segunda-feira, abril 24, 2006

Agora durmo menos

Agora durmo menos. Agora escrevo menos.
Foi ele quem mo disse e não era um lamento, não o entendi como uma reprimenda, não levei com nenhum processo disciplinar quando o sol ainda dormitava, apesar de o despertador já estar a tocar há um bons dez minutos, acordando os melros, que já cantavam “bom dia, princesa”, em Santa Marta.
Mas posso estar enganada: os chats, pelo menos este, que vive dentro do Gmail, não têm tom, e também não têm smileys irritantes e sons e winks que fazem tremer o ecrã, não têm fotos ou webcams. Posso ter entendido tudo mal.
Não escrevo menos: os chats são posts, e esta madrugada escrevi um post com 762 linhas, um post que foi apurando em fogo alto, a um ritmo frenético de chuva de estrelas cadentes em céu limpo de Agosto, quatro horas a ser confeccionado e ficou delicioso, não estorricou (a Magui havia de se orgulhar, e o frango do jantar também estava bem – e quando, meu Deus, quando é que eu memorizo que a Esquizo não gosta de queijo???).
Não escrevo menos. Mas devia ser proibido escrever aos fins-de-semana. O Blogger fechava a barraca a bem da nossa saudinha, porque os compulsivos não sabem quando parar (e não sei o que se passa, que graça me foi concedida, porque são seis e meia da tarde, as minhas pestanas estiveram coladas apenas durante quatro horas e meia – o que me lembra que preciso de mais um café, o segundo, e isto vem no seguimento do que eu ia escrever a propósito de serem seis e meia da tarde e de eu ter fumado apenas quatro cigarros).
Antigamente, as audiências diminuiam drasticamente aos fins-de-semana. Agora já não (e estou careca de receber mensagens, essas sim, de protesto: “então hoje não postas?”). Estamos todos agarrados a isto. Eu levo com um ano e quatro meses de adição. Quero Metadona, por favor ponham-me na Metadona.
Não escrevo menos (e se eu paro de escrever?, sempre, recorrente no meu cérebro, em caligrafia itálica, Dupont de prata encaixada nas folhas cozidas da Moleskine). Passei a manhã a rabiscar folhas de papel, a amachucar folhas e a mandá-las para o chão, insatisfeita com o resultado, a certa altura, liguei o computador, Word com ele, antigamente era ao contrário, saía melhor no papel, mas no teclado, já o escrevi, já percebi porque é, trabalham duas mãos, dez dedos, e no papel, quem labuta é a direita, aquela que eu cortava se fosse preciso para o meu irmão siciliano a esquerda pode ficar a destruir as sobrancelhas – novo tique – ou a fazer festas ao cabelo que nunca mais acaba. Uma manhã inteira a escrever o bilhete de resgate que irá acompanhar o livro de 1880 na sua próxima viagem, até ao jardim da Estrela.
Não era um bom dia para o largar. Muitas famílias infelizes, a fingirem que são felizes e equilibradas e funcionais, no seu passeio domingueiro e isto de abandonar livros seculares é como roubar um chocolate no supermercado: um nervoso miudinho e todos os olhos, até os dos patos do lago, por cima da mulher de cabelos compridos, vestido florido e sapatos de cunha Adolfo Dominguez, a seguir todos os seus passos. Fiquei-me pela réperage, não era um bom dia para a caça ao tesouro, apesar do sol que me aconchegou a pele dos ombros, e o livro bem que se contorcia na mochila com ganas de liberdade, com uma insustentável vontade de devir. E agora ele desassossegou-me e não foi por ter dito que eu agora dormia menos e escrevia menos, foi porque me falou de um miradouro e eu não vi nenhum miradouro no jardim da Estrela e, se calhar, gosto dessa ideia, de o pousar num sítio onde ele tenha vista sobre a cidade, que possa lá ficar umas horas, a arejar, depois de ter estado fechado na garagem do Sequeira, dentro de um boca de sapo, depois de ter viajado de Portimão, onde foi comprado há 120 anos, o livro merece uma paisagem bonita, que fique gravada nas suas páginas a tinta invisível, até que ele o venha buscar e o carregue debaixo do braço por 130 degraus acima do nível do mar.

[o post acabou de ser escrito às 19:21. Mas ao que parece o Blogger está a castigar-me pela ausência prolongada e está a fazer-se de difícil]

4 comentários:

AnadoCastelo disse...

Esse livro é um desafio misterioso. Qual Sherlock Holmes será capaz de decifrar o enigma???

Goiaoia disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Goiaoia disse...

