Na espuma da noite
Ontem à noite escrevi uma "posta", uma "posta" branquinha, gorducha, daquelas do lombo, quase sem espinhas, das que as mães cedem sem hesitar às suas crias (eu nunca vou ser uma mãe assim, lamento, Carolina, não vou comer cabeças de peixe e os peitos do frango vão ser sempre para mim, mas tu sabias disso quando me escolheste, sabias perfeitamente, estudaste todos os meus movimentos, sabes que eu choro num dia e rio no outro, que me sinto grande, poderosa em dois dias da semana, e o pior dos estafermos nos restantes cinco; sabias ao que vinhas, agradeço-te a coragem, gosto tanto de ter uma filha loira, de olhos azuis, um anjinho barroco, que tem um feitiozinho de merda aos 21 meses de idade; gosto da forma como me testas, até consigo achar graça ao facto de teres arrancado um olho a um gato da Magui, e quanto ao problema das cabeças do peixe - e nós não havemos de comer tantas vezes peixe, não me estou a ver a fazer peixe cozido, por exemplo - compramos aquelas embalagens da Pescanova, caras como o caralho, que trazem só lombinhos sem espinhas), mas o Blogger não tinha jantado, os senhores da Google deixaram a fera assim à solta, com fome, e o meu post foi devorado no momento em que carreguei no botãozinho laranja do dashboard que, neste meu Firefox brasileiro (argh), diz: "publicar postagem".
Não gosto de deixar este quintal abandonado por 24 horas; eu sei, porque sou uma boa jardineira (tenho mão verde), que basta um dia de descuido para estragar toda a horticultura. Por isso, a todos os que cá puseram os pés de manhã (estou a lembrar-me do Ford Motors, do Manual e, calro, do senhor meu chulo literário), mandem cartas de reclamação ao Blogger. Eu estava cansada, não me apetecia nada ouvir o debate a cinco do canal um, mas a Prudência (chata da velha está sempre cá em casa a moer-me o juízo) quase me obrigou a ficar com a televisão ligada a ronronar (eu quase nunca ligo a merda da TV; prefiro ler e escrever do que me estupidificar em frente ao rectângulo mágico; e, além disso, irrita-me o raio da caixa, é anti-decoração, fica sempre mal onde quer que eu a enfie, e estou a pensar pintar a minha Sanyo bordeaux de verde fluorescente; se se foder no processo de "maquilhagem" é da maneira que se acaba a televisão aqui na Martinha e deixo de pagar 20 euros à TV Cabo), e lá no fundo, não sei quê do túnel do Marquês, e tirar 200 mil carros da cidade, eu entretida a contar as novidades à minha mana pequenina homónima, minha fotógrafa oficial, e a escrever um post delicioso sobre o meu dia de ontem.
Há males que vêem por bem?, pergunta o meu amigo Kaos no seu comment anterior (está bonzinho, senhor arquitecto? Já não comentava há muito tempo, seja bem aparecido). Talvez. Talvez o blogger tenha sido amigo em devorar a "posta" da noite passada.
Mas foi um grande dia. Perdeu-se o registo, na espuma da noite, na espuma da net. O blogger ficou satisfeito, era um post cheio de pimenta e piripiri, mas digeriu-se muito bem.
1 comentário:
bem.. pelo menos tiveste a preocupação em recompensar-nos pelo post desaparecido :)
...adorava ter visto essa "terroristazinha" linda de olhinho azul e cabelito loiro a arrancar o olhito ao gato..coitado, ali ficou impávido e sereno. Tens mm de por isso no cadastro da miuda :)
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