segunda-feira, julho 11, 2005

Dieta. Mais uma vez.

Estou em dieta.
Mais uma vez.
Desde que me lembro de ser gente que estou em dieta.
Os meus distúrbios alimentares começaram bem cedo.
Quando eu era pequenina, mesmo muito pequenina, a Magui diz que eu estava ao peito a mamar quando o Zé Ralha chegou anormalmente cedo a casa, acompanhado da amante (fututa mãe dos meus irmãos) e anunciou à minha mãe que ela era uma merda na cama e que se ia embora (muitos anos depois, trocou a minha madrasta favorita, a minha mãe adoptiva, por uma ogre loira de cabelo oleoso, com a justificação que ela lhe lambia o piço - desculpem os mais púdicos, mas não há forma suave de descrever o calibre das maldades que o meu dador de esperma fez).
Eu tenho uma ideia pequena do sofrimento da Magui. Fizeram-me muito mal quando eu tinha a minha filha ao peito, acabada de nascer. Só por ela é que eu não enlouqueci. Quero acreditar que também fui eu quem salvou a Magui.
A mim, não me secou o leite pelo desgosto e pela raiva. Dia após dia, notificação do Tribunal de Menores atrás de Notificação, absorvia o impacto dos murros virtuais no estômago e seguia em frente (de noite, quando a minha filha dormia ao meu colo, eu chorava baixinho).
Mas a Magui deixou-se levar. Porque amava o estrupício do Zé Ralha. A depressão galgou pela minha mãe linda de olhos azuis acima e ninguém reparou que o seu leite secou. Nem uma gota para amostra. Parece que estive mais de uma semana sem comer. Apenas não morri porque a minha avó Zá teimava em me dar água. Foi assim a minha primeira dieta. Que me fez recuar, aos três meses de vida, ao peso com o qual nasci.

A primeira dieta que fiz de que me recordo tinha pouco mais de seis anos. A minha avó Tóia tinha morrido, os meus problemas tinham começado, e o avô Oliveira deixava-se levar pela loucura, vagueando de chinelos de couro pelo chão do hall forrado a alcatifa verde, a chamar a minha avó: - "Dia...(de Custódia)", murmurava ele baixinho.
Tinham contratado uma Dona "Pafúncia" - é o nome que a família Oliveira-Ralha chama às empregadas doméstidas -, a Isabel, pouco tempo antes de os anjos levarem a minha avó Tóia.
Era taco de pia, sem nível, tinha cara de macaco e cabelo muito encaracolado com permanente. Tinha um filho insuportável, não me lembro do nome do ser, que me ensinou, porém, uma palavra - "caraça", sinónimo de máscara de carnaval; ensinou-me esta palavra no dia em que uns homens foram buscar a cama de hospital onde a minha avó morreu e as botijas de oxigénio que lhe prolongaram a vida para lá do que teria sido desejável (o Zé deu-me, há pouco tempo, uma foto do dia em que ela morreu - eu e o Hugo, um em cada lado, a sorrirmos, eu desdentada, sem termos a mínima noção do sofrimento da nossa avó Tóia)- e, por falar em Zé, ele teve uma qualquer paixoneta pela senhora dona Pafúncia, porque a defendia com unhas e dentes, porque foi quase um terramoto quando a despediram (para o seu lugar veio a minha Teresa, a minha ama querida, que tanto amor me deu - tenho uma história para contar com a Teresa; não me posso esquecer de vo-la contar).
Eu dei por mim a acreditar que a tal Isabel macacóide me queria envenenar. Teci essa teoria da conspiração por ela me ter servido um cachorro com uma mostarda fora do prazo. Simplesmente deixei de comer. Também ninguém reparou. A roupa a cair-me pelas pernas abaixo, mas andava tudo noutro planeta.

Este post não era para ser assim.
Tinha-o imaginado com uma foto berrante da minha balança laranja do IKEA sob o meu chão preto da casa de banho, e uma prosa ao estilo do Diário da Bridget Jones, dando-vos conta do meu peso, das minhas medidas, e da quantidade de calorias que já tinha ingerido hoje.

Queria-vos contar do estranho fenómeno que eu induzo às balanças: ficam doidas, viciadas: esta laranjita dá-me um peso diferente a cada vez que lhe ponho os pés em cima (será pelo facto de ter custado 4,99 euros?). A anterior, era mais ou menos certa, e era lindíssima, mas a Carolina chamou-lhe um fanico. A primeira de todas, tinha um Homer Simpson a lavar os dentes, era muito amiga - para ela, eu pesava sempre perto de 65 quilos...

Mas o teclado deste Compaq trocou-me as voltas. Mais uma vez arrisco ser processada por difamação...

Tudo isto para dizer que estou em dieta. Por isso, vou andar de mau humor.

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu vou ser capaz de ler este post.....
Vou dividi-lo em 2 partes, leio uma parte hoje e outra amanha. Se o tentar ler de uma vez vou comecar a ficar cansado e nao o vou sentir.

Comeca a dividir os post, e colocas-os por episodios, como novela.

Dia disse...

Nuninho,
Os posts têm vida própria. Às vezes são curtos, outras vezes longuíssimos.
Não os posso cortar. Não tenho esse direito. Eles começam-me a atormentar se ficam demasiado tempo na minha cabeça.