quarta-feira, junho 21, 2006

Coisas extraordinárias na ilha do arcanjo

E na ilha do arcanjo aconteceram coisas extraordinárias, coisas extraordinárias que não incluem fenómenos sísmicos e lavas de vulcões hibernados, que às vezes ressonam um pouco mais alto e fazem activar os planos mais ou menos toscos de evacuação da ilha (eu tenho sempre medo de levar na mala essa propensão genética, que me corre nas veias, de atrair chuvas de sapos e pragas de borboletas nocturnas).
A lagoa do Congro (o Congro é um peixe, um peixe grandalhão, da parente dos atuns, e eu comi um na Ribeira Grande, e lembrei-me da minha avó a dançar comigo o “ponha aqui o seu pezinho, devagar, devagarinho, se for à Ribeira Grande”) lá ficou quietinha, escondida pelas voltas e voltas de um caminho privado que não está assinalado no mapa, ou na estrada de terra batida para onde aponta uma placa castanha enorme, e esta semana que passou, tenho a certeza que ninguém lá foi, nem os meninos que têm que ir fazer o controle sísmico da lagoa. Aliás, nem nós ousamos descer, era tarde, eram duas horas para descer e subir, e as pernas já traziam a escalada à lagoa do Fogo, vimo-la apenas de cima, foi pena, foi sim, mas o João é da terra, e tem faro e um sentido de orientação notável, descobriu um prado ocupado por três vacas leiteiras muito jovens, que mal se tinham nas patas, e eu, na próxima vida, nem me importava de ser aquelas três vacas que espreitam a lagoa do Congro todos os dias, do cimo de um prado verde sem fim, e as águas da pequena lagoa não se tornaram sulfúricas, não cheirou a enxofre, excepto nas Furnas, e o idiota do turista que meteu a mão na água borbulhante da caldeira não ficou com queimaduras de terceiro grau, e nem a imponente e mágica Lago do Fogo se zangou por termos tido a audácia de descer a pique até lá abaixo, num dia de nevoeiro denso. Sim, fiz coisas que o eriçariam os cabelos do meu ortopedista saído de um casting do ER com os seus olhos azuis e barba de três dias, pulei de pedra vulcânica em pedra vulcânica na Ferraria, sonhei reabilitar as suas termas emparedadas, e fazer a subida íngreme e com curvas de cotovelo todos os dias, ou exportar hortênsias e agapantos para todo o mundo a partir da Achadinha. Aconteceram coisas notáveis, ai se aconteceram, o João regressou a São Miguel dez anos depois de lá ter saído, o João engordou quatro quilos e já tem quase peso de gente, o João comprou dois pares de calças e quatro ou cinco tee-shirts.

4 comentários:

AnadoCastelo disse...

Ai que vontadinha de ir até lá. Só de pensar nesses verdes todos....
Jokas

Mary Mary disse...

Fiquei a babar-me... Que saudades dessa ilha. E tenho que ir ver as baleias antes dos meus 30... :P

Até eu virei saudável e ando a passear e a fazer Km a pé simplesmente porque apetece. Ai o que o amor faz à gente... :D

Isa disse...

"As laranjas devem comer-se de manhã Holandeses? Comêmo-los ao pequeno almoço!"

n resisti a transcrever aqui este post, eu, provocadora me confesso!

fico feliz por te sentir feliz, sério! beijos

Goiaoia disse...

Quisse

p.s., num me deixes com remorsos, please...