quarta-feira, setembro 06, 2006

Novidades, chefe

Olá chefe,

Não fomos ao casino, mas comprámos uns frasquitos de vidro, hereméticos, na catedral sueca da decoração do lar. As putas das formigas não mais nos vão comer os cereais do pequeno-almoço. O Cerejo diz para eu as gasear com a dispensa cheia de mantimentos com BioKill, mas eu acho que o Cerejo não regula bem e já era tempo de ele saber que eu me chamo Diana e não coisinha.

Começo pelas boas notícias, hoje, só para variar, porque o meu dia foi um pouco monty pithonesco e na minha cabeça só toca, em assobio, o Always look at the bright side of life.

A Carolina está óptima de saúde, alta e robusta para os dois anos e nove meses que vai fazer daqui a dois dias, garantiu o pediatra que há vinte anos atrás domava as minhas anginas, insistindo com a minha mãe que mantivesse a integridade das minhas amígdalas, porque elas estavam lá para alguma coisa. E eu ficava feliz, chefe, porque ele dava carta verde, apesar do meu excesso de peso manifestado na primeira infância, para comer todos os gelados que me apetecesse.
A loira está a entrar numa idade perfeita, 33 meses, os pediatras gostam sempre de contabilizar a idade em meses e eu teria que puxar da calculadora do meu telemóvel baixo de gama para saber quantos meses tenho, mas isso é informação puramente inútil, lamento se não faço sentido, se já estás efectivamente assustado com estes meus emails, mas estou cansada, e sim, confirma-se, não gosto de viver, não gosto de viver porque há 42 meses a minha vida cruzou-se com a de um verme, de uma espécie de parasita com calvice, e, agora sim, vou puxar da calculadora e contabilizar quantos mais meses vou ter que o trazer colado a mim como uma sanguessuga, uh oh, bela merda, chefe, no cenário mais optimista, considerando que a Carolina lhe vai dizer tchauzinho e passou bem aos 15 anos, ainda me faltam 180 meses, chefe, 180, vê lá tu, tanto tempo, e eu em 42 meses já vivi mais do que muita alminha que anda por aí a dizer mal da sua vidinha, e às vezes, esborracho formigas e penso na cara dele, se tivesse ratos, decerto ia ser uma matança desgraçada ao som daquela pecinha de Mozart que eu gosto, Apolo e Jacinto, eu sou uma pior pessoa porque ele respira, chefe.

Ah, as más notícias. Anulei a matrícula da Carolina no Valsassina. Não me apareceram 2300 euros do céu, chefe. Também não tentei o casino, é certo. A sorte não bate duas vezes á mesma porta. Encontrei o senhor 50.000 à 50.000ª visita, e o dinheiro não cai no blogue, nem se lhe cheira o rasto através do Statcounter.
A dois dias do começo das aulas, chefe, anulei a matrícula, escrevi uma carta de fazer chorar as pedras da calçada ao Frederico Valsassina. A sanguessuga não paga. Parece que está desempregado, mas curiosamente, foi de férias, e anda com um carro melhor que o meu. Eu ainda o fiz passar por boa pessoa, chefe, na carta que enviei ao Frederico Valsassina, não acredito que escrevi uma carta ao Frederico Valsassina em que ele parece um pai extremoso. Nem imaginas o que eu já chorei hoje, chefe. Não imaginas o que dói só existirem direitos e os deveres serem sempre para cima de mim. Os bibes da Carolina estão prontos. Nome, Carolina Ralha, porque ela vai ser sempre Ralha, mesmo que eu perca o processo no Constitucional, bordado a linha azul escura.
A mochila das princesas está no chão, aqui na assoalhada ao lado, e já não vai para a Quinta de Santa Teresinha na próxima segunda-feira. E, de certa forma, chefe, tu também tens um bocadinho de culpa nisto tudo. Porque é que eu sou a gaja mais mal paga de todo o piso 1, chefe? Sabes que há quem diga que eu sou a melhor escritora? Acho que vou pôr baixa, chefe. Ganho mais dinheiro quando estou de baixa e só me apetece chorar, chefe.
Dia

2 comentários:

Isa disse...

mto bom, só pra variar! bjs e suerte manda mm as cartas ao gajo. MANDA!

Anónimo disse...

eu já passei por um mau bocado desse género, talvez pior. Sim, mesmo pior, não é talvez. Não só sobrevivemos como tudo se encaixa.
Houve uma lição que aprendi nesse processo, entre mts outras, Estava tão só, que resolvi partilhar com todos os problemas que me foram aparecendo. Assim, chorei, mandei essas cartas,... tudo à medida do que ía aparecendo. ... e de repente apercebi-me que somos tantas...e nos sítios mais improváveis fui tendo ajuda. Daquela que o complicado fica simples, e afinal não são precisos tantos papeis, e sim claro que a sua filha vai cá continuar....De qualquer maneira, se não entrar este ano entra para o próximo. Relativiza que isto ainda vai durar algum tempo e...manda a carta!