sábado, julho 30, 2005

Jaime

Jaime é um pianista trágico, com uma higiene capilar duvidosa.
Tem uma vozinha de falsete e muitos tiques nervosos: pisca os olhos freneticamente e faz ginástica com os dedos, no ar, nas mesas, onde quer que esteja, como quem acaricia um piano imaginário.
Encontrei o Jaime, por acaso. O camarada Cerejo mandou-me para a rua: "Vai encontrar uma história, coisinha!". O Cerejo chama-me coisinha. Talvez saiba o meu nome, acredito que, pelo menos, conhecerá o meu estranho apelido, mas insiste no "coisinha".
Aceitei o repto sem hesitar, não me apetecia estar no bunker da rua Viriato, a carregar no "refresh" do Gmail compulsivamente, à espera de notícias de um pombo, que suspeito que anda de asa ferida.
Assessorizei um pouco - que é o verbo que eu inventei quando vou tomar café com um determinado assessor da praça -, e depois de ter bebido uma água Campilho (foi a primeira vez que bebi uma água Campilho, por isso é que a menciono), fui à procura de uma história.
Senti-me turista no centro da cidade. Gostei de ver a cidade assim. Como se fosse pela primeira vez. Abençoei o Cerejo várias vezes por me ter mandado para a rua - no meu peito uma angústia terrível, e eu impotente, sem saber nada, sem poder fazer nada, andava nisto, coração apertado, quando esbarrei com a primeira potencial história: um sapateiro que parou no início da revolução industrial. Achei que aquela era a história - sapatos, um dos meus temas favoritos, mas o velhinho que tresandava a cola de contacto, não se sentiu atraído pela ideia de aparecer num jornal.
Vagabundei entre a Estefânea e o Saldanha, a tentar forçar o destino, e, quando já tinha desistido, encontrei o Jaime, a tocar Nick Cave e Tom Waits num Centro Comercial. A tocar, a tocar bem, por sinal, sem ninguém se dar ao trabalho de ouvir. Já nem digo aplaudir, pelo menos parar um bocadinho e ouvir.
Lá tenho que dar o braço a torcer e revelar-vos mais um ensinamento do Zé Ralha - fónix, o senhor, afinal, ainda me ensinou meia dúzia de coisas, não muito úteis, ensinamentos profundos, apenas, de um homem que diz ser um reservatório de conhecimentos inúteis.
Um dia, fomos à Baixa, e de dez em dez metros, o Zé Ralha insistia em parar, escutar ou observar e, no fim, aplaudir, a arte de rua de todos os mendigos - cegos, amputados, velhinhos, ou apenas vagabundos. À primeira, uma criança ainda acha piada, ao sétimo já não há cú.
E nisto, quando a minha cara de tédio e inquietude já não enganava ninguém, ele sai-se com esta, que me acompanha até hoje: "não dês só a esmola aos ceguinhos. Perde cinco minutos a ouvi-los também." E ali ficámos, mais de dez minutos, a ouvir o velhinho que tocava guitarra clássica e que, salvo erro, ainda actua por aquelas bandas.
Alguns poucos anos mais tarde, andava eu a cantar músicas bonitas nos túneis das estações de metro de Roma e Alvalade para ter dinheiro para comprar um bilhete para os Madredeus no CCB, e percebi a importância de alguém se dar ao trabalho de ouvir o que estamos para ali a fazer. O dinheiro, claro, a esmolinha, era muito benvinda, mas eu ficava bem mais contente quando alguém despejava o porta-moedas - houve um tipo que me deu mil escudos e há doze anos atrás isso era muito dinheiro - e perdia dois minutos a ouvir.
Por isso, sentei-me numa mesinha do dito centro comercial e ouvi. E bati palmas no fim. O Jaime agradeceu com aquilo que sabe fazer; perguntou se havia alguma que eu quisesse que ele tocasse. No meu cérebro passou de raspão a frase batida - play it again, sam -, mas soltei um inesperado Bach. Bach a um tipo que estava a tocar Nick Cave. Só eu. Surpreendentemente, ele tocava Bach.
Foi nesse momento que soube que estava ali a minha história.

sexta-feira, julho 29, 2005

Não dá

Hoje não dá.
Se escrevo, vai dar merda de certeza.
Vou falar do que não devo - até queria falar da noite bonita com as siglas AKP, mas não dá.
Rezo para que tudo fique bem, para que as três horas que passámos ao telefone, sejam só um sonho mau, peço que tenhas dormido bem, que não estejas louco, esquizofrénico, paranóico, que hoje te tenhas levantado e apercebido que ninguém te vai fazer mal, a ti, a mim, aos teus pais, que estás esgotado, apenas isso, que precisas de férias, peço sobretudo, a quem quer que seja, que a tua vida não acabe aqui, assim, por causa de demónios que vês por todo o lado, que te ameaçam, que te aterrorizam. Passámos por tanta coisa juntos, temos tanto ainda para passar, e eu não aceito que tenhas passado para o outro lado. O teu futuro é brilhante não é num quarto de um hospital psiquiátrico.

quinta-feira, julho 28, 2005

Déjà vu

O dia começou cedo, não me lembro sequer quando foi a última vez que respirei a cidade tão cedo.
A cidade é linda de manhãzinha.
Quase me esquecia como a cidade é linda de madrugada.
Na minha cabeça, desde ontem, durante toda a manhã deliciosa esta: "If one day, I didn't come to see you, what would you do?". A Binoche linda e desgrenhada, a levar um murro no estômago com a resposta de um senhor muito moreno, sikh: "I'd try not to expect you".
Triste, não desarma, não se contenta com a ausência de expectativas: "Yes, but if it got late and I hadn't shown up?" e a resposta não é, novamente, aquela que queria ouvir:: "Then I'd think there must be a reason".
É a história da minha vida.
"You wouldn't come to find me?
That makes me never want to come here..."
E eu insisto nisto, quero acreditar que no plano seguinte eu arranjo a coragem para dizer: "
Then I tell myself: he spends all day searching, in the night he wants to be found."
E apesar de ter a certeza que cheguei em má altura acredito que hei-de ouvir: "
I do. I do want you to find me. I do want to be found."

terça-feira, julho 26, 2005

O dia em que o teu coração decidiu não parar

[Para o senhor da outra reencarnação. Que nos continuemos a encontrar nas próximas.]

"Rápido, vem para casa rápido". Eu estava na esquina da Casa das Lâmpadas, a cortar para a Estados Unidos da América, no Twingo, sei perfeitamente o que trazia vestido, estava bonita, estava bonita apesar de trazer o olhar perdido, afogado na bomba russa, as 50 miligramas de sertralina que me faziam levantar da cama.
Ia a pensar na vida, a Rita tinha-me feito sair de casa uma hora antes - anda, vem tomar café ao Independente, e eu a tomar café com aquele que viria a ser o pai da minha primeira filha, eu a tomar café com ele sem saber disto - e no regresso - tenho tantas saudades do meu Twingo -, quando o telefone toca, percebi logo que o teu coração se preparava para parar outra vez.
"Calma, calma, eu estou bem, liga para o 112, liga só para o 112, eu já fico bem". Eu branca, gatos por todo o lado no teu quarto, e tu aflita, sabias que eu estava por um fio, que não ia aguentar uma segunda paragem cardíaca em apenas uma semana, o teu coração a parar e tu a fingires que não era nada, liga só para o 112, já passa. Eu quero ser uma mãe como tu és para mim. Ainda me mediste a tensão, estava perto dos 20, tão alta como a tua, uma taquicárdia brutal, 180 batidas por minuto, e o teu 50, tem calma, a ambulância já aí vem, mas eu sentia-me muito calma, parecia tudo um sonho.
Ambulância do INEM à porta em três minutos, eu não falava com o Pedro e se, na altura, não estivessemos com um ódio de morte um pelo outro, ele teria enviado um helicóptero para ti, mãezinha - como ele te chama. Aplaudiram a minha calma, os tripulantes e o médico. Gracejei: é o Zoloft e o Xanax. A minha mãe a morrer e eu a fazer graçinhas com fármacos da Pfeizer.
Regresso às urgências de Santa Maria. No meu casaco, um código de barras encarnado e um A de acompanhante escrito à mão, na portaria, contigo deitada na maca, ventilada. Regresso ao banquinho silencioso junto à porta dos cuidados intensivos. Horas a olhar para os meus sapatos, lindos, Pura Lopez, 150 euros salvo erro, sem me aperceber que o tempo passava e toda a minha família estava lá fora à espera de notícias.
"Dispa-se, por favor". Eu a olhar para os sapatos e essa cena a repetir-se. Tu a teimares que não te querias despir, que te querias ir embora, e eu quase a desmaiar, sem saber como te convencer. Tu sem brincos, sem os anéis, sem nada do que é teu, por isso é que não te querias despir, porque ficavas frágil e eu nunca te vi tão frágil, tinhas razão, de bata fininha de algodão verde, muito magra, eu nunca te vi tão frágil.
O coração da Magui decidiu não parar neste dia triste de Março. Nesse dia triste de Março, em que eu passei horas à porta dos cuidados intensivos a olhar para os meus sapatos, tendo a absoluta certeza que estaria perdida se aquele coração parasse de bater, soube que, embora não pareça, tu disfarças bem, sou a tua favorita.

