quinta-feira, outubro 26, 2006

Arco-íris

Talvez eu devesse contar-vos, à boleia do segundo episódio seguido de Noddy que passa na televisão bordeux, e que traz à metade loira de mim a história do arco-íris mágico do país dos brinquedos e do tesouro escondido algures atrás de uma colina onde ele nasce, sobre o céu de milagre que se decidiu abater sobre nós, sobrepondo-se ao cinzento carregado dos céus chuvosos de Leiria, quando decidimos arredar o pé da cidade que tem um estádio encarnado encostado a um castelo, com todos os sentidos embriagados e quase enternecidos pela docura e mau gosto indescritível do casal de idosos proprietário do café Sem Niveau.

Sinais de Deus é o que é.
Que me dizem que a escolha de um vestido de linhas simples, sem bordados, rendas ou mariquices à revelia e sem a opinião das três madrinhas, a 110 quilómetros de Lisboa, não foi um erro, uma compra por impulso, e que talvez o véu com as rendas de guipure cor de sangue sejam apenas o que falta para compor a imagem da virgem que eu gostaria de ter sido - o amor, repito, nunca é tarde demais para me auto-plagiar, até porque o joão Pedro George não é meu leitor e dificilmente me irá dissecar o blogue, o amor é directamente proporcional às golfadas de sangue que se está disposto a derramar, e era isso que o véu debruado a sangue poderia querer significar no dia em que passo de SOL para CAS no bilhete de identidade - o dia em que a minha filha voltar a ter o nome com que nasceu será igualmente solene, talvez dos melhores da minha vida, mas isso é daqui a muitos anos, quando eu já tiver o cabelo todo grisalho e, provavelmente, a tapar-me o rabo, numa espécie de promessa.
E que o noivo, ah, que coisa tão pirosa de se escrever, melhor que isto só a minha manicure que tem uma série de unhas partidas e descuidadas - em casa de ferreiro espeto de pau, já diz a preciosa ajuda dos ditames populares -, que em 15 minutos de manicure fast food que transformam as minhas mãos, e mesmo antes de eu desembolsar 4,5 euros pelo serviço ultra-rápido e milagroso, é capaz de dizer uma média de 55 "o meu esposo", que o homem tímido de cabelos dourados e revoltos que, contra todas as superstições viu o vestido da noiva, é o homem da minha vida.
Mas, francamente, para sabê-lo, para ter essa certeza, não precisava de um arco-íris sobre uma rotunda de acesso à autoestrada, à saída de Leiria.

8 comentários:

Anónimo disse...

os arco iris ás vezes só nos aparecem diante dos olhos para se exibirem. "repara como sou bonito!"
Há coisas que basta sentir. Basta sentir. E sente-se aqui que o futuro esposo ( :) ), não precisa de te dar um arco iris so para ti para saberes que estás diante de um milagre.
O amor é sempre um milagre Dia.

MPR disse...

Ainda pasmo com a tua capacidade para o extraordinário...

Anónimo disse...

P.s- talvez um dia, quando venderes tanto como a M.R.P, o JPG, use o esplanar para dissecar a tua escrita e apontar todos os teus auto-plágios.
eu sou a definição de plágio em relação ao que escrevo. Não nos repetimos todos constantemente?

P.s1- Será que o MST também plagiou como dizem? Era uma pena. Gostei tanto do Equador. Tenho que passar pelo esplanar para ver o que o JP George diz sobre o assunto.

A. Pinto Correia disse...

E eu estou a aprender a pasmar com a tua capacidade para o extraordinário. Porque tive a infelicidade de te "conhecer" depois do MPR.
Um beijo

Anónimo disse...

e afinal como vai o noivo? tenho de lhe mardar um catálogo de kilts?

Anónimo disse...

mandar, mandar. ai as gralhas...

Isa disse...

mas casaste-te entretsnto ou não? bjs mil

Heiabelha disse...

Gosto de pensar que o arco-íris é um sorriso de Deus. Ele sorriu-te.