666
É o número da besta.
Lá em casa, à semelhança do 25 de Abril - como já vos disse, é mais conhecido por 25 do 4 e por ter escrito a data já estou com urticária -, não se profere o número da besta. Por superstição - e nós somos supersticiosos, como tão bem reparou alguém que me envia "beijos apreciadores" e que, por isso, já tem direito a uma label só para si no meu gmail -, diz-se 665+1.
Taradices.
Não fiquei muito contente quando entrei no Mercedes e dei de caras com o 665+1 estampado no vidro da Covina.
Mas não era a primeira vez que apanhava aquele táxi e tinha até boas recordações suas - uma viagem num Merecedes bem limpinho e apresentável, com ar condicionado e um motorista que não exalava qualquer odor corporal repreensível e que me deixou sozinha com os meus pensamentos, é no silêncio dos táxis que me lembro de histórias para contar; essa viagem anterior do 665+1 foi boa, pasquim - museu da cidade, recordo-me bem, o Luís Magalhães a chatear-me o juízo para eu emigrar e os vaidosos pavões do Palácio Pimenta a desfilarem por entre uma vereadora municipal que eu ainda não percebi se tem alguma doença degenerativa do sistema nervoso central, ou se dá forte no álcool ou nos ansiolíticos.
Mas, ontem, depois da viagem matinal a bordo do 665+1, deparei-me com um sério e grave problema para a feitura do tal livro sobre os fogareiros.
É que eles são muitos. O chauffer do 665+1 do turno da manhã, não é o mesmo da tarde, e com certeza, o que atravessa a cidade de noite há-de ser outro. E, se calhar, às segundas, quartas e sextas estão escalados uns, e às terças, quintas, sábados e Domingos, outros.
O motorista do 665+1 de quarta-feira de manhã fazia juz ao número do Táxi da Retális: era uma besta!
Tinha uns lindos olhos azuis, mas era uma besta! Uma besta em plena crise de andropausa.
Mão na buzina a toda a hora, refilanços com qualquer carro que se pusesse à sua frente, disparates alto e em bom som, até que eu lhe dizer, com a minha pouca paciência matinal "ele não o consegue ouvir e eu não faço questão", a pular de uma faixa para a outra, grunhindo com os dentes semi-cerrados: "a fila para onde eu vou nunca anda".
Muita raiva acumulada; só me lembrava da história do outro taxista que o Miguel apanhou, que lhe apresentou a solução milagrosa para o stress (outro dia houve um que me ensinou uma dieta milagrosa) - comer pastilhas. Muitas pastilhas.
O 665+1 das quartas-feiras de manhã estava chumbado àadmissão do meu livro.
Próximo!
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