segunda-feira, julho 25, 2005

Minhoca e Catarina

Eu tenho novas gatas. Perco tanto tempo a dissertar sobre o meu amor secreto, sobre o meu ex amor sr Vring, a dissertar sobre este ou aquele meu amigo que grita comigo e me põe a chorar, que me esqueci de vos apresentar as miúdas.
A Magui afiambrou-se à Mancha e à Mimi, aquelas gatinhas lindas que eu há tempos coloquei neste quintal - coitadinhas, elas são tão pequeninas, ficam tanto tempo sozinhas... - e, vai de modos, raptou-as da minha ex-casa pequenina e elas lá estão, no gatil da minha mãe, felizes e contentes.
Fui à Zoófila, ou melhor, a Zoófila é que veio até a mim, veio até a mim no melhor hipermercado de toda a Lisboa - o Feira Nova da Belavista, em Chelas: como quase ninguém lá vai, há pouca gente feia por metro quadrado -, e adoptei a Minhoca e a Catarina. Já vinham baptizadas e eu gostei dos nomes, assim ficaram.
Não são as miúdas mais giras do bairro, mas têm muita pinta. Eram as bichanas que estavam mais tristinhas e isso é que interessa; agora são felizes.
A Minhoca é toda preta, gata de bruxa, muito bonita, muito medrosa e tem toda a legitimidade para desconfiar dos humanos: em apenas seis meses de vida, foi abandonada três vezes. Eu falo com ela, digo-lhe que desta vai ser diferente, suborno-a com Whiskas e Sheba (Sheba só de vez em quando, porque eu não sou rica), mas a Minhoca não confia ainda em mim. Mas já me garantiu que isso dos gatos pretos darem azar é uma parvoeira, que gosta muito de aqui estar e vai ser a guardiã da minha casa, que vai trazer muita sorte à Martinha (e isso já se vê, Minhoca, muito obrigada).
A Catarina é uma tola, tinha sido abandonada, na véspera em que eu a adoptei, em plena Avenida de Roma, a minha avenida, é preta também, mas sarapintada, parece um ET e está nos antípodas da "mana" Minhoca - é uma melga, não me larga um instante.
Agora que já estão enturmadas, que já conhecem todos os cantos da Martinha, as manas pretas enlouquecem por volta da meia noite. Desatam aos pulos, trepam pelos armários, parecem possessas pelo Demo.
São muito muito engraçadas.
Divertem-me nas noites em que eu não estou com quem desejo estar.
E sim, ele gosta de bananas.

domingo, julho 24, 2005

Ressurreição

Aqui a (T)ralha é ainda mais despachada que o Senhor e, apesar de ser Domingo, demorou apenas dois e não três dias a ressuscitar.
Não faz sentido acabar com este canto. Não por causa de uns otários que chatearam a Joana num Sábado de manhã, por causa de umas linhas, umas linhas divertidas e bem escritas (desculpem a imodéstia, mas eram mesmo boas), que não tinham nada de mal. Um texto que era uma homenagem sentida e mais que merecida a uma pessoa de quem eu gosto muito, um texto em que não se teciam quaisquer considerações sobre as qualidades profissionais da minha amiga, um texto cuja moral era apenas esta: o cromossoma X tem uma anomalia de milhares de anos; desculpa o seu par Y com demasiada facilidade.
O cromossoma X é banana, eu sou banana, sou das Nanicas, não sou das da Madeira. Na ilha do Alberto João, as bananas são pequeninas e eu sou gigantescamente banana, escrevi isto, muito recentemente, num mail, a propósito de perdoar incondicionalmente as ofensas de quem me ofendeu, num mail em que suplicava assim: "Diz-me que gostas de bananas" (ainda não respondeste, mas estou convicta que sim, que gostas).

Podia ter apagado o post "Fim" e, assim, de acordo com o StatCounter, apenas 11 pessoas tinham sabido da minha catarse de ontem.
Mas não faz sentido retirar o post.
Quem por aqui põe os olhos há algum tempo - nem é preciso muito, basta uma semanita -, já se apercebeu da minha veia para o faduncho, da predisposição dos meus genes para estados ferozes de melancolia.
Desta vez, decici ficar triste por estar feliz demais. Não cabe na cabeça de ninguém...
O Ric induziu-me a mini-depressão, acabadinho de chegar de Marrocos, e eu estava aérea, nas nuvens, e ele, sabiamente, decidiu chamar-me à terra, assentar as sandalinhas de um salário mínimo nacional no chão. Num estalar de dedos questionei o que é que andava a fazer, quem é que ia sofrer os danos colaterais desta embrulhada, senti-me ridícula por me apaixonar tão facilmente.
Mas hoje, o Ricardinho (espero que tu não te importes que eu te chame pelo teu nome verdadeiro, mor), que anda com peso na consciência desde então, tirou-me da neura (a tua cena dos sorrisos também estava a funcionar muito bem, Maique, a sério que estava e vou continuar com a medicação). Disse-me que não faz mal apaixonar-me por alguém em tão pouco tempo. E que o amor é ridículo, não há nada a fazer. E, nesta primeira fase, o amor emagrece, acrescento eu, por isso é duplamente benvindo, com chatices, alhadas e pombais.
O JPH, que é o grande culpado pela audiência indesejada deste blog, foi, talvez, o primeiro a reparar- apesar da muralha de arquivadores que colocou entre nós, viu os primeiros sintomas, de muito perto, sentado na secretária em frente à minha: eu com um sorriso parvo de orelha a orelha, com os olhos a brilhar para um monitor de computador e ele a aconselhar uma rápida visita ao médico, enquanto me pedia para eu lhe servir um cafézito. Não lhe dei ouvidos, servi-lhe o café, mas deixei-me levar.
Sofre-se de qualquer forma. Dando pouco ou dando muito. Eu prefiro dar tudo. E isto aplica-se também a este blog. É a minha terapia. Não posso abdicar dela. Não estou pronta para o desmame.

sábado, julho 23, 2005

Senhora ex-assessora

[Post reeditado, sem censura, agora que a senhora ex-assessora já não tem cargos institucionais no XVII Governo Constitucional - este blog não teve nada a ver com isso, com a queda do senhor ministro do cabelo às ondinhas; portei-me bem, aceitei censurar o post até ao fim do mandato do senhor, mas, caramba, o post só ficou 20 dias na gaveta, nem sequer ficou a cheirar a naftalina... Ainda uma nota para o post '27 mais um': tinha apenas uma vaga recordação de o ter escrito e parece-me que posso fazê-lo mais vezes - escrever triste e imediatamente após uma estadia nas escadinhas da rua contígua à Bicaense.]


