segunda-feira, julho 17, 2006

Uma página por dia e a falta que tu (ainda) me fazes

Não é a primeira vez que apanho o sobrolho da Sílvia levantado, como quem tenta perceber porquê. Hoje encolhi os ombros também, olhei para o prato, afundei a covinha da bochecha direita com um sorriso amarelo forçado, suspirei, e expliquei ao senhor 50.000 a minha aparente morte cerebral naqueles escassos segundos da hora de almoço: “Estava a escrever um post na cabeça”.
Um ano sem ir almoçar ao Lacinho e ela ainda se lembra que a minha água é sempre natural, quer seja Inverno, quer seja Verão. Se o Agostinho ainda lá estivesse proibia-me de comer batatas fritas e bifes cheios de molhos deliciosos e, quanto ao arroz doce, só um por semana. Era esse o trato.
Não sei porque estou a cortar a escrita com tantos parágrafos; talvez, porque, hoje, a minha sogra Cecília tenha revelado ao filho que é leitora do (T)ralha, e eu, meia envergonhada, lhe queira facilitar a leitura dos extensos escritos colados nas janelas deste blogue, que não está à venda, mas que busca, desalmado, com um frenesi semelhante ao da véspera de uma visita de estudo, um novo template, e, sim, de borla, porque os leitores têm direito ao Truman/ (T)ralha Show todos os dias, ou quase todos os dias, num qualquer monitor de computador próximo de si, e há todos os ingredientes de um blockbuster: temos sangue, há pouco suor, é um facto, porque nem com 40 graus à sombra eu consigo libertar toxinas pela epiderme, valem-me as lágrimas, demasiadas até para o meu gosto, gosto mais de rir com os dentes todos, mesmo agora que eles estão a voltar ao sítio, semi-desalinhados de novo, e nem me importa o duplo queixo, dos quilos a mais, que aparece sempre que rio a bandeiras despregadas (a Teresa que, eu suponho, anda a montar o Tralha em livro, devia fazer vários livros; este, o mais recente, o que começou no jardim da Estrela é um diário de amor; os anteriores, são todos diários de ódio), portanto, eu até merecia um template bem bonito, já que presto uma espécie de serviço público na blogoesfera, uma espécie de striptease por uma boa causa (Teresa, Esquizo, ou quem quer que esteja a fazer a minha prenda de anos, graciosamente, por baixo do título deste blogue, quero a seguinte frase: Este é o meu corpo)
Parágrafo, que este já vai enorme.
Uma página por dia. Há candelabros encarnados nas paredes, duas velas em cada um. A revelação surge-me às escuras; as velas estão na parede, mas de olhos fechados está escuro. Se eu escrevesse posts de uma página A4, o livro do (T)ralha tinha já perto de 700. Deixem-me pegar numa resma e meia de papel. Literatura ao quilo. É muita página. Este post está a ser escrito no Word (facilita a correcção das gralhas e facilita, também, a criação de outras: no outro dia, a companhia aérea Sata ficou Satã), a Times New Roman (arghhhh), corpo 12. Já tem página e um quarto O poder de síntese não é o meu forte e este post de hoje falas de duas coisas muito distintas, não sei se vou conseguir, em todos os casos, fazer pontes lógicas de um para o outro, mas por causa da Cecília, pelo menos, faço parágrafos.
Outro.
De repente, fez-se do amigo próximo o distante. Este verso é do soneto da separação, de Vinicius de Morais. Toca em surdina cá dentro, apesar de os headphones me trazerem um fado-tango de Adriana Varela (powered by Dijei Madrinha T). Podia ter ido buscar o coçador de costas e calçadeira de sapatos com o galo de Barcelos em todos os minutos daquela tarde. Podia ter arranjado outro lugar de estacionamento, na Praça mais bonita de Lisboa, ou perto da residencial Zé Bastos, a meio caminho andado do Príncipe Real, como é costume, mas o demónio do estacionamento quis de outra forma, que estacionasse em frente a um determinado prédio, onde, em tempos ouvi Ali Farka Toure pela primeira vez. Quis que eu descesse a rua, com a loira de mão dada, e que estivesse um jipe verde escuro parado ao fundo da rua, à procura de um lugar, de um jeitinho do demónio (é tudo obra dele). E o telefone toca mesmo agora, e é ele, quer-se chatear comigo, quer culpar-me da incompetência de um seu estagiário, o coração sai-me do sítio, e isto dói-me tanto, ficar de costas no Lacinho, e a Sílvia sem perceber como é que do amigo próximo se fez o distante, e eu sem saber porque é que já passou um ano, passou um ano precisamente hoje, e ainda me dói tanto, e agora toca o Anthony e chora assim, enquanto canta “Forgive me; Set my spirit free”, e sabias que eu tenho uma casa-de-banho cor-de-laranja, com chão preto, só porque tu tinhas uma igual?

Maria Teresa: Este é para o Livro do Ódio.

2 comentários:

[ t ] disse...

Existem dois livros sim, e ninguém te disse que existem. aiaiaiai!!! e a frase humm vou pensar no assunto...risos

Músicas bonitas, olha não esqueças, vai até lá e parte o coração do desgraçado apenas com dois sopros! Porque o outro já lá foi e não teve importância, e tu que lhe ligaste, eu é que devia falar contigo e mostrar-te a santidade, só vê quem quer ver.

Carrie disse...

Não se faz Dia. Só agora reparei neste título. Não se usa esta música de Vinicius em lado nenhum. Está guardada numa caixinha verde alface e não pode saltar cá para fora. Muito menos se usa com pessoas que não o merecem...