Um texto para o Kaos sobre as grandes expectativas que eu crio
Este texto foi escrito há algum tempo, para uma pessoa muito especial, a quem eu escrevia semanalmente quando não havia blogs, uma pessoa que apelidava os meus escritos de Amelices (como no filme do Jeunet).
Eu tinha grandes expectativas em relação ao dia mágico 20/02/2002. Nada aconteceu. Tal como no fim-de-semana passado.
Era uma ideia bonita, a minha, de que lá pelo dia se ler de trás para a frente e de frente para trás, pudesse encerrar em si algo de mágico e único que mudasse, não só a minha, mas toda a a existência da humanidade. Não sei - porque a matemática não é o meu forte - quando foi a última vez que o mundo presenciou proeza idêntica, mas acho que foi há uma boa catrefada de séculos.
Não conheço ninguém - para além de mim, claro - que se tivesse lembrado de reparar ou tecer grandes considerações acerca disto e não sei se isso significa que sou louca, iluminada, ou simplesmente, alguém que não tem mais nada para fazer.
Dou demasiada importância a estes pormenores, empolo as minhas expectativas, tentando assim, dar significado e interesse à vida, mas ontem, à parte de três acidentes rodoviários graves no país - que, certamente, mudaram os destinos de muitas pessoas -, foi apenas mais um dia triste.
O céu não ficou cor-de-rosa, nem as nuvens amarelo canário. Não houve fogo de artifício de estrelas cadentes à noitinha. O admirador das tulipas brancas não escolheu o dia de ontem para se revelar e o telefone não tocou com nenhuma boa nova.
À hora mágia (20H02m) estava presa no trânsito, rumo ao jornal, fechada num Mercedes de cheiro nauseabundo a baunilha, com um motorista psicopata totalmente drogado. Quando cheguei à redacção, não tinha nenhuma promoção ou aumento em cima da mesa. Nem a tecla "C" do meu teclado Mac deu um ar da sua graça ontem. Podia, milagrosamente, ter passado a funcionar.
Nada.
Não fosse um jantar de "espantar a neura" com a minha amiga Filipa (tua conterrânea lá do fim do mundo) e teria chorado ontem.
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