segunda-feira, julho 31, 2006

Trolha (a experimentar profissões que me podem dar um rendimento decente, ou pelo menos pagar o colégio da Carolina)

trolha
A primeira experiência: trolha (é parecido com tralha, decidi começar por aqui - há poucas coisas que me animam mais do que um joguinho de palavras - há quem se divirta a jogar Solitaire no horário de expediente, quem saiba arrotar todo o abecedário com mestria, por isso, cada um com a sua).
A remodelar 37 metros quadrados de património da família e a ser paga para isso. A Magui podia contratar alguém, mas eu tenho bom corpinho para as obras, e preciso, urgentemente, de dinheiro. Não sei se me faço entender. Não é para luxos. É para as coisas básicas. Pagar as contas e tal, o que me lembra que tenho a Netcabo atrasada, que os seguros do carro, casa e o de vida devem estar quase, quase a chegar ao correio e a deixarem-me, de novo, com a corda presa ao pescoço. Se calhar, a família pode-me contratar para eu lavar as escadas na Avenida do Brasil. Quando o ordenado não estica mais, apesar dos preços muito baixos do Lidl de Xabregas (com a sua fauna autóctone, inspiradora dos meus belos textos), quando as taxas de juro sobem de três em três meses, quando a miúda precisa de bibes, sapatos e Noddys, muitos, de todos os feitios e tamanhos, para evitar sindroma de abstinência, pega-se em tudo: na vassoura, nas folgas, no rolo e na tricha. Sem hesitar, sem nunca hesitar. Trabalhar nunca fez mal a ninguém, só dá uns calos nas mãos e umas noites de sono pesado, que passam a correr.
Arruina as unhas ser trolha (ser tralha, também não lhes faz muito bem: partem-se com a raiva dactilografada em teclados macios). Dá cabo da produtividade literária - neste ritmo, nunca mais chego aos mil posts. Faz doer as costas e as mãos (pintar paredes dá mais tendinites do que escrever textos a metro - e enquanto escrevo isto, o gato 200 gramas trepa pelas pernas do senhor 50.000 e fica pregado às passadeiras do cinto; vou fotografar).
200 gramas
Mas sabe muito bem, a recompensa pelo trabalho não ser aleatória, ser causa-efeito: trabalhas bem, recebes bem; pintas paredes até às três da manhã, tens a metade que te compete, da mensalidade do Valsassina, paga por seis ou sete meses.
Próxima profissão acima dos dois mil euros mensais que vou experimentar?
Enquanto pensam, eu vou ali pintar um tecto de casa-de-banho e já volto.

5 comentários:

Lcego disse...

Ohhh tão lindos ...todos...até as tuas unhas...começo a sentir o teu blog como o final de um filme romântico...tudo acaba bem e suspiramos no fim depois de ter passado o nó na garganta. Lindoooo!

Anónimo disse...

o gatinho 200, o sr 50000... quem quer saber das pombas do espírito santo?

toupeira disse...

i´ve been there...

e soube tão bem! houve grandes mocas de diluente, quase todas as paredes ficaram com uma demão a menos, os rodapés por envernizar, ainda há fendas mal escondidas e aposto que daqui a 10 anos ainda vai faltar muito mais. tudo feito em horário pós-laboral, das 11 à 2 3 da manhã e a ir trabalhar no dia seguinte com tinta nos cotovelos.
e não trocava estas paredes verdes e laranjas e castanho-chocolate e vermelho-sensual, mesmo mal pintadas, por nada deste mundo.

Diverte-te

Rui disse...

Ando necessitado de uns conselhos sobre tintas anti-humidade (?) para tectos de casa de banho interiores...

Mary Mary disse...

Arruinar assim as unhas até dá gosto... Ao menos não é desfeito o pai de todos com os nervos! :D