O professor de Filosofia (fim)
O professor de filosofia chorou. E ninguém estava à espera disso, houve um silêncio constrangedor quando ele irrompeu em lágrimas, apertando o embrulho que eu lhe entregava, à altura do seu peito, em nome de toda a turma.
O professor de Filosofia, cujo nome não era Carlos Pedro, mas, para o efeito desta série de posts, era quanto baste e até resultava bem, ia casar-se. E os seus alunos troçavam, conjecturavam nos intervalos passados na fila do pré-pagamento da cantina para comprar a senha do almoço, ou uma bola de Berlim ainda quentinha para quebrar o jejum da manhã, quem seria a aberração que se submeteria a viver sem televisão, no meio do silêncio e dos livros do professor de Filosofia, mas no fundo, o professor de Filosofia era estimado e muito respeitado.
Sabe-se lá de quem foi a ideia. Provavelmente foi minha, é bem capaz de ter sido. O professor de Filosofia foi um grande mentor, uma pessoa importante para o desenvolvimento da minha personalidade, apesar de não me conseguir recordar do nome dele. Fez-se uma vaquinha. Cada um deu o que pôde, e até as Ameixoeiras, que o odiavam, contribuíram. Não era muito dinheiro, mas deu para comprar uma caneta Parker, de tinta permanente.
O professor de Filosofia não estava à espera, suponho que tenha sido a beleza do simbólico e do ridículo de uma caneta Parker azul-escura que o tenham comovido. Há-de haver muito boa gente que ainda se lembra disto, quero acreditar que não sou só eu, há-de haver muito boa gente que até se lembra do nome do professor de Filosofia e que, de vez em quando, chega a casa com um presente inesperado, só porque se lembra das lágrimas do professor espartano, cuja face, toda ela parecia que lutava contra aquela emoção enquanto eu lhe estendia o embrulho à altura do peito.
Não há mais nada a dizer sobre o professor de Filosofia.
3 comentários:
E é o suficiente. Basta o gesto, a intenção do presente.
Bjs
ca lindo...
comovente. qb, mas sim.
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