Quem me conhece, sabe da minha tara por assessores de imprensa. Fui casada com um, namorisquei outros tantos.
Este Governo tem a assessora mais bonita e louca de Portugal. A minha tara por assessores não é exclusiva ao sexo masculino: adoro esta mulher.
A senhora assessora ontem pagou-me demasiados copos na Bicaense (agora está rica, em quatro meses afiambrou na sua conta bancária uns poucos milhares de euros).
Eu e a assessora "freak" estagiámos juntas no pasquim, há muitos anos (ela é mais louca do que eu e isso é uma proeza digna de registo num "hall of fame" - prepara-te para enterrar as mãos em cimento fresquinho). Eu fiquei nesta mina, ela foi com os porcos.
Na altura, soube-me bem, de três estagiárias extraordinárias - éramos mesmo as três magníficas: eu, a senhora assessora e uma menina com um apelido indiano muito musical que, segundo sei, anda por Bruxelas a ganhar rios de dinheiro - ter sido eu a escolhida, mas, hoje em dia lamento-o e não consigo deixar de pensar o que poderia ter acontecido se tivesse ido parar ao desemprego (eu sei que não vale a pena pensar nisso, mas é feitio, não é defeito, perco demasiado tempo a pensar no "e se fosse...")
Geralmente, só encontro a assessora dos olhos verdes, filha de um ex-ministro, no dia dos meus anos. 2005 tem sido a excepção - a culpa é da esquina da Bicaense (pára lá tudo o que é bicho careta do jornalismo, sobretudo do económico). O encontro de ontem foi marcado partindo da premissa que iamos falar de gajos, numa espécie de pijama party, sem pijamas, sentadas à soleira de uma porta da Rua da Bica de Duarte Belo, acompanhadas de caipirinhas ou mojitos.
Contei-lhe as mais recentes façanhas (a este blog "chibo" não o posso fazer, porque o JPH andou a divulgá-lo além fronteiras...) e confessei, ainda, o trauma recente, cuja enterrada recordação ainda abala a minha frágil auto-estima.
Na noite em que alguém virou a face e cagou de alto para mim (perdoem a linguagem, mas isto é o mais soft que eu consigo para descrever a pulhice que me fizeram), eu tinha estado com a senhora assessora, no sítio do costume, e ela tinha-me pago demasiados "shots" de absinto: "Eu achei o gajo um otário, Di. Via-se que já estava contrariado. Mereces melhor, muito melhor", desabafou ela e eu larguei um longo suspiro em sinal de aprovação das suas palavras e soltei um: "Sim. É um idiota."
"O problema, é que nós, gajas, somos tótós", lançou a assessora, com os pés assentes nos carris do elevador da Bica (elevador que, para mim, nunca mais foi o mesmo desde que soube que alguém das minhas relações ali mandou uma pinocada; agora, olho sempre para o eléctrico amarelinho com um misto de inveja e nojo). "Se os gajos são uns otários, se são uma nódoa da cama, se são não sabem beijar, nós nunca dizemos nada. A culpa é toda nossa, porque passamos a vida a desculpá-los", sentenciou a assessora acidental.
Tens razão, toda a razão. Lembrei-me logo do senhor holandês que não respondia aos mails, que não respondia às mensagens, que não respondia aos telefonemas, que teria morto à pedrada os pombos correio que eu lhe tivesse enviado, e eu, parva, arranjava sempre uma desculpa - tem muito trabalho, deve ter o telemóvel no silêncio...
(Suspiro)
Recordei uma pinocada para a qual tinha grandes expectativas e que foi abaixo de cão e um outro por quem eu andei caída há muito tempo que tinha problemas gravíssimos de erecção e, raios, tens mesmo razão: nunca teria tido a coragem de dizer aos tipos que eles eram ridículos, que eram publicidade enganosa, que ia fazer queixa à DECO, com medo de lhe ferir o seu orgulho viril para todo o sempre.
O nosso sentido de Estado obrigou-nos a interromper a conversa e apanhar um táxi que demorou meia hora a chegar, porque não sabia onde era a Calçada do Combro.
Mas havemos de continuar esta reflexão.
Entretanto, eu tenho a tal manchete para escrever.

Fim

Devia estar a arrumar caixotes.
Vou esperar pela minha babysitter para dar uma de fada do lar. Mas antes vou contar-lhe as minhas desventuras, vou chorar de certeza - o telefone acaba de ecoar o sinal de mensagem pelos tectos altos da minha casa e o meu coração dispara.
Mas não é quem eu esperava, faz-me sorrir de qualquer forma, mas não é quem eu esperava, é o Rui Lúcio, um que tinha fama de besta como o Madeira, mas que se tornou um dos meus melhores amigos do pasquim, um dos que não se esqueceu de telefonar ontem, mas depois ligo à Cat, porque tenho saudades dela, e desato logo a chorar, nem espero pela minha querida Astride para abrir a torneira.
O telefone toca outra vez é a Joana, grita comigo, grita porque tem toda a razão, eu choro, e o post sai de rajada, outra vez, o post amaldiçoado, e este blog acaba aqui.
Este blog era para os meus amigos. Dez telefonemas por causa de um post? Telefonemas de quem?
Escreves tão bem, não acabes este blog, do outro lado ela diz: tens que escrever um livro, diz isto porque eu estou a chorar sem conseguir parar, mas este blog acaba aqui, não há discussão, não há mais discussão. Ninguém vai voltar a ser acordado por causa dos posts deste blog.
Em dez minutos, este blog acabou. Foda-se!
Eu ia só escrever disparates, disparates sobre ontem, disparates sobre mim, mas este blog acaba aqui.

NR - O Mac diz que há uma forma de pedir cartão da casa à entrada. De transformar a (T)ralha num clube selecto. E, por isso, parei de apagar posts, um a um. Logo se vê, se para a semana, continuo a deitar tudo para o lixo ou se deixo de fazer novelas, como diz o senhor do pedestal no seu comment. Custa muito acabar com este cantinho, garanto-vos. Imaginava a sua morte de outra forma, por já não o poder ver à minha frente, por desleixo, nunca assim. Por leitores maldosos a acordarem os meus amigos pelas parvoeiras que eu aqui escrevo.

PS- Maique, a história dos sorrisos parece meia parva, mas resultou. :)

27 mais um

O senhor Ali levou-me a outras paisagens, transportou-me para outros pombais, em outras freguesias, foi sublime a sua música, mas não tenho pudor em o afirmar, a estas horas escabarosas e imorais para quem está outra vez a arder em febre, para quem devia estar a dormir há meia dúzia de horas, para quem não devia estar preocupada em ligar o computador de propósito para abrir o gmail; não tenho vergonha de dizer isto: foi uma merda, o primeiro dia dos 27.

À minha Diana, que é a amiga mais doce que eu algum dia podia ter. Obrigada pela noite de hoje.

A todos os que não me deram os parabéns, obrigada por me fazerem ver que, afinal, não são assim tão importantes.

sexta-feira, julho 22, 2005

27

27 anos.
Menos três quilos do que há dez dias atrás (e agora, continuam a falar mal da minha nutricionista?).
Acordei com febre. Doente. Com muitas dores de garganta.
Acabo de enviar sms a todo o bicho careta para irmos jantar no Sábado. Sou sempre a mesma merda.
Estou triste outra vez. "entao nao anda tao feliz ? devia estar ainda mais satisfeita hoje...", mandou, por mail, uma pessoa que eu coloco num pedestal.
"tu sabes que eu sou maniaco-depressiva, ou não?", respondi eu. De facto, ontem estava a ver o Schindler's List no AXN, mas decidi mudar de canal. Porque já estava miserável de qualquer forma, não precisava de um filme triste para turvar, ainda mais, o meu já perturbado estado de espírito. E fiz zapping, muito zapping - ontem não me apatecia estar na Net -, até que parei na 2:, estava a passar um documentário sobre doentes bipolares e mais uma vez achei que devia ir ao médico, porque ainda na segunda-feira me sentia invencível e agora já estou melancólica.
"Another Lonely Day" do Ben esteve em repeat one durante toda a manhã. Tentei ir comprar sapatos para espantar a neura, mas nada me excitou, a coisa está mesmo, mesmo preta, quando nenhum par de sapatos me põe os olhos em bico.
Acabo de receber a minha primeira prenda, uma guiquisse do senhor do pedestal: cd de instalação do Ubuntu para Mac. Mas ainda não tenho Mac.
Vamos lá ver se ponho boa, da garganta e do resto. Vamos lá ver se os dias continuam a ser à noite.

quinta-feira, julho 21, 2005

Anúncio público

É oficial: não vou fazer ponta de um corno no meu dia de anos.
Não estou com cú para organizar festas e jantares. Epá, surpreendam-me e organizem todos vós um jantar.
Porque eu estou cansada, mesmo muito -
chego todos os dias a casa às dez e meia da noite, quero deitar a minha filha e esponjar-me no sofá laranja, quero abrir o Toshiba e ficar horas no Gmail a trocar conversa tola, porque os caixotes da Rodrigues e Lourenço continuam espalhados na cozinha, porque no sábado à tarde chega a minha máquina de lavar a roupa, "By appointment of her Royal Highness Queen Elisabeth The second", e ainda não desimpedi o espaço, porque a casa está cheia de pó, porque...

