Enquanto a sopa não levanta fervura
Algo está para acontecer, coisa diferente, talvez, quem sabe, algo que me arranque a pouca força dos joelhos e me mande ao chão, com a delicadeza de uma rajada de vento ciclónico. Se calhar, coisa boa, será? Algo tão forte que me atinja como um raio em noite de tempestade. Coisa má, é possível? E, sim, vem chuva, os joelhos e os ouvidos meteorológicos desta que vos escreve, emitiram o alerta laranja há mais de uma semana.
Vai acontecer algo em mim e eu gostava que me levassem a sério.
A maldição do bacalhau com espinafres acabou.
E dentro da ruína em que me encontro sorri. Porque voltei a saber cozinhar bacalhau com espinafres. E isto foi depois de uma conversa ao telefone que me fez ganhar dois fios muito prateados na imensa cabeleira castanha escura. Eu acabei a chamada, suspirei, e disse ao João, Isto tira-me anos de vida, Eu não sou esta, Acabaram de me nascer dois cabelos brancos, senti-o, quando poisei o telefone, acreditas que me acabaram de crescer dois cabelos brancos?
Eu preciso que me levem a sério. Isto não são hipérboles. Há cães que cheiram doenças, ao que sei, ao que li algures na imprensa de sábado, há até moluscos que detectam cancro, e uns peixes de aquário, os Plecostomus, que comem a psoríase da pele de crianças. Eu sinto sempre que envelheço mais um bocadinho.
Na casa-de-banho de serviço da casa do Outeiro, cabelos molhados de água com doses pouco recomendáveis de cloro, no espelho que está lá desde sempre, como as chávenas de café que estão lá desde sempre, e as cortinas com armas e brasões e armaduras a divivirem as salas, que, adivinhem, estão lá desde sempre, dois cabelinhos minúsculos, recém-nascidos, brancos como a porcelana do lavatório que não está lá desde sempre, mas há, certamente, tantos anos quantos os que constam no meu bilhete de identidade, caducado desde Maio.
E depois disto, um mergulho na piscina, e já cá em casa, a roupa arrumada por ordem cromática, no closet, e as cordas do estendal divididas, coisa de obsessão profunda, uma para o João, onde só entram as tee-shirts e calças do João, uma para a Carolina, onde só entram roupas em miniatura, outra para mim mesma, a terceira, depois da deles, onde entra pouca coisa porque esta máquina só tinha dois vestidos meus, e outra para as cuecas.
E eu sei que algo está para acontecer.
7 comentários:
As estrelas protegem quem sabe sentir, cara Dia. =)
Sou uma das anónimas que por vezes a visita, e hoje senti que tinha que dizer isto.
cada vez q leio este blog..é um aperto no coração...quando leio o publico procuro sempre o nome de diana ralha ....ler algo escrito por ela nem q seja um obituário dá gosto..e ainda por cima é gira..
E sempre que um anónimo sai da sua casca, eu sorrio. Gosto das rugas da covinha da bochecha direita. Não gosto daquela que ficou vincada cedo demais, entre as sobrancelhas e as preocupações.
se puder contribuir para que a ruga da covinha da bochecha direita fique mais acentuada.....boa semana!o anónimo das 1450
E o dia na casa do Outeiro, foi um dos dias em que a Carolina mais se divertiu. E felizmente tive oportunidade de assistir. Bjs, M.
Tento pela terceira comentar a 'maldição do bacalhau com espinafres'. Se não conseguir obrigo-te a abandonar o beta blogger.
Tu sempre soubeste fazer bacalhau com espinafres. Quem disser o contrário leva.
Pela lei das comepnsações da Lady só pode estar para acontecer uma coisa boa. Muito boa mesmo!
Não dá para sair do beta blogger. eles avisam várias vezes. merda para a minha mania de aderir a tudo o que é novidade da Google.
Não consigo comentar nenhum blogue
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