Numt Enhov Ergonha disse:
É o "caracol", pá! o miradouro É! o Caracol. 'Tem nada que enganar. Se entrares pelo lado da Igreija do Divino Espírito Santo - nome em que o povo nunca pegou , daí ser basílica da Estrela. da estrela?? Isso é católico? Parece-me que não! e?? igreija leva "I", não me consigo decidir mas soa-me a "I", algures...depois do "e" (preguiça para ir ao dicionário.) -- desculpa, desculpa - por esse lado, pois então, enfias-te junto ao muro fronteiro do lado direito. Começas logo a entrar por um caminho, vê lá tu, alternativo. É onde desaparecem os namorados até ao seu regresso, é onde está escondido o centro de dia para o público sénior. Alííí, à bisca e à moeda. E ó crochet
(Cheira-me a work-shop de cróchêt potencial. A hemorotecazinha também é uma delícia, uma mescla de publicações dividida entre a barbearia e o cabeleireiro, tipo "de dentista" só que pa' todos os gostos. todos. E o jornal do dia, claro. Quem não tem internet caça com os dentes, se os tiver.) e onde as Árvores (com áh grande) têem ramadas amazónicas quasi a roçar o chão. Um jardim botânico logo ali, do lado oposto à esplanada. Só para quem quiser ver.

Segues por ai a fora, acompanhando paralelamente aquela alameda bónita,
acolchoada, digo, alcatro(n)ada de cor sangue-de-boi para bicicletas, sapatinhos com ródinhas, tróti-nétes , pós "skate boarding is not a crime"'es e restantes "pedonais" mais-ós-carros da psp. Muito exclúsiva mas demasiado inclusiva.

Ías indo, vou eu dizendo, sempre colada ao lado direito do jardim, sempre, sempre, aqueles miseros, quê?, setenta e cinco metros. Nem isso, mas parece mais, lá isso parece, até que descortinas entre as Árvores'zinhas ú grande e enorme lamaçal de areia onde se soltam as criancas (Infelizes, mas de certeza muito funcionais) nos feriados nacionais. Quando começas a ver o deserto, reparas que o caminho te começa a querer desviar-se ainda mais para a direita. (Huuuunnmmm?!? à maneira, ahn? parece-te como deve de ser?) Para a direita. ainda para mais, e chegando ao entrocamento, pois tu escolhe de olhos fechados por onde deves prosseguir,a bússola que te norteie, se te falharem os ideais, nesta data tão bonita, em que uns se enrrascam e outros se enfrascam. Nesta data memorável, óh iodita ed dtieira. Mas sem medos. à
confiança. A confiaça cega com que (...(tomates isê tomates)...) Devotas às tuas visões.

Mas sim, o caminho começa a subir. Aprende a andar companheira. Aprende a andar como tu bem o sabes fazer, com estilo. o teu super-estilo, aquele que faz com que não caminhes, desfiles. Desfila, tu, airosa: póc, póc, póc, pór alí a fóra, póc, poc-póca (cuidado, é acidentado.) O trilho sub-divide-se ainda mais. e mais, podes ir insitindo à vontade. É perigoso o caminho que trilhas. Em lisboa, nos tempos em que havia lobos, lobos maus e lobos bons, eram aqui as suas circânias, o seu couto. E tu à procura de coito para o livro, um esconderijo como o d'apanhada, só que ó contrário, "ó ráite"? (muito bem). Um livro descomunal. Gordo, enorme, tu leva uma picareta, isso não é um dicionário (posso dizer dicionário três vezes? (acho que já disse lá em cima, lá longe) ainda num tinhas referido isso pois não? (ass: só-faço-asneiras!)) Aquilo mais parece uma enciclopédia. Papel de arroz e capa grossa sola-de-sapato. Ganda Sequeira. Se tiver mais alguns, pois, venda-os a sapateiros. É lucro garantido. Pa todos.

Perdão. Ai, Ui. suspiro.

Mas tu sem medos, afinal ainda há-de ser (de)/(o) dia, e além disso, tens mais em que pensar. O livro! não, o livro não: O Miradouro. Pode lá caber um miradouro num planalto tão certinho comó'da Estrela. Tu vê o mapa. Num bate certo. É treta. É? Será?
Começas a vislumbrar assim um cónezinho, aliás, vai na volta e sai-te um conão. Se o visses do ar vias uma espiral. Um parafuso, (assim mais ou menos com a forma deste texto.) um caracol com a forma de um soutiên (tá bem escrito? no original, ai min? de certeza que não!) artilhado à Jean Paul Gaultier, armadura DA Madona (DA não é da! agora, tu acerta, faz pontaria... Pop, em cheio.).
que despropósito... Vou extreminar isto de uma vez por todas.

Trepas, trepas, trepas até-ó-ao-áltinho, e, em chegando ao cume do montículo (tens um plaqueta à tua frente), mira por sobre o ombro direito. Devias ver o esplendoroso estuário do tejo. De ponte a ponte. Por cima de um prédio largo de quatro
andares tão antigo, tão antigo, que já era. Abandonado, enfim, até pelas velhotas com os seus gatos e vasos amestrados. Agora está lá um outro, bónito. Cor de rosa típico anos-cinquenta-lisboa-será-assim-para-todo-o-sempre, mármore à maneira oriundo dos futurísticos anos 80, janelas V-Lux com quatro andares. O prédio tem quatro andares, só que te comeram o rio. Eu assisti ao antigo, ao abate, à (a)manha, à desóssa, toda. E depois esqueleto novo. De Betão. Pumba! Parecia uma prótