Aniversário do Pax e daquele que foi o primeiro a saber que eu seria uma grande escritora
Foi por um triz.
Ai, Esqueci-me dos anos do Pax! As coisas que me surgem assim do nada depois do jantar, quando um dos últimos cigarros do dia me queima o lábio inferior que tem uma ferida, como um calo, que nunca sara (e às vezes, devo-o assustar, estou certa que, desta vez, o assustei, não pelos anos do Pax, mas pelo que veio a seguir…)
E tal foi a comoção da deslembrança (existe esta palavra? O word diz que não, mas eu não quero repetir a palavra esquecimento e a preguiça é muita para ir catar o dicionário de sinónimos a alguma secretária desarrumada de jornalista, e encontrar outra diferente que queira dizer o mesmo, e tenho que dizê-lo, é tão estúpido, que tenho que o dizer, é só mais uma linha, não deseperem: há três linhas atrás quando escrevi word, ó santinho, o nome do dito cujo, ele também o sublinhou a vermelho, sofre de amnésia, não sabe quem é, está desorientado, é natural, ando para aqui às voltas, não faz ideia, também, para onde vai – sossega, programa filho de Bill Gates, eu também não, anda meio mundo nessa incerteza…), que raio de dona sou eu, que raio de mãe sou eu, perguntava ainda ontem, também, por me ter esquecido de verificar se a minha filha dormia em paz, o coração bateu tão forte, apertado lá na caixa onde está. Que até inflacionei a idade do bicho em um ano, qualquer coisa como 365 dias.
O Pax é o cão, o grand danois manhoso que eu fui buscar a Ponte de Rol há cinco e não seis anos, no primeiro dia do mês de Agosto. Ele veio numa caixa de papelão, quatro quilos de cachorro que não se tinha ainda nas patas, uma doçura, coisa de anúncio de papel higiénico (não comeces, não comeces, isto é um esforço desumano para não desviar o assunto, mas porque é que os anúncios da indústria farmacêutica são tão maus? Agora, todos os dias, deito-me uma hora numa caminha da fisioterapia e, para além de Saramagos – sacana do comuna é bom -, leio, também, a imprensa de saúde e afiro que a publicidade dos grandes gigantes farmacêuticos deve ser feita pelas filhas dos directores que “tinham jeito para o desenho quando eram pequenitas”), era mais pequeno que o Rolf (e vocês não sabem quem é o Rolf, mas eu conto, é que ser mais pequeno que o Rolf é uma façanha: o Rolf é um podengo anão de pelo cerdoso, propriedade da senhora minha mãe, o primeiro cão que ousou pôr a pata em casa de gatos, na altura em que nasceu, era o exemplar nº 97 registado no Clube Português de Canicultura), uma semana depois já era maior, mas não interessa, quando se encontram, o Rolf ainda pode latir qualquer coisa como: eu lembro-me quando tu eras um caga tacos que não se tinha nos quartos traseiros, por isso, bolinha baixa, matulão, que eu tenho idade para ser teu pai.
A imagem que se guarda na memória, a primeira, depois guardam-se muitas outras e algumas não são boas – num outro dia, dei boleia ao Gustavo da Praia das Maçãs até às Olaias, e com o trânsito parado ao longo do IC 19 disse: a única vez que enlouqueci foi por causa dos cães –, é esta: bola de pelo preto e focinho empapado de Nestum, lá atrás, no banco do Twingo, e o Pedro não veio comigo, provavelmente, se tivesse trocado uma tarde de trabalho árduo no ministério da Saúde, pelo passeio de auto-estrada até Torres Novas, também não se teria apercebido que o indivíduo que vende candeeiros de latão e cães de raças gigantes, era um charlatão de primeira, que me vendeu gato por lebre, por assim dizer, esquecendo o aparte de estarmos a falar de canídeos e não de felinos, muito menos leporídeos (isto foi o senhor 50.000 que me ensinou; eu sou limitada em termos de vocabulário…). Temos um híbrido, uma mutação genética, exemplar único de uma nova raça ainda sem estalão, que dá pelo nome de grand labrador (eu explico: corpulência de grand danois e pelo de labrador).
