assassinatos, etc... é infindável) um mebro da família da vítima
9. O infortúnio da vítima chega aos ouvidos do herói
10. Herói decide fazer algo
11. Herói sai de casa
12. Herói é testado, interrogado, atacado pelo agente mágico que o vai auxiliar numa fase mais avançada da acção

(depois há mais uma catrefada de acontecimentos que não me apetece escrever; leiam a obra, ou "googalizem")

26. O problema é resolvido (pelo herói)
27. O mérito do herói é reconhecido
28 O falso herói/ vilão é descoberto
29. O herói reaparece com uma nova aparência (trajes sumptuosos, lindo)
30. O Vilão é punido
31. O herói casa-se e ascende ao trono

Eu não sou uma moça dada à investigação académica. Muito menos na minha área de formação. Teria que me armar em pseudo-intelectual (por acaso, tenho uns óculos que eram meio caminho andado para ser aceite nessa pandilha amorfa; são de massa, pretos, muito largos) e eu gosto mesmo de ser uma rapariga normal.
Ainda ontem, enquanto passava três toneladas de roupa a ferro, disse ao meu irmão, sem-me importar: "Eu já aceitei que não vou ser ninguém na vida. Está bem assim, não faz mal", atirei eu, levando como resposta um resmunguento "não digas isso; não sejas parva!".
Mas, se me desse a louca e em vez de ir aprender a tocar piano (todos os anos é a minha resolução de ano novo falhada), ou a tirar boas fotografias, me enfiasse num mestrado ou doutoramento, a minha tese seria, sem sombra de dúvidas, sobre a morfologia dos filmes pornográficos.
Tornar-me-ia no Propp da pornografia. Seria, sem dúvida, conhecida, alguém na vida. Gostava de ver que orientador é que teria "tomates" para orientar esta tese...
Vejamos, então, a sustentabilidade do meu projecto científico. Apesar de a minha observação do fenómeno não ter sido de todo intensiva (tenho os canais codificados), constatei que, tal como nos contos de fadas, nos filmes pornográficos, as ratas mudam, mas a esporradela é sempre a mesma... (esporra é a palavra mais feia à face da terra... punheta é igualmente má)

(o miguel vai deixar de me falar; vai achar que eu sou tarada)

O personagem feminino do filme pornográfico cumpre sempre à risca determinados requisitos: mamas imensas de silicone, unhas quilométricas, genitais meticulosamente depilados.

O filme pornográfico obedece sempre à mesma estrutura narrativa:

1) Gaja está em casa, sem nada para fazer, semi-despida (mas sempre de saltos altos, nunca é esquecido este pormenor)
2) Personagem masculino entra em cena. Às vezes é canalizador, outras vezes electricista, de vez em quando entrega pizzas...
3) Num ritual de boas vindas, a gaja começa inicia uma sessão de sexo oral.
4) Eventualmente, a gaja tem direito a sexo oral
5) Começa o fornicanço propriamente dito, desafiando o acto as leis da gravidade e a elasticidade humana
6) É neste fregmento da cadeia narrativa que podem surgir novos personagens (ainda que não acrescentem nada à história) - como a amiga de quarto da gaja, o ajudante do canalizador, ajudante de electricista, o trolha, etc. Mas, é mais comum a entrada ser de um personagem feminino, como por exemplo, a "room mate"
7) Gaja 2 entra em cena e dispara às lambidelas aos genitais da amiga e/ou do canalizador.
7) Raramente, quando aparece um outro personagem masculino, estes atingem a proeza de fazerem uma dupla penetração à personagem feminina sem que os seus pénis toquem um no outro.
8) O filme pornográfico acaba sempre com a esporradela na cara/mamas do personagem feminino. Sempre!

Temos ou não temos aqui uma grande tese?

2 comentários:

Anónimo disse...

Temos tese e temos este mundo e o outro. Há mais verdade na maioria dos filmes porno do em todas as relações do mundo. O amor é uma mentira. A verdade liberta, sim, e o sexo também.

Tudo o resto é uma ilusão que o tempo se encarregará de desvanecer.

Anónimo disse...

hahahahaha!