sexta-feira, maio 26, 2006

Eutanásia

Como se mata um blog?
Devia ter-lhe dado a carta de alforria quando ele me chegou à visita 50.000, eu tinha prometido a mim própria que seria assim (e hoje, na Basílica dos Mártires - e por causa dele eu sei que a igreja da rua Garrett não é uma igreja, mas sim uma Basílica -, eu garanti ao meu santo querido que a promessa que fiz é mesmo a sério, que não vacilo, que corto mesmo o cabelo com o Victorinox do João e o deposito aos seus pés, deixo-o por cima das sandálias prateadas como paga da graça concedida).
Está um post em draft datado de 25 do 4 (perdoem, mas este blogue não consegue escrever a data por extenso, é outra kryptonite) que devia ter acabado com este blogue. Em grande estilo, quando tinha 250 visitas por dia e cartas de admiradores para o endereço empantanas@gmail.com. Eu teria dado uma bonita viúva do (T)ralha. Uma triste viuvinha como na canção que a minha avó me cantava agarrada às panelas de ferro.
Parei de escrever 1,3 posts por dia. Agora sai um a ferros, de três em três dias. E semeio amontoados delicodoces de palavras nesta terra escura, que já não é tão fértil como antes (reclama pousio). Postas que não vendem tanto como a dor que me fez andar no fio da navalha durante um ano e cinco meses.
Eu venho do marketing e da publicidade, caros. Eu até teria jeito para vender a banha da cobra, foi pena nunca ter tentado, como tantas outras coisas que eu vou ter sempre pena de não ter ousado arriscar, para mais tarde petiscar. É uma pena eu deixar este blogue assim, ao abandono.
Hoje, fui à Charneca. A Charneca não são só as Galinheiras e a Musgueira e a Alta de Lisboa. Eu não sabia. Há quintas senhoriais ao abandono. E há um pequeno cemitério ao lado da Igreja, com campas seculares largadas à sua sorte e à única companhia de ervas daninhas.
Há gente feia na Charneca, conforme as minhas piores premonições. Mas há amoras no chão de um enorme jardim que ninguém frequenta. E eu espreitei o pequeno cemitério por um portão de ferro, fechado a sete chaves - só abre uma vez por ano, para cortar o mato, e diz o padre, que tem sotaque francófono,que duas pessoas vão lá depositar flores de plástico (ele não disse que eram de plástico, eu é que vi) -, e vi o (T)ralha.
Francamente, não sei o que fazer. Não tenho coragem para o matar. Eu, que sempre defendi a eutanásia.

5 comentários:

Anónimo disse...

era para comentar qualquer coisa. qualquer coisa. tenho andado para dizer qualquer coisa. mas soa-me a morte anunciada. e se o motivo é o brilho nos olhos e o coração mais em paz, mais tranquilo, deixa-o morrer de velhinho, ainda que o trates como se de um velho abandonado á sua sorte num qualquer lar, onde a familia só vai de quando a quando, até que um dia recebem um telegrama que diz "morreu" e eles desculpam-se com um "mas estava tão bem, tão sossegadinho, estivemos lá ´há... há quanto tempo?
-Um ano e tal..
-ah...parecia menos tempo..."
se a causa de, é a felicidade que te corre agora no corpo, deixa-o morrer de velhice.

Anónimo disse...

O visitante n.º 65 225 diz...

Temos pena!
(ñ faz mal), mas temos muita pena.

Mas, quanto mais penso nisso... Nessa ânsia que te fomentou, qual cornucópia jorrando (horns of plenty), à razão de 1.33333 postes por/de (riscar o que ñ interessa) Dia, e nós para aqui deleitando-nos com 9,1 de pérolas literárias por semana; sem nos queixarmos das tuas persistentes queixas (lamentos) nem das gralhas nem nada. "Mira", nunca te merecemos, Tu é que sempre nos mereceste: 250 ou o Diabo que seja, tanto faz! Carpiste os dias a dias e nesse festim só fez falta quem esteve (perdoa-me o lugar comum. Mas é verdade.). Até à hora.

Segundo me consta ontem/hoje (ris.ñ int.) é lua nova. (perdoa-me outra vez) É todo um novo ciclo que se (re)inicia.
De novo, um entroncamento: - 2 pontos = 2 caminhos -.
Que tal, que tal:
um ano sabático e Vai-te à Vida.
E, nesse caso, com outro tempo e tudo isso que te sentes à beira de gozar; a "fortuna", a (...), em suma, Parece que chegaste à fronteira do país (Desabafo: estou a sentir m.tas dificuldades para transcrever o conceito da coisa) da Felicidade. Só que tu tens sido como que estrangeira em terra imprópria. Tipo: de Nacionalidade Feliciolândesa mas de Naturalidade de "Ora-Chora-Que-Logo-Bebes". e tu estás perto, muito perto, da tua terra. Volta, portanto e sem medos, volta para a tua terra!

p.s. (haja paciência): Nesse tal ano coisáquico aproveitavas, e, calma e serena q.b., postavas um ganda LIVRO! Daqueles à séria e tudo, com muitas letras e bué da papel. O papel torna-se essencial. Funda, pois, mais uma nova dinastia na tua já simpática famelga. O ramo dos escritores à séria com livros publicados e tudo (grande pandilha, tu e o teu irmão).
Daqui a um ano, num qualquer dia da próxima edição da Feira do Livro, eu mais duzentos e cinquenta deslumbrados haveremos de fazer fila para a Sessão de Autografos, pondo à prova "essa" lendária tendinite (1 ano e meio dizes tu?)

Isa disse...

tu nem te atrevas. nem te atrevas!!! a gente aguenta um post de 3 em 3 dias, e nem cobra. a gente aguenta posts felizes, a gente aguenta posts de fotos, a gente aguenta praticamente tudo. o que a gente n aguenta é o (t)ralha enterrado. tu nem te atrevas...
bjs mil e curte ao máximo, miss 50 000.

Mary Mary disse...

O que tiver que ser será... Se for morte então que seja... Prefiro que viva com um post por mês... Mas as nossas limitações são assim... A felicidade quando nos invade o corpo não nos deixa pensar e dar ao dedo como gostaríamos. É sempre assim! Segue o coração até para isto... Eu não vou desaparecer tão cedo, como se costuma dizer "Vim para ficar!". Se tiver que ir a Santa Marta ouvir histórias vou... :) E quando as saudades apertarem mesmo muito desta escrita frenética há um ano inteirinho mais uns meses para ler...

MPR disse...

A eutanásia para quem sofre, mas não se mata quem muda, quem evolui, quem está vivo mesmo sem a vivacidade (passo a repetição) que a tristeza trás. Dá-lhe tempo, podes vir a ser uma viuva mas "hoje não será a véspera desse dia"...