terça-feira, julho 12, 2005

Dieta II

Pequeno-almoço: Café duplo e "sande" de queijo
Almoço: Sopita de feijão verde e salada de frutas
Lanche: "sande" de fiambre
Jantar: Sopa de feijão "congo" (as coisas que a Magui inventa...)
Ceia: iogurte líquido

Ontem comi pouco e, por isso, tive uma dor de cabeça tipo carrilhão de Mafra a martelar melodias loucas e desafinadas junto ao montito de massa cinzenta que está a ditar aos meus dedos estas linhas...
Segundo a balança louca do IKEA, tenho menos um quilo, mas eu não acredito na laranjita - a parva está a gozar comigo, a dar-me esperanças infundadas que isto vai ser rápido fácil e indolor.
Nunca nada é assim. E, como o único exercício que eu faço, é subir os degraus que me levam todos os dias à porta da Martinha, vai levar uns mesitos a chegar aos 68 quilos. Este é o meu objectivo - eu sei, por experiência, depois de muitas centenas de contos gastos do Zé Maria Tallon e no outro, o "tuga", o Póvoas, que nunca serei magra, por isso, proponho-me a um objectivo bastante modesto, mas que, ainda assim, será à custa de muitas privações alimentares (o ar engorda-me).

Esta dieta está a ser mais fácil porque estou com sérias dificuldades financeiras. Ou seja, utilizando um provérbio de mau gosto para quem se está a auto-infligir com o castigo da fome, junta-se a fome e a vontade de comer.
Há tempos, deu-me uma fúria contabilística, quando o ordenado ainda assim chegava aos últimos dias do mês. Queria saber em que é que estoirava tanto dinheiro. Conclusões: fraldas, cremes para o rabo, roupa e sapatos para a Carolina e para mim, gasóleo, EMEL, tabaco, quotas do clube de serigrafia, e a maior parcela, 250 euros, era Laçinho - almoços e lanches. Nada mais, nada menos que, 250 euros. Um quarto do meu rendimento.
Tentei abdicar do carro - a experiência durou uma semana e picos e até gostei de partilhar a carruagem do Metro com tanta gente feia (escrevi imenso, numa Moleskine preta, para o sr Scented Garden, sobre o assunto dos transportes públicos e dos seus passageiros de rostos sem expressão).
Do tabaco, nem tento, só me faria engordar mais. Sapatos já não quase não compro (umas míseras sandalecas no mês passado), por isso, o corte vai para a avença mensal que eu tenho com a gerência do Laçinho.
Uma das minhas dietas com melhores resultados foi, precisamente, por necessidade.
Pode ser difícil de imaginar, mas já fomos pobres lá em casa.
Miseráveis.
Eu e o Leonardo gostamos de fazer um "gague" nos jantares de aniversário e outros encontros da família Addams, relembrando os longos meses em que esprememos uma amostra de pasta de dentes, daquelas que vêm nos "kits" das companhias aéreas - o pai de um dos nossos amigos de infância, que acredita que é Deus, trabalhava na TWA, arranjava-nos dessas pastas de dentes -, para conseguirmos manter uma certa higiene oral, porque, caros, isso era mesmo um luxo, no grau de pobreza em que (sobre)vivíamos.
Eu tinha 16 anos, estava insuportável, em plena adolescência, e deixei de comer carne e peixe. Alimentava-me a pão, água e iogurtes. Mesmo os iogurtes tive que cortar, porque, a certa altura, o cabrão do frigorífico deixou de funcionar.
Estivemos por um fio. Eu queria ir trabalhar para ajudar a minha mãe, porque ela não tinha sequer dinheiro para as matrículas, nem para os livros (fui à Costa pedir 30 contos ao meu avô, ele passou o cheque sem perguntas, isso é que doeu mais, não quis saber pelo que estávamos a passar, assinou o cheque do BCP com a sua bonita caligrafia e ficou de consciência tranquila).
Nesse ano, as minhas notas desceram a pique e o ponteiro da balança também.
Não tive menstruação durante meses e meses e a minha mãe, desesperada, a pensar que eu estava grávida, e eu com fome, com raiva, tão virgem quanto a mãe de Jesus, fiz a coisa da qual mais me arrependo na vida - descalçei a bota Doc Martens de biqueira de aço e, sentada no chão de cor de ardósia do Jardim de Inverno, fiz pontaria e mandei-a à cabeça da Magui...

Basta por hoje.
Já estou com aquela alergia marada. A alergia dos fantasmas do Natal passado.

4 comentários:

K disse...

sim...comeste pouco...mas mal como o camandro hein? sandes?pão? ai ai

Anónimo disse...

Frutinha, peixinho, vegetais, muita água... e segundo um programa que vi na Oprah, nada de pão (e cereais tipo Chocapics e afins) e nada de comer nas 3 horas que antecedem a ida para a cama...

Dia disse...

Sim, porque na realidade, eu ainda não tive tempo para o dizer aqui - surgem sempre flash backs insuportáveis -, a minha decisão da dieta foi por causa desse programa da Oprah.
Mas deixem-me o meu pão em paz!!! A minha nutricionista sempre me deixou comer pão. E massas também...

Anónimo disse...

ya...
essa tua nutricionista é uma pessoa que inspira muita confiança...
- a menina coma pãozinho e massas e, no mês que vem, volte cá e vá largando as outras "massas" aqui p a senhora doutoura...
ya..
elevadíssima credibilidade.