Amanhã, quem quiser que apareça no Ali - é de borla - , depois bebemos um copo na Bica. No Sábado, quem quiser ir jantar comigo que mande um mail, que telefone, que envie um pombo correio ou um cão pastor. Não tenho pachorra para ser eu a coordenar a logística. Não sou uma fada do lar...

O mistério da estrada de Sintra

O repto foi-me lançado pelo meu querido amigo Mac

"e porque não reeditar a ideia?

Apenas a ideia, já que a arte per se foi de mestres e não é, de perto nem de longe, replicável.


O que me dizes?"

É uma proposta indecente. Dois blogs, quatro mãos, uma história.

Eu nunca escrevi a quatro mãos. Tenho as minhas dúvidas que isto vá resultar.

O Mac escreve muito bem, mas é denso, muitas das vezes quase imperceptível, eu, francamente, não gosto dos textos em que ele usa palavras como languido ou lúgubre (detesto-as, dão-me náusea, e ele ama-as). Eu sou matéria prima em bruto, não gosto de figuras de estilo, detesto ter que ler uma frase duas vezes para a perceber. O Mac tem uma escrita codificada, polida, aparada...

Mas é um dos meus melhores amigos - e, mais recentemente, faz terapia gratuita pelo messenger - e penso que vai ser uma experiência engraçada, ainda que, provavelmente, fugaz.

Vamos lá ver o que é que dá.

A história vai começá-la ele, porque, caros, continuo muito feliz para escrever seja o que fôr. Eu pego onde ele acabar e ele começa onde eu terminei. E assim sucessivamente, a fingir que somos o Eça e o Ramalho Ortigão (eu quero ser o Eça)

Como a (T)ralha tem uma linha editorial definida - ando a fazer o livro de estilo deste quintaleco -, todos os posts a quatro mãos serão devidamente identificados como tal.

E vocês, digam de sua justiça, se acham bem ou acham mal (da minha parte, prometo continuar a escrever sobre a minha infância, porque, acima de tudo, este é um blog intimista).

quarta-feira, julho 20, 2005

Estado de graça

É uma alhada. Das enormes.
Mesmo assim, continuo em estado de graça.
Ontem quase descambou, enchi o computador de canções tristes do senhor Ben, esvaziei o meu coração, mas de manhã ele estava cheio outra vez (esta também tem copyright do já muito citado guião do The English Patient).
Caros, estou feliz, não esperem grandes prozas neste blog. Só escrevo bem quando estou miserável e este amor não conto a ninguém.
E como diz uma canção que eu gosto muito: "Os dias são à noite".

terça-feira, julho 19, 2005

Cena 103

É uma das minhas favoritas.

103*. INT.   THE PATIENT'S ROOM.    DAY.

Hana sits reading from the Herodotus. She shows the Patient
the page where a CHRISTMAS CRACKER WRAPPER covered
in handwriting has been glued in.

HANA
Tell me about this, this is in your handwriting - December 22nd -
Betrayals in war are childlike compared with our betrayals during
peace. New lovers are nervous and tender, but smash everything - for
the heart is an organ of fire...
(she looks up)
I love that, I believe that.
(to him)
Who is K?

THE PATIENT
K is for Katharine.

Dilema

Sexta-feira faço anos. 27.
As minhas festas de anos costumam ser "o" acontecimento. Mais de três dezenas de pessoas, família, amigos de infância, as meninas da faculdade e respectivos apêndices, jornalistas, assessores, membros do comité central do PCP, tudo ao molho e fé em Deus e, geralmente, corre sempre bem, o azeite mistura-se com o vinagre na perfeição e eu aproveito para estar com pessoas de quem gosto muito pelo menos uma vez por ano.
Mas este ano estou sem força anímica para preparar seja o que fôr. E tenho uma nova categoria de amigos - as bestas dos fotógrafos - para encaixar na salganhada do jantar e não sei se a coisa resultará bem.
Certo certo é que na sexta a noite é do Ali Farka Toure - o querido que veio directamente do Mali para me cantar os parabéns. Depois, logo se vê.

Jantar no sábado, malta? E onde? No espaço Cabo Verde, como manda a tradição, com umas mornas a aquecerem a noite?

Digam de vossa justiça.

segunda-feira, julho 18, 2005

Para ti

Tantas vezes quis que tu lesses este blog, andei à tua procura do teu IP no StatCounter durante meses a fio - ainda tenho os papelinhos amarelos colados ao monitor, com as várias hipóteses - e, agora que o fazes diariamente, do outro lado do oceano, não sai nada. Absolutamente nada.

Estou demasiado aérea para escrever seja o que fôr.

sábado, julho 16, 2005

Post Matinal

Mais um post matinal, antes das dez da manhã, com muito poucas horas de sono, mas um sorriso aparvalhado ao acordar.

A vida anda-me a sorrir, a piscar-me o olho e, caramba, cinco dias após ter começado a minha dieta, já lá vai mais (ou menos, pensando bem) um quilo, é o que acaba de me anunciar a balança laranjinha.

Com umas olheiras do tamanho do mundo, totalmente esgazeada por ter tomado tomado banho de água fria (não há ninguém que me consiga ligar a porra do esquentador?), lá vou eu cumprir a ordem judicial dos sábados de manhã. E escrever os tal doze mil caracteres, porque ontem, simplesmente, não deu. Valores mais altos...
E o corpo é que paga... Vai doer este sábado. Detesto as edições de Domingo do meu jornal! Pim!

185 page loads!!!

É o recorde absoluto.
Nunca a (T)ralha almejou tanto sucesso num só dia.
Obrigado, obrigado. A Dia tem que escrever 12 mil caracteres para Domingo, mas ainda sai um postezinho de agradecimento.

Esta última frase era para ler em voz alta, recordando a entoação que a nossa querida Amália dava às suas frases.

Eu conheci a Amália. Pouco antes de ela bater a soleta. Na vernissage de uma exposição do Zé Ralha, no Páteo Bagatela, há alguns anos atrás.

O pintor estava a pedir 600 contos pelos seus rabiscos nessa exposição, era uma coisa à grande, e como estava a achar que era outra vez um grande artista -

teve direito a catálogo, nota bibliográfica e palavras simpáticas de uma mulher muito bonita, cujo nome condiz com a sua pose elegante, Diva, chamaram-lhe os pais, que deviam ser meios bruxo -,

sentiu-se grande e poderoso, quase tanto quando fez a capa da Antologia de Poesia do Fernando Pessoa, coordenada pelo António Quadros, e então, foi nessa noite que trocou a minha querida madrasta pela outra que faz bicos. Mas a tadinha da Amália não teve nada a ver com isso.

O Zé Ralha apresentou-nos, eu disse à senhora que gostava muito do fado "Cansaço", mas ela estava surda, não percebeu, ao invés estendeu o braço, tapado com um véu de franjinhas, e com as suas mãos muito sardentas, com unhas pintadas de encarnado, agarrou-me a mão e, no mesmo tom que dizia "obrigado, obrigado", repetiu:

"Diana, o teu pai é uma pessoa muito pura, Diana. E o teu avô, Diana, o teu avô é uma pessoa muito pura"

E continuou nisto durante minutos e minutos, a apertar-me a mão, eu à rasca, queria que ela me largasse, e enquanto dizia "é uma pessoa muito pura, Diana, Diana" a dentadura dela ganhava vida própria e mordiscava os seus lábios, que tal como nos habitou na sua fase de decadência, estavam esborratados de um tom alaranjado.

