quinta-feira, junho 23, 2005

Sobre a mudança - ode à minha casa pequenina

[Este Firefox brasileiro, "baixado" por engano para as entranhas do meu ressuscitado Compaq, está a dar cabo de mim: a página de abertura do Gmail, em vez de me cumprimentar com "Welcome to Gmail, a Google approach to email", não - tenho que gramar com qualquer coisa deste género "Benvindo ao Gmail. Um email que é do jeito e a cara do Google". Aqui, no universo brasileiro, eu crio "postagens" no blogger. As tabs do Firefox são abas - acho que é este o que mais me enoja... A preguiça, porém, é muita, e desinstalar o irmão bastardo brasileiro da raposa de fogo já me valia perder uma série de "bookmarks" (lamento Maique, gostava de ser ultra- geek como tu, mas não sou: essa é a dura realidade. Percebo alguma coisa, interesso-me, mas consigo viver nesta agonia brasileira...)]

A mudança nunca mais acaba. Por oposição, o meu anjo das arábias ainda agora chegou e já se prepara para partir (relativo, o idiota do tempo...)
O meu 10º andar sobre a Estados Unidos da América está desolador. É-me extremamente dolorosa, esta mudança.
Não sei porquê.
Não fui feliz nestas duas assoalhadas minúsculas com uma vista sublime sobre a cidade nova. Fui estupidamente miserável.
Mesmo muito.
Recordo a última noite com o Pax e a Maria, os meus cães gigantes mansinhos, que eu não hesitei em abandonar à primeira dificuldade, como o pior momento destes meus 37 metros quadrados de quem me estou a despedir.

A minha mãe no hospital, com o coração quase parado, um dia triste de chuva, eu magra, a primeira vez na vida em que eu fui magra, pálida, sem cor, excepto o negrume das olheiras, uma carrinha BMW com uma senhora baixinha e anafada, vestida de vison, no banco de trás, a garantir-me que eles iam ficar bem, que eu não chorasse que eles iam ficar bem, eu sem saber se era chuva ou eram lágrimas que caíam pelas bochechas abaixo, a Maria sentada no banco de trás e o Pax sem querer entrar, e eu a procurar no bolso do casaco de pele de antílope clarinha, sarapintado pela chuva, as 50 miligramas de sertralina, sem conseguir enfrentar a realidade sem uma droga poderosa, a carrinha a avançar e eu estática, no meio do parque de estacionamento, a tentar convencer-me que eles estavam melhores sem mim, que lhes tinha encontrado um orfanato de luxo, fiquei ali, parada, não sei quanto tempo, até que a D. Assunção me veio buscar, foi à janela, não sabe porquê, viu-me ali sozinha e veio-me buscar, não perguntou nada, nem na altura, nem depois, só me abraçou e disse-me que ia rezar muito para que eu tivesse paz nas desventuras...

Mas houve mais, muito mais momentos difíceis nestas quatro paredes. E piores até. Ou diferentes.

Ainda assim, sem nunca ter sido aqui feliz, amo a minha primeira casa, não a vou esquecer, e acredito que não tenha sido sua culpa.

Agora, preciso ser feliz com vista para a Duque de Loulé.

Adeus casa.

1 comentário:

K disse...

nao acho razoavel eu não comentar um post sobre casas:)
é incrivel o quanto nos ligamos aos sitios onde vivemos....ainda hoje sinto um aperto no coração quando passo no principe real...mas concordo com o mikel (sim..eu também acho que és um bocadinho guique, um guique frique e fixe, mas ainda assim guique) e também acho que uma casa nova é um novo principio e não posso deixar de desejar as maiores felicidades à minha querida amiga...que seja muito feliz na casa nova e principalmente..se divirta muito(não é para isso que a vida serve?;).bj