Carta (aberta, não gosto de lamber a cola do envelope) ao meu "cunhado"
Caro cunhado (epero que perdoes esta do "cunhado", e a da carta aberta também, mas fica sabendo que "cunhado" é um termo tão carinhoso como os ursinhos do DVD que a minha filha está a ver - não há nada como substituir um vício por outro: achei que a fixação no Noddy estava a ultrapassar todos os limites e vai na volta troquei as cores primárias e fortes do pequeno duende e o seu carro amarelo, pelas cores pastel e coraçõezinhos dos ursinhos carinhosos - e que eu chamo toda a gente de "amor" - e às vezes "amori", com um petit accent alentejano -, e quanto à carta aberta, é lixado, realmente, onde é que fica a privacidade e tal, mas, como diria a mulher cujas botas de estilo militar que, sem saber, me chutou, com a biqueira de aço, um amor servido em bandeja de prata, através de um post sem link de um blogue de referência, eu cá escrevo com liberdade extrema, demasiada até, mas se ainda não me lixei até agora pode ser que passe, a sorte protege os audazes é o meu lema desde sempre e, se calhar, o Flocas tem mesmo razão no seu comentário: a (T)ralha voltou nos moldes de antigamente, sem tento nenhum na ponta dos dedos.),
Mas que gaita é esta? Achas isto razoável?
Andas para aqui há meses a ler, pela calada, o quintal, sem tecer comentários, sem deixar marcas do crime, nem o CSI Miami te apanhava, vai na volta, lês a pandilha de desembestados toda, de fio a pavio, e quando é que a gente te conhece? Quando é que sais da casca? É que, assim, só temos a versão do Trafuncas, que deu a entender, num jantar cá em casa, que tu aparentas ter 25 anos (não tenhas medo: o João parece ter 18).
Não. Não pode ser, és um segredo demasiadamente bem guardado, e cá entre nós, amigas esquizos (um dia, num post, explicarei o que é isto da amizade esquizo, dá pano para vestidos de noiva), não há cá amigos mistério, namorados anónimos e/ ou sociopatas, portanto, não tens escapatória: estás arrolado, acariado, convocado, obrigado a comparecer, em regime de voluntariado amarrado, numa brutal sardinhada, que se há-de marcar para a semana que vem (isto com os constrangimentos absurdos dos jogos do mundial - sim, não vi nenhum, infelizmente, agora telefonam-me a dizer se Portugal ganhou ou não, como se eu não viesse a descobrir minutos depois, eu sofro na pele - literalmente, com surtos de urticária - a maldição de viver debaixo dos pés do senhor Marquês, mas não sei quem passou à final, se a Alemanha, se a Itália, o que é que isso importa? Hoje a Coreia do Norte andou a brincar aos mísseis e isso foi a quinta notícia do alinhamento do jornal da tarde, e eu não tenho bandeiras à janela, nem estou a ver o jogo, mas armei-me em verdadeira patriota e fui dar sangue, enquanto todos vós despacharam o serviço e trouxeram o carrinho para Lisboa para ficarem coladinhos ao plasma lá de casa. Saiu-me o tiro pela culatra, porém, e fiquei chouriça, sem forças, com os braços picados, tive que vir para casa com uma dor de cabeça tão grande que não era compatível com o trabalho, e, graças a Deus, todos no jornal sabem que eu não ligo à bola, senão pensariam que era uma grande balda e a pior desculpa de sempre, mas, para a próxima, já sei que é má ideia fazer análises de rotina no braço esquerdo e, quinze minutos depois, decidir ir ao Júlio de Matos, tirar um litro de sangue do braço direito, isto tudo em jejum, ao meio-dia e meia, mas foi uma aventura daquelas que só se fazem com as amigas esquizo (a primeira e mais esquizo é a tua namorada), a madrinha T passou a ser irmã de doação de sangue, e o amor ia acontecendo com uma agulha que não queria espetar a veia muito verde do braço leitoso da T, o amor fugiu, mas como recordação de como esteve tão próximo, o enfermeiro Patrício deixou-lhe um hematoma no braço direito para mais tarde recordar, e ainda se esforçou por deixar mais marcas de amor, colando um penso pessonhento no braço esquerdo da minha madrinha e irmã de sangue (tão querida, a minha esquizo, fez a veia de difícil só para ficar com os dois braços furados como eu; amanhã passamos por drogadas, pior para ela que tem que andar no Satu e eu vou no ar condicionado do meu Idea).
Cá em casa, enquanto vocês sofrem pela mais que provável derrota da selecção, a loira toma banho e cantarola ao som do João Sebastião Bach: concerto para dois oboés aldrabado, diz-me o João, porque o que sai das colunas é um arranjo doido com um oboé e com um violino, e o bacalhau coze em água que borbulha, e o candeeiro que esperava há um ano para dar à luz já dá, e isto é uma espécie de privilégio, seres o primeiro a receber alguma coisa escrita debaixo do candeeiro que é temperamental, que tem um reóstato que gosta de festinhas, e que dá mais luz consoante as carícias que se lhe fazem no lombo, e, caro cunhado, isto já me está a parecer um post, comecei a escrevê-lo na noite de quarta e acabei na noite de quinta, por isso, porque isto já vai longo e já me doem os joelhos de estar sentada na mesma posição (a loira, agora, brinca às casinhas, com umas mobílias de madeira em miniatura que comprei para ela, quando ainda nem sonhava tudo o que já me aconteceu), porque o jantar já não é bacalhau, mas sim, tortilha, porque já não escrevo debaixo do candeeiro esquizo, mas no sofá laranja, porque a loira hoje não tomou banho, porque levaste com uma posta de pesacada que nunca mais acaba (e ainda tenho que ouvir a ciumenta da tua namorada a dizer-me que eu nunca lhe escrevi um post; logo ela que foi a única que disse que me comprava um conto a um euro: eu não pretso mesmo e ainda não o escrevi - talvez se ela me dissesse que fazia anos no dia em que eu fiz figura de parva ao telefone a perguntar se vocês estavam a "mandar uma"), não podes mesmo continuar escondido, dizer que não à sardinhada que se há-de marcar no rescaldo da esquizofrenia do Mundial.
6 comentários:
Genial! :) e o final! um beijo na bochecha direita
(dói, dói muito. amanhã ligo ao Patrício a reclamar o meu amor!)
A schizo Dia no seu melhor.
jogamos ctr a alemanha para os terceiro e quarto lugares, sábado. os fdp dos franceses jogam a final com a Italia no domingo.
Muito bom! :)
Sardinha no rescaldo!?! Contem comigo.
Buga toda a gente convidar assim... pelo menos, pelo menos bué da pipâl. Part'weeeeeeeeeeeeeeee!
E já sabem, podem contar comigo para falar a mais (sim, num é demais, é a mais.) e de priopinar sobre as idades das pessoas e depois nem me lembrar. Ó curiosidade aguçada... Quem é bacano? eu conheço? Ele há mais versões?? P'além da minha, da qual num ma lembro.
Estás a ver como relio os teus textos?
A propósito, o Flokas disse isso: «sem tento nenhum na ponta dos dedos»? Muito bom...
E pronto já sei quem é o cunhado. Mas sei tanto ou menos do que tu, como imaginas.
Amorii, Aquele Beijo
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