Soube depois, que a senhora dona Amália, que era cliente da farmácia da Rua de São Bento do meu bisavô Correia (um que tinha vergonha de ser Ralha, usava Correia), emborcou todo o whiskey que havia na vernissage. Daí esta insistência na "pureza" do Zé Ralha.

Ao despedir-se, agarrou-me novamente na mão e lá debitou: "uma pessoa muito pura, o teu pai, Diana, Diana".

Isto é mais giro quando eu faço a imitação ao vivo... Só visto mesmo.

De qualquer forma, "obrigada, obrigada".

sexta-feira, julho 15, 2005

Quando eu era pequenina

quando eu era pequenina

E as histórias que eu vos conto passaram-se quando eu era, assim, pequenina.

Retratos de familia

retrato de familia

Um pequena amostra da minha agência de adopção de antepassados...

Columbófila

margarida terenas

Eu sempre gostei de pombos.
Salvo pombitos bébés às dúzias, todos os anos, nos jardins das Avenidas Novas de Lisboa. Bom, a Magui é que os salva - alimenta-os à mão, durante meses e meses a fio, com a paciência de uma verdadeira mãe galinha -, eu, da minha parte, limito-me a apanhá-los.
E isso é um grande feito, permitam-me, porque eu tenho pavor a pássaros. Duas péssimas recordações - daquelas que só saem da masmorra para onde foram desterradas há muito tempo quando temos um blog - explicam o meu temor.
Ter a perfeita noção do momento em que passei a ter medo de pássaros poupa-me uma trabalheira danada e muitas horas no divã de um psiquiatra, quando e se algum dia tiver dinheiro para isso (prefiro guardar o dinheiro da terapia, continuar a fazer catarses quase que diárias na minha (T)ralha e, qualquer dia, aumentar as mamas para um tamanho acima).
O meu medo irracional dos pássaros não tem nada a ver com um determinado filme de um senhor gordo, que se deixava fotografar de perfil, de charuto na boca. Não senhor. Eu sei que os passarocos não me vão fazer mal. E gosto tanto de pássaros (quem me dera voar) que ainda é mais difícil de perceber porque é que fico com suores frios e taquicárdias sempre que me aproximo de um canário, piriquito, caturra e, claro, pombos.
Mas é fácil. Muito fácil. Chama-se recalcamento (gracias senhor Freud, por dar o nome às coisas, mas por acaso, podia ter dado um nome mais jeitoso, que não me agrada nada ser recalcada).
Antes de termos várias dezenas de gatos em casa, tínhamos piriquitos. Mais de uma dezena deles. Havia o Cobalto (que era azul cobalto, como o nome indica), a Francelina (que era uma verde má como as cobras), o marido da Francelina era o Francisquinho - cujo crâneo, os nossos gatos, desenterraram de um vaso, muitos anos depois de o bicho ter ido para o céu dos pardais, e se fartaram de brincar com ele como se fosse uma bolinha -; havia a Dona Branca, que era uma albina, havia uma lutina cujo nome não me recordo; e houve, também, entre muitos muitos outros seres alados, cujos nomes a minha memória colocou em arquivo morto, a Fifa - uma pintassilgo que o Leonardo e a malta do bairro encontraram acabada de nascer, num ninho, por debaixo de um plátano da Avenida dos Estados Unidos da América.
Os passarocos - a Magui tinha também bicos-de-lacre, lembro-me agora, uns singelos e minúsculos passarinhos cor de chumbo, com bicos encarnados - andavam à solta lá por casa.
A senhora minha mãe era tradutora, passava a vida à frente de uma máquina de escrever Olivetti, e os pássaros enfileiravam-se nas pontas do rolinho onde se colocavam as folhas. Assim, à medida que a Magui dactilografava as suas traduções químicas, de francês para português, os bichinhos iam andando para a direita, aos pulinhos. Quando a linha chegava ao fim e uma campainha fazia tlim, a Magui puxava uma alavanca, descia uma linha e recuava tudo para a esquerda. Passarocos incluídos. Um espectáculo digno de se ver, que, certamente, haverá registo fotográfico lá por casa.
Os piriquitos eram como coelhos. Multiplicavam-se à velocidade da luz. E a Magui que sempre foi péssima em controlo de natalidade (por isso mesmo, chegámos, aos sessenta e muito gatos num apartamento), nunca tirou os ninhos das gaiolas.
A postura dos ovos era uma emoção (eu tinha menos de seis anos, isto foi antes de eu entrar para a primária), o nascimento dos bébés - aliens despenados e cegos - então nem se fala. Abríamos o ninho mil vezes por dia para ver se já havia bébés, apesar das súplicas da senhora minha mãe para não o fazermos.
E, numa dessas vezes, eu abri o ninho às escondidas, um ovo resvalou para o chão, partiu-se a meus pés, e o chão amarelo da varanda da cozinha ficou encarnado de sangue.

Lembro-me de gritar como uma louca e pouco mais.
E, se nunca me refiz de ter morto aquele piriquito, pior visão de terror tive num Verão, pouco tempo depois disto, que fomos passar à casa do avô Ralha, nos Capuchos.
A passarada, claro, veio atrás. Uma praga de formigas negras, grandes, esfomeadas, matou-os quase todos.
Outra visão horrenda: a Magui na casa-de-banho verde, com o chuveiro e os piriquitos nas mãos, a tentar tirar-lhes o manto de formigas das penas...

A Qui Qui está aqui (até rima), no outro lado, a perguntar como é que está a correr este post. "Bem...", disse eu. Mas acrescentei logo: " mas já estou a contar historias que não era suposto; os posts têm vida própria".

Este post era sobre pombos. Sobre pombos correio (já apanhei um pombo correio, a quem dei comida e água e que, posteriormente, entreguei à Associação Columbófila, que fica pertinho da Avenida da Igreja), amarrados pelas patitas, pelos seus donos, com fios de computador.

Este post era sobre esta senhora da foto -, Margarida Terenas, filha de um senhor que ajudou a implantar a república a 5 de Outubro de 1910, Feio Terenas (googalizem, se quiserem saber mais sobre este bravo republicano).
Era minha inquilina, a Margarida, daquelas que pagam uns míseros 50 euros por uma casa de seis assoalhadas.
Morreu velhinha, solteira, sem filhos, sobrinhos ou enteados, apenas uns parentes distantes da família Champalimmaud, com demasiado cacau para se preocuparem em reclamar fosse o que fosse da prima solteirona e pobrezeca (afinal só vivia em seis assoalhadas na Rio de Janeiro...).
Eu reclamei-lhe o passado. A Martinha tem imensos móveis da Dona Margarida. O sofá de onde vos escrevo, por exemplo, foi estofado de laranja, mas era da solteirona Terenas.
E as fotos. Tenho quase todas as suas fotos de família. Quando estávamos a retirar os seus pertences da casa para a vendermos - eu já estava muito grávida e aquilo parecia que nunca mais acabava - fazia-me muita confusão, deitar o passado daquela senhora para o lixo.
E, desde então, colecciono fotos antigas, não resisto e sempre que vou a uma feira de antiguidades compro-as, fico a imaginar histórias para os seus rostos, adopto-os como a minha família, porque a minha verdadeira, de sangue, está cheia de segredos e omissões (ninguém me soube dizer, no outro dia, em que eu andava em pesquisas genealógicas - introduzida no vívio pelo JPH -, como se chamava o meu bisavô Correia, por exemplo, e eu apercebi-me que não sei o nome completo da minha avó Zá).
Guardei o mais que pude da Margarida Terenas. Tenho pratos, tenho malas antigas de viagem, um escrivaninha, tapetes, sei lá, tenho tudo e mais alguma coisa desta senhora que eu nunca vi na vida enquanto respirava o oxigénio cá na terra.
E eu amo esta foto. Está mesmo feliz, não está, a D. Margarida?
E eu aposto que hei-de ficar com a mesma cara de felicidade aparvalhada. E há de ser com pombos. Quando eles chegarem a Santa Marta.

quinta-feira, julho 14, 2005

Gmail Reloaded

Já vos falei muitas vezes do Gmail. A pandilha, que hoje em dia está desactivada, nasceu e morreu no (e pelo?) Gmail.

