Novidade
A imagem não é de hoje, mas a novidade é fresquinha, acaba de ser pescada das águas fundas do mar - ainda esbraceja ofegante, com pressa de voltar ao sítio de onde a fui arrancar com um anzol improvisado com isco feito com uma pipoca de caramelo, mas eu sou a menina que tem pena dos peixes que os homens do mar deixam para trás, na areia molhada, porque não têm valor comercial na lota, sou a que os atira de volta para o mar, a que chora quando eles regressam a beira-mar porque já não têm forças para voltar para casa, a novidade é fresquinha mas eu escrevo-a aqui, bem depressa, para não a aleijar, para ela regressar em paz à sua pacata vidinha no cardume de novidades felizes.
E se, para as bandas de Santa Marta, um menino loirinho, agora com uma tez muito mais saudável do sol de São Miguel, trabalha para a engorda e, não tarda, até já pode ser dador de sangue, uma menina moreninha, que nem se atreve a enfrentar o dito aparelhómetro de tortura, com medo de ter atingido um patamar que apenas contemplou nos seus piores pesadelos, repara ao espelho – ao espelho que, antigamente, era a única companhia que tinha nas noites sem fim –, que as olheiras não desapareceram ainda, nem vão desaparecer nunca, mas repara, ao escovar os cabelos tingidos de castanho-escuro, com as brancas disfarçadas por um pincel grosseiro, mas que não teve que aleijar nenhuma marta para ser feito, que hoje não finge ser mais bonita do que é, debaixo de bases e correctores de olheiras, e de blushes que, antigamente, lhe davam alguma cor, cor de mais ou menos viva, tudo a fingir claro, estava viva pela sua metade loira, e a camuflagem, a pintura de guerra, era apenas para os que não sabem enxergar para lá do que se lhes apresenta à frente dos olhos, pensarem que estava tudo bem e que a vida corria às mil maravilhas (não desconfiaram nunca, sequer, que as pestanas empapadas em rímel preto era um truque para não chorar).
Agora, a menina não precisa de pintar os olhos de tons pastel, ou riscar uma linha preta por cima da terra que ainda está muito húmida e empapada, de onde nascem campos de pestanas. E também não se sente obrigada a fingir que tem um metro e setenta para se sentir importante, para a verem no meio da maralha já não precisa de praticar equilibrismos complexos em cima de saltos finos por tapetes de cubos de vidraço das calçadas, um metro e sessenta (no bilhete de identidade diz 1,63, mas foi ela que convenceu o funcionário a dar-lhe mais uns centímetros, quando foi renovar o BI aos 16 anos, e nesse dia tinha uns brincos muito bonitos, ainda sobrevive um num cofre que veio de avião para si das bandas de Macau) é vulgar e banal, mas ela sempre foi especial, ela vai ser sempre especial apesar do metro e sessenta e do emprego sem perspectivas de de glória, mas vai ser sempre a menina das ideias estrambólicas que nunca tem coragem de pôr em prática, vai estar sempre a criar imagens feéricas que lhe saem da ponta dos dedos.
Anda de sandálias rasas agora, todos os dias, baratas, compradas num hipermercado do calçado, as mesmas que, há quase duas semanas, galgaram a Lagoa do Fogo numa empreitada que nunca pensou ser capaz de levar a bom porto com os joelhos deficientes que lhe calharam nesta vida. Anda de sandálias e vai segura, tão segura como nunca esteve na vida.
16 comentários:
Oh, querida: Bem Vinda ao reino das sandálias.
n te tenho visto. rita
E isso é muito bom!
mim presente também de sandálias rasas rasinhas apesar de não andar com anjos por perto. :)
Eu só quero assegurar que este anjo tem sexo. Disse.
Oh Schizo! Só tu mesmo para não ver que mesmo por baixo das olheiras e da pintura de guerra sempre houve uma mulher muito especial. Não te chamo centro do mundo por acaso. Adoro-te e adoro ver-te feliz.
lindo, lindo, lindo!
"...ou riscar uma linha preta por cima da terra que ainda está muito húmida e empapada, de onde nascem campos de pestanas." mais lindo ainda.
Gosto de te ler assim, vês, que n são os posts tristes os mais comentados, vês? :-) Beijos grandes e que dure e dure e dure, essa felicidade toda!
Quida irmã: Do cardápio amanhã consta J.P. Simões. Conheces? É o fulano mentor dos "Belle Chaise Hotel" e do "Quinteto Tatti". Ele agora anda a desenvolver projectos a solo. O que é bem jogado. Porque bons e excelentes músicos pode-se sempre arranjar. Já um J.P.... bom, é mais díficil.
Se num conheces, no mínimo, vais gostar.
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Que bom saber que estás bem.
Jokas
Toneladas de maquilhagem escondem apenas uma cara mas não escondem uma alma e essa sempre foi especial no teu caso. :)
É muito bom ver-te assim, fico mesmo feliz e com um sorriso na cara... :D
e és tão bonita assim, sem o rimel que empapa as pestanas, com os olhos cheios de brilho natural. daquele que vem de dentro.
Gostei. Disto e do resto!
Um por um, vi todos os teus linques. Os desactivados e tudo, de Á a Z. E num encontrei... o tal hógue que sabes bem.
Estou a adorar. Um mundo novo abriu-se à minha frente. Três vivas para as caixinhas de comentários dos hógues. Três vivas para as meninas dos amigos e para as pessoas de nomes (afinal não) impronunciáveis.
O sr. 50.000 vai ter de te esconder muito bem de 8 a 12 de julho...
Uma gana, mas mesmo gana jinho para ti!!!!!!!!!!!
Outro para ti, meu amor corrosivo. Chuac!
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