O cão, que recebeu o nome de baptismo de uma ex-ministra da Saúde, que não fosse ter abandonado o cargo uns tempos depois, antes de a besta pesar 60 quilos distribuídos em 1,80 metros de altura, o teria pedido emprestado para meter medo aos sindicalistas da classe médica, ficou sentido, tive a certeza disso quando perguntei: que dia é hoje? 16. Ai, foda-se - sai-me sempre o calão nestas alturas -, e levantei-me num pulo do sofá laranja, que ainda não seja meia-noite, pedi ao Deus do Tempo, do Pax já não me posso redimir, ó tempo volta para trás, e tu, canitchone, perdoa a tua dona, mas olha, já nem vou ao talho do senhor Vieira, aliás, o que será feito do senhor dos olhos lacrimejantes, casado com uma mulher com traços suínos (que apropriado, um talhante casar com alguém que reúne características físicas semelhantes às das febras e costoletas que o seu facalhão corta como se fossem feitas de manteiga), e, por isso, já vês: não te podia ter levado uma tíbia de vaca de presente, com um lacinho de cetim. E nisto, a moldura do Pax com seis meses, de boca aberta a bocejar, como quem diz “WHAZZZUPPPPPP?????” caiu da prateleira, e, caraças, ele está mesmo zangado, tenho que arranjar, pelo menos um fémur de vaca para ele me perdoar, mas eram 23:13 e eu suspirei de alívio e pude dizer parabéns ao amigo de sempre, ao amigo para sempre.
Isto de ter um telemóvel baixo de gama, cuja performance mais espectacular é ter uma lanterna que alumia no escuro, é o que o salário dá para pagar, azarinho do caraças, faz com que estas lembranças à última da hora valham palladium (vocês também, decerto, não sabem o que é palladium e eu também não saberia se não tivesse sido jornalista de economia durante anos a mais, quase me toldou o cérebro o feito, mas depois, posso fazer estes brilharetes e outros do género, perfeitamente inúteis – estais rodeados de palladium, ficai sabendo: o processador do vosso computador deve levar um bocadinho pequeno deste metal precioso, e vós, companheiros da ortodontia, vós também tenhais palladium na boca, certamente).
Não tenho a mão da tecnologia a auxiliar-me a memória. Este amigo, que quer que eu abandone o domínio blogspot e migre para o domínio da sua empresa de telecomunicações (só se me pagarem muito bem é que mudo, lamento, a vida é mesmo assim, e já que ninguém, à excepção da esquizo, me quis comprar um conto por um conto, tenho que fazer render este peixinho), foi o primeiro a ler os meus posts, no tempo em que não havia blogs. Semanalmente, enviava-lhe o “mote da semana”. Tem-los guardados, assim como os cartões de Natal que lhe desenho todos os Dezembros, os únicos que desenho (também tenho jeito para a coisa, e o meu avô até foi bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, olha que gaita, porque é que não me pagam para fazer anúncios a comprimidos?), e os milhares de caracteres que escrevi, estão num ficheiro protegido com password, chamado Amelices. Deixem ver se me lembro ainda da password (só um momento)… Sim, lembro ainda, e nesta fase, há quatro anos atrás, as minhas palavras-passe não eram palavrões. Foram 65.000 caracteres muito bonitos que não vou reproduzir aqui, são dele, quando eu morrer, ele que os publique, se quiser, se eu for alguém na vida, que consiga vender um décimo dos exemplares da Margarida Rebelo Pinto. Ele que espere sentado, porém, porque eu não vou ser mais do que a jornalista maluca que escreve posts de sete mil caracteres sobre o professor de Filosofia, cujo nome foi roído pelos peixinhos de prata, sem contar, aos 15.000 caracteres de texto, porque raio este homem a marcou, e ele sempre acreditou que eu seria uma grande escritora, e eu sempre acreditei, também, que ele seria quem é hoje, mais que não fosse, devia, pela confiança que depositou nestes dedos, escrever qualquer coisa que tivesse princípio, meio e fim.
7.229 caracteres – BINGO!
(daqui a umas horas, finalmente, o último capítulo do professor de filosofia)
2 comentários:
Muito bom, muito bom, muito bom, muito bom, muito bom, muito bom (sim estou-me a passar, mas tens esse condão...), muito bom, muito bom, adoro estes teus delírios.
Aliás, merecias 7,230 caracteres de mais e do mesmo.
w.v.: moxte (assim seja... vou prespegar-te!)
Chiça que fiquei cansada !
De te ler e de me rir :-)
Delirante mesmo...
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