Andava triste. Ligava o mail dos mails todas as manhãs, mais por hábito do que por outra coisa qualquer, porque os únicos mails que lá caíam eram os comments que alguns (poucos) deixam neste quintal e umas cusquisses enviadas de uma Diana para outra.

E, de repente, sem aviso (as melhores coisas acontecem mesmo quando menos se espera), lá estou eu de cinco em cinco minutos a espreitar a janela do Firefox, a carregar freneticamente no botão do refresh.

E a sorrir para um monitor.

quarta-feira, julho 13, 2005

O famoso senhor Andy Vring

Holandês voador, que coração andaste tu a partir no Michigan, USA?
É o terceiro dia consecutivo que alguém da Ford Motors te pesquisa no Google e vem parar à (T)ralha. E vasculha este blog de uma ponta à outra.

Se calhar, podemos formar um clube...

Entretanto, os holandeses continuam a perseguir-me. Recebi uma carta de um, a contar-me uma escandaleira fiscal em Portugal. Chama-se Peter, vive em Amesterdão, tem uma caligrafia muito bonita, e é dono de uma empresa de fotografia (também já cá faltava...). Não faço ideia porque me enviou a mim a carta, cheia de selos com as trombas do Van Gogh, a pedir-me ajuda numa desavença com o Estado português...

Mais uma coisa estranha... Estás a ver como eu não faço nada para que elas aconteçam? Simplesmente as atraio...

Vou ligar ao senhor.

Private

Maique, desculpa-me. Mas é que o post anterior estava cheio de gralhas.

Dia 3

E ao terceiro dia...
... a dor de cabeça aliviou.
Aliviou apenas, não passou. Esta é das ruins, das que veio para ficar, daquelas que nem a pílula maravilha à base da perigosa codeína (conhecida no underground farmacêutico como Dolorun E) consegue exterminar.
A dieta cá anda, com grandes resultados e os leitores deixem a minha nutricionista em paz, se faz favor: com ela perdi, há 3 anos, cerca de dez quilos.
O problema do pão e das massas (os meus hidratos de carbono favoritos) é o que a gente lhes põe em cima... E três dias, um quilo (a balança louca voltou a dar-me o mesmo peso hoje de manhã) e alguns centímetros a menos, parece-me uma excelente contabilidade. Vou no bom caminho, a caminho do tamanho 42 de calças, força camarada, força (o dia em que eu comprei umas calças 40, pouco tempo antes de a Carolina se implantar no meu útero, foi um dos mais felizes da minha vida!!!)

Hoje tive um sonho musical, com K's Choice - 20.000 seconds.

20,000 seconds since you've left and I'm still counting
And 20,000 reasons to get up,
get something done, but I'm still waiting
Is someone kind enough to pick me up and give me food,
assure me that the world is good
But you should be here, you should be here

How colors can change and even the texture of the rain
And what's that ugly little stain on the bathroom floor
I'd rather not deal with that right now
I'd rather be floating in space somewhere or
Worry about the ozone layer

And it's almost like a corny movie scene
But I'm out of frame and the lighting's bad
And the music has no theme
And we're all so strong when nothing's wrong
And the world is at our feet
But how small we are when our love is far away
And all you need is you

Não sonhava há algum tempo, já andava preocupada, estava rés-vés a enviar uma carta registada com aviso de recepção à família do João Pestana (morarão no Carlton Palace, por caridade do primo madeirense?), a pedir um qualquer sonho, podia até ser como o título daquele quadro do Zé Ralha que está no chão da sala de jantar à espera de ser pendurado, que se chama: "Hoje sonhei que sonhava".

Não ouvia K's Choice há muito muito tempo, gostei da visita madrugadora, voltem sempre, o sonho foi tão bom que até me esqueci que acordei com o ruído infernal do martelo pneumático lá fora, a destruir o passeio da rua de Santa Marta.

Os meninos são a banda sonora de hoje (If I could put you in a frame I'd draw your smiling, with a cigarrette in your mouth and your hands reaching out for something...)

terça-feira, julho 12, 2005

Dieta II

Pequeno-almoço: Café duplo e "sande" de queijo
Almoço: Sopita de feijão verde e salada de frutas
Lanche: "sande" de fiambre
Jantar: Sopa de feijão "congo" (as coisas que a Magui inventa...)
Ceia: iogurte líquido

Ontem comi pouco e, por isso, tive uma dor de cabeça tipo carrilhão de Mafra a martelar melodias loucas e desafinadas junto ao montito de massa cinzenta que está a ditar aos meus dedos estas linhas...
Segundo a balança louca do IKEA, tenho menos um quilo, mas eu não acredito na laranjita - a parva está a gozar comigo, a dar-me esperanças infundadas que isto vai ser rápido fácil e indolor.
Nunca nada é assim. E, como o único exercício que eu faço, é subir os degraus que me levam todos os dias à porta da Martinha, vai levar uns mesitos a chegar aos 68 quilos. Este é o meu objectivo - eu sei, por experiência, depois de muitas centenas de contos gastos do Zé Maria Tallon e no outro, o "tuga", o Póvoas, que nunca serei magra, por isso, proponho-me a um objectivo bastante modesto, mas que, ainda assim, será à custa de muitas privações alimentares (o ar engorda-me).

Esta dieta está a ser mais fácil porque estou com sérias dificuldades financeiras. Ou seja, utilizando um provérbio de mau gosto para quem se está a auto-infligir com o castigo da fome, junta-se a fome e a vontade de comer.
Há tempos, deu-me uma fúria contabilística, quando o ordenado ainda assim chegava aos últimos dias do mês. Queria saber em que é que estoirava tanto dinheiro. Conclusões: fraldas, cremes para o rabo, roupa e sapatos para a Carolina e para mim, gasóleo, EMEL, tabaco, quotas do clube de serigrafia, e a maior parcela, 250 euros, era Laçinho - almoços e lanches. Nada mais, nada menos que, 250 euros. Um quarto do meu rendimento.
Tentei abdicar do carro - a experiência durou uma semana e picos e até gostei de partilhar a carruagem do Metro com tanta gente feia (escrevi imenso, numa Moleskine preta, para o sr Scented Garden, sobre o assunto dos transportes públicos e dos seus passageiros de rostos sem expressão).
Do tabaco, nem tento, só me faria engordar mais. Sapatos já não quase não compro (umas míseras sandalecas no mês passado), por isso, o corte vai para a avença mensal que eu tenho com a gerência do Laçinho.
Uma das minhas dietas com melhores resultados foi, precisamente, por necessidade.
Pode ser difícil de imaginar, mas já fomos pobres lá em casa.
Miseráveis.
Eu e o Leonardo gostamos de fazer um "gague" nos jantares de aniversário e outros encontros da família Addams, relembrando os longos meses em que esprememos uma amostra de pasta de dentes, daquelas que vêm nos "kits" das companhias aéreas - o pai de um dos nossos amigos de infância, que acredita que é Deus, trabalhava na TWA, arranjava-nos dessas pastas de dentes -, para conseguirmos manter uma certa higiene oral, porque, caros, isso era mesmo um luxo, no grau de pobreza em que (sobre)vivíamos.
Eu tinha 16 anos, estava insuportável, em plena adolescência, e deixei de comer carne e peixe. Alimentava-me a pão, água e iogurtes. Mesmo os iogurtes tive que cortar, porque, a certa altura, o cabrão do frigorífico deixou de funcionar.
Estivemos por um fio. Eu queria ir trabalhar para ajudar a minha mãe, porque ela não tinha sequer dinheiro para as matrículas, nem para os livros (fui à Costa pedir 30 contos ao meu avô, ele passou o cheque sem perguntas, isso é que doeu mais, não quis saber pelo que estávamos a passar, assinou o cheque do BCP com a sua bonita caligrafia e ficou de consciência tranquila).
Nesse ano, as minhas notas desceram a pique e o ponteiro da balança também.
Não tive menstruação durante meses e meses e a minha mãe, desesperada, a pensar que eu estava grávida, e eu com fome, com raiva, tão virgem quanto a mãe de Jesus, fiz a coisa da qual mais me arrependo na vida - descalçei a bota Doc Martens de biqueira de aço e, sentada no chão de cor de ardósia do Jardim de Inverno, fiz pontaria e mandei-a à cabeça da Magui...

