Milagres e afins
E porque o assobio não pára, eu não tenho outra escolha se não olhar para o lado feliz da vida, isto antes de ir tomar um comprimido para a dor de cabeça e de o João acabar de fazer a mézinha que me vai pôr a dormir, que finalmente me vai deitar a baixo como um dardo tranquilizador, em dose para rinoceronte, e no meio de um desespero ensurdecedor - eu oiço vozes, sabiam? Eu estou sempre a ouvir vozes, é isso que conta a saga do professor de Filosofia se algum dia lá chegar -, e reparo que houve um milagre hoje: o Ricardo, no meio do sudeste asiático, o Ricardo que nunca tem onde cair morto, e o Pedro, o tio Pedro, o Pedro que sentiu o pontapé mais assustador da Carolina, estava ela no oitavo mês na barriga da mãe, ambos se disponibilizaram para pagar a mensalidade do colégio da pequenita. E o João, o João não me deixa ir trabalhar no fim-de-semana para o El Corte Inglés. Diz que tudo se resolve.
Mais do que o grande prémio do Casino de Lisboa, mais do que uma eventual comoção do João de Valsassina Heitor ao ler a minha "anulação de matrícula, por motivo de desemprego de um dos progenitores", mais do que a funcionária da secretaria a desejar-me força neste momento, bom, isto vale muito mais do que isso.
Olho para o céu à espera que me caia um milagre na testa, remexo a terra das floreiras da janela à procura de notas de 500 euros e nem reparo que já bateu à porta uma coisa muito mais aterradora - estes amigos nunca me vão faltar.
E quanto ao outro, o que se espera de um homem que não pagou o enxoval da filha? Segue-se em frente, e nunca mais se espera nada de homens sem sangue quente a correrem-lhe nas veias.
(Agradeço à insónia pela clarividência. E vou-me deitar)
7 comentários:
Hoje que tudo me pareceu correr mal de manhã passo pela farmácia para um comprar qualquer coisa para a dor de cabeça que parecia ir rebentar a qualquer momento, e enquanto esperava encontro a Alice. A Alice que levava a filha, a Sara de 8 anos que eu já não via há algum tempo. A Sara que está carequinha, de cabeça lisinha. A Sara dos olhos esverdeados e pestanudos que carrega com ela apesar dos seus 8 anos uma leucemia. Iam aos medicamentos que todos os meses vazam a carteira á Alice que vive agora de uma baixa médica que lhe rende um miséria. Esqueci a minha dor de cabeça, e todas as minhas dores de cabeça diárias desapareceram perante a tristeza dos olhos da Alice, o cansaço dos olhos da Sara, que na sua inocência ainda consegue sorrir.
É sempre assim Dia. Estamos sempre á espera dos milagres do céu e não nos lembramos que os verdadeiros milagres estão aqui na terra. Esses amigos que não são mais que milagres. Como o sorriso da Sara. Um milagre.
boa sorte minha querida. que corra tudo bem. é triste, são tristes estas histórias, mas td se resolve, tudo se resolve, pode ser que para o ano a carolina possa ir p o colégio. Q Deus te ajude. bjs
Tudo acabará por se encaixar...
Abraços
cyber cafe stop sem acentos stop procuro de milagres stop como vai isso stop
procuro milagres, claro. a frase anterior tinha um acento. apaguei-a. mal.
Não ganhei o euromilhões. Merda!
Adoro quando encontro um comente da Lyra no teu blogue.
Desculpa lá, num consigo evitar, mesmo no meio da desgraça... (alheia, é certo, e por isso... só por isso, é que posso alardear o meu prazer.)
Acho que já li o próximo, portanto, este, será o "mark out".
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