domingo, março 27, 2005

Rewind

Hoje não quis saber da seca, da poupança de água, do gado moribundo e esquelético no Alentejo, ou das laranjas caídas no chão árido, praticamente mumificadas pela falta das duas moléculas de hidrogénio e uma de oxigénio, no Algarve.
Hoje demorei-me no duche, pela primeira vez em muito tempo, estive quietinha, quase imóvel, a contar os azulejos de 1,5 por 1,5 centímetros da minha minúscula casa de banho, água a escaldar, a pele muito encarnada a queixar-se, os dedos enrugados e, de repente, do nada, ou melhor, talvez porque hoje é Domingo de Páscoa, é dia de ressurreição, fecho os olhos esborratados pelo rímel que não tirei de madrugada, e vejo-o nitidamente, a olhar por debaixo do sobrolho, enorme, gigantesco, a esconder-se atrás das cortinas brancas com peixes laranjas da sala, a brincar com a Carolina, impecavelmente vestido, fato da Boss - uma visão agradável, uma imagem que gravei antes de dizer: "Esta é a altura em que tu foges, depois de conheceres a minha filha" (e ele respondeu: "eu não fujo", eu tenho a certeza que ele disse isso, depois de fumarmos os Gundangarans que o Maique me deu, não foi uma alucinação).
Voltamos à estaca zero, é uma imagem bonita, garanto-vos, lágrimas misturadas com a água do chuveiro, escondidas por um manto de nevoeiro de vapor.
O que o elevador do parque do Camões, apinhado de holandeses, faz a uma miúda.
Rewind.

1 comentário:

Anónimo disse...

essa historia do elevador tem muiiito que se lhe diga. vou esperar um post ao homem da noite, o homem "googlize it!"

qui qui