Basta por hoje.
Já estou com aquela alergia marada. A alergia dos fantasmas do Natal passado.

segunda-feira, julho 11, 2005

Dieta. Mais uma vez.

Estou em dieta.
Mais uma vez.
Desde que me lembro de ser gente que estou em dieta.
Os meus distúrbios alimentares começaram bem cedo.
Quando eu era pequenina, mesmo muito pequenina, a Magui diz que eu estava ao peito a mamar quando o Zé Ralha chegou anormalmente cedo a casa, acompanhado da amante (fututa mãe dos meus irmãos) e anunciou à minha mãe que ela era uma merda na cama e que se ia embora (muitos anos depois, trocou a minha madrasta favorita, a minha mãe adoptiva, por uma ogre loira de cabelo oleoso, com a justificação que ela lhe lambia o piço - desculpem os mais púdicos, mas não há forma suave de descrever o calibre das maldades que o meu dador de esperma fez).
Eu tenho uma ideia pequena do sofrimento da Magui. Fizeram-me muito mal quando eu tinha a minha filha ao peito, acabada de nascer. Só por ela é que eu não enlouqueci. Quero acreditar que também fui eu quem salvou a Magui.
A mim, não me secou o leite pelo desgosto e pela raiva. Dia após dia, notificação do Tribunal de Menores atrás de Notificação, absorvia o impacto dos murros virtuais no estômago e seguia em frente (de noite, quando a minha filha dormia ao meu colo, eu chorava baixinho).
Mas a Magui deixou-se levar. Porque amava o estrupício do Zé Ralha. A depressão galgou pela minha mãe linda de olhos azuis acima e ninguém reparou que o seu leite secou. Nem uma gota para amostra. Parece que estive mais de uma semana sem comer. Apenas não morri porque a minha avó Zá teimava em me dar água. Foi assim a minha primeira dieta. Que me fez recuar, aos três meses de vida, ao peso com o qual nasci.

A primeira dieta que fiz de que me recordo tinha pouco mais de seis anos. A minha avó Tóia tinha morrido, os meus problemas tinham começado, e o avô Oliveira deixava-se levar pela loucura, vagueando de chinelos de couro pelo chão do hall forrado a alcatifa verde, a chamar a minha avó: - "Dia...(de Custódia)", murmurava ele baixinho.
Tinham contratado uma Dona "Pafúncia" - é o nome que a família Oliveira-Ralha chama às empregadas doméstidas -, a Isabel, pouco tempo antes de os anjos levarem a minha avó Tóia.
Era taco de pia, sem nível, tinha cara de macaco e cabelo muito encaracolado com permanente. Tinha um filho insuportável, não me lembro do nome do ser, que me ensinou, porém, uma palavra - "caraça", sinónimo de máscara de carnaval; ensinou-me esta palavra no dia em que uns homens foram buscar a cama de hospital onde a minha avó morreu e as botijas de oxigénio que lhe prolongaram a vida para lá do que teria sido desejável (o Zé deu-me, há pouco tempo, uma foto do dia em que ela morreu - eu e o Hugo, um em cada lado, a sorrirmos, eu desdentada, sem termos a mínima noção do sofrimento da nossa avó Tóia)- e, por falar em Zé, ele teve uma qualquer paixoneta pela senhora dona Pafúncia, porque a defendia com unhas e dentes, porque foi quase um terramoto quando a despediram (para o seu lugar veio a minha Teresa, a minha ama querida, que tanto amor me deu - tenho uma história para contar com a Teresa; não me posso esquecer de vo-la contar).
Eu dei por mim a acreditar que a tal Isabel macacóide me queria envenenar. Teci essa teoria da conspiração por ela me ter servido um cachorro com uma mostarda fora do prazo. Simplesmente deixei de comer. Também ninguém reparou. A roupa a cair-me pelas pernas abaixo, mas andava tudo noutro planeta.

Este post não era para ser assim.
Tinha-o imaginado com uma foto berrante da minha balança laranja do IKEA sob o meu chão preto da casa de banho, e uma prosa ao estilo do Diário da Bridget Jones, dando-vos conta do meu peso, das minhas medidas, e da quantidade de calorias que já tinha ingerido hoje.

Queria-vos contar do estranho fenómeno que eu induzo às balanças: ficam doidas, viciadas: esta laranjita dá-me um peso diferente a cada vez que lhe ponho os pés em cima (será pelo facto de ter custado 4,99 euros?). A anterior, era mais ou menos certa, e era lindíssima, mas a Carolina chamou-lhe um fanico. A primeira de todas, tinha um Homer Simpson a lavar os dentes, era muito amiga - para ela, eu pesava sempre perto de 65 quilos...

Mas o teclado deste Compaq trocou-me as voltas. Mais uma vez arrisco ser processada por difamação...

Tudo isto para dizer que estou em dieta. Por isso, vou andar de mau humor.

sexta-feira, julho 08, 2005

Dramalhão

Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente

Vinicius de Moraes


Não é um queixume, o que te quero dizer.
É um lamento, baixinho, porque parece que tudo o que eu digo te irrita.
E eu ando triste.
Finjo que não percebo, passo por distraída (coisa que não sou), contento-me com as migalhas contrariadas que raramente me dispensas, porque o breve pensamento de não ter a tua amizade dá-me falta de ar, ata um nó cego na minha garganta, enche os meus olhos de lágrimas.
É mais um dramalhão, com certeza.

quarta-feira, julho 06, 2005

Véu


arabias
Originally uploaded by dia_ralha.

E outra do Dubai. Estou a limpar os cartões SD da Leiquinha...

Foto. Para variar


maos
Originally uploaded by dia_ralha.

O Lameira queixou-se que eu escrevo posts muito compridos. Eu só sei escrever testamentos. Invejo os posts da "carneirada": são K.I.S.S - keep it simple stupid.
Não sei escrever posts KISS, apesar de um admirador secreto dizer em comment que eu sou uma kiss-specialist - eu nao sabia nada disto...
Mas ando-me a baldar às fotos. Aqui fica uma antiga, das arábias.

terça-feira, julho 05, 2005

Um texto para o Kaos sobre as grandes expectativas que eu crio

Este texto foi escrito há algum tempo, para uma pessoa muito especial, a quem eu escrevia semanalmente quando não havia blogs, uma pessoa que apelidava os meus escritos de Amelices (como no filme do Jeunet).
Eu tinha grandes expectativas em relação ao dia mágico 20/02/2002. Nada aconteceu. Tal como no fim-de-semana passado.

Era uma ideia bonita, a minha, de que lá pelo dia se ler de trás para a frente e de frente para trás, pudesse encerrar em si algo de mágico e único que mudasse, não só a minha, mas toda a a existência da humanidade. Não sei - porque a matemática não é o meu forte - quando foi a última vez que o mundo presenciou proeza idêntica, mas acho que foi há uma boa catrefada de séculos.
Não conheço ninguém - para além de mim, claro - que se tivesse lembrado de reparar ou tecer grandes considerações acerca disto e não sei se isso significa que sou louca, iluminada, ou simplesmente, alguém que não tem mais nada para fazer.
Dou demasiada importância a estes pormenores, empolo as minhas expectativas, tentando assim, dar significado e interesse à vida, mas ontem, à parte de três acidentes rodoviários graves no país - que, certamente, mudaram os destinos de muitas pessoas -, foi apenas mais um dia triste.

O céu não ficou cor-de-rosa, nem as nuvens amarelo canário. Não houve fogo de artifício de estrelas cadentes à noitinha. O admirador das tulipas brancas não escolheu o dia de ontem para se revelar e o telefone não tocou com nenhuma boa nova.

À hora mágia (20H02m) estava presa no trânsito, rumo ao jornal, fechada num Mercedes de cheiro nauseabundo a baunilha, com um motorista psicopata totalmente drogado. Quando cheguei à redacção, não tinha nenhuma promoção ou aumento em cima da mesa. Nem a tecla "C" do meu teclado Mac deu um ar da sua graça ontem. Podia, milagrosamente, ter passado a funcionar.

Nada.

Não fosse um jantar de "espantar a neura" com a minha amiga Filipa (tua conterrânea lá do fim do mundo) e teria chorado ontem.

Tu sempre que fazes uma manchete ficas assim?

Pergunta o coleguinha da frente.
Estou, de facto, insuportável. Quero acreditar que é dos muitos cafés que já bebi hoje (estou com uns tremeliques nas mãos, tipo béri-béri) e não da alteração legislativa que apressei.
Nada de extraordinário aconteceu, Kaos. Saturday night tive o encontro surreal com a senhora assessora na Bica (vou ter que tirar o post porque ela nem dormiu esta noite a pensar que alguém descobre o texto e denuncia os seus ensinamentos no 24 Horas) e, à parte isso, nada de muito palpitante (à excepção da manchete) a registar.
Ontem descobri que fui viver para um bairro simpático, onde os vizinhos me ajudam a levar 12 litros de leite até a um quarto andar a pique sem elevador e os polícias de trânsito, que "vivem" mais abaixo, se apresentam aos moradores, num gesto de boas vindas à rua de Santa Marta.
Continuo sem gás e sem candeeiros (o jovem que se propôs a acabar com o problema anda a apagar outros fogos), mas com a bela e perigosa Internet wireless.
Sou, basicamente, uma dona de casa desesperada. Acho que nunca vou conseguir desempacotar os caixotes que atravancam a cozinha e arrumar a estante da sala.
Quarta-feira quem quiser lá passar para um copo é benvindo. Diz-me a prudência que não é sensato divulgar a morada de minha casa num blog, por isso, se quiserem saber o número da porta mandem um mail para diaba.ralha@gmail.com (será sensato divulgar a conta do gmail, dona Prudência? Não? Já está, nada a fazer...)

segunda-feira, julho 04, 2005

Inchada

Estou orgulhosa da minha manchete. Passa em todas a rádios, em todas as TV's.
Tenho o ego tal e qual como o aparelho reprodutivo masculino - depois de muito tempo murcho, esticou para proporções africanas.
Maniaco-depressiva como sou, amanhã já estou a achar que sou uma fraude. Até lá ninguém me tira a satisfação do meu "furo".

Como é que se diz?

Eu ando esquinada com a Magui, porque ela me dificulta a vida, porque anda uma velha chata como a putassa, porque ela passa o dia a ver as novelas do GNT e não mas deixa interromper por breves instantes só para espreitar a abertura do telejornal e, por isso, não devia abrir o debate cibernético etimológico e gramatical, por forma a pôr um posnto final a uma das dúvidas que mais atormenta a senhora minha mãe durante todos os santos dias. Mas sou um coração mole, não consigo ficar zangada com ela por mais de dez minutos e, então, cá vai: Como é que é mais correcto dizer-se?

A) Vou com os cães à rua

B)Vou à rua com os cães

Eu tenho uma teoria muito própria, por incrível que pareça até é lógica (é um bocado retorcida mas é lógica, no limite). Digo que é a primeira hipótese, porque a Magui só vai à rua porque tem que pôr os cães a mijar. Se, pelo contrário, fosse à rua, imaginemos que beber um café, ou comprar cigarros e levasse os cães sem a obrigação de eles esvaziarem a tripa e/ou o intestino, seria a hipótese B.

A Magui não come a minha teoria (até me espantava se ela me desse razão um dia...), e anda a matutar nisto há muito tempo.
Há demasiado tempo - enquanto esfrega os caixotes da areia dos gatos, enquanto faz comida para um batalhão (apesar de só eu jantar em casa), enquanto muda a fralda à minha filha, enquanto varre os pelos do Fiel do chão da cozinha, enquanto dá milho ao milésimo pombo bébé que salvamos de um triste destino (eu gosto de pombos, ao contrário de 99,9 por cento da população de Lisboa; não gosto das cagadelas que corroem o cinza rato metalizado do Idea, mas são um mal menor, são tão lindas as pombinhas...)
Se calhar é esta atrofia que a viciou na Ana Maria e no Louro José.
Ajudem a solucionar esta charada e, assim, pode ser que a minha mãezinha volte a ser uma intelectual espectadora diária do canal Mezzo.
Bem haja

sábado, julho 02, 2005

Martinha entra na era do wireless

A Martinha é daquelas velhotas geek, high tech, só o bilhete de identidade confirma a sua avançada idade, mas, no seu caso, nem isso: é tão velha que não existe registo do seu nascimento na câmara municipal, nem nas Finanças, na sua caderneta predial, apenas há um registo, uma data - 1901 -, ano da primeira alteração ao prédio que é a mãe da Martinha e dos seus apartamentos irmãos.
Às senhoras não se pergunta a idade, a Martinha insiste em dizer que ainda não é centenária, mas eu conto-vos um segredo: é mentira! (já vai a caminho dos duzentos, mas isto fica só entre nós).
A Martinha entrou na era do wireless, está tão vaidosa que não se atura: pior só quando lhe maquilhei a sala de laranja (cor que lhe tirou, pelo menos, meio século de cima). Pede-me a Martinha para deixar aqui os agradecimentos públicos ao senhor Abílio, que tornou possível o sonho do wireless.

Tenho que subir a rua e enfiar-me na "mina", escrever notícias.
Até

Quem me ilumina o fim-de-semana?

Sábado, dez e vinte da manhã, estou no pasquim. Nem aos dias de semana estou tão cedo na "mina" (esta tem "copywrite" do senhor Miguel Madeira).Devo estar doente.
Tenho uma grande escandaleira em mãos, se não der manchete é porque os directores devem andar loucos (mas a minha popularidade no piso de cima ainda não é a maior - a excepção vem dos amigos fotojornalistas, essas bestas, esses analfabetos, como os descrevem os reles "escribas", essa categoria infame à qual pertenço - é assim que os fotógrafos nos chamam: é uma troca de mimos deliciosa...).
Houve uma altura em que eu vivia obcecada pelas manchetes e pelas chamadas à primeira página que fazia. Tinha a contabilidade organizada, qual Técnico Oficial de Contas, acho que, na altura, era muito ambiciosa, queria ser tão boa como o Leonardo (a tara estatística só me deu jeito uma vez, quando não fui promovida e mandei para o C... um director, espetando-lhe a contabilidade do meu trabalho na cara).
Falhei redondamente o objectivo, não sou ninguém, ainda estou na letra C, a letra mais miserável da profissão, e fui desterrada na secção menos importante do pasquim. Começo a gostar da secção, porém: o "chibo" do JPH, novo coleguinha de secretária - que andou a divulgar este blog para lá do que eu desejaria (lá vou eu deixar de escrever sobre a minha vida sexual, por exemplo, mas, na verdade, também havia pouco para contar...), temos, agora, diariamente, uma média de 120 page loads, é bom, muito bom, sabe-me bem, mas o facto de eu ter controlo sobre os ip's que cá vêm ao quintal angustia-me muito (eu sei que o blog é público, que se está escarrapachado na Net é para ser lido, que são coisas da vida, mas eu chamei "puta" a uma juíza no outro dia, acho que já falei mal de colegas de profissão e gozei com a minha entidade patronal, qualquer dia têm motivos para a justa causa) -, mas, dizia eu, o JPH veio iluminar os meus dias (não é tão "loud" como eu, mas anda lá perto), com o seu humor cáustico - o outro tinha uns olhos mais bonitos que os do JP, mas só falava de carros e tinha conversas telefónicas com a mulher que não tinham graçinha nenhuma - e, depois, um ano após de ter chegado, contrafeita, a este departamento, já tenho umas fontes jeitosas, já não escrevo só sobre buracos, já não me dão só as sobras dos seniores, e, claro, tenho o chefe mais bonito do mundo.
Tenho grandes expectativas em relação a estes dois dias a quem chamam fim-de-semana. Tenho um feeling que algo de extraordinário está prestes a acontecer.
Será?
Quem me ilumina o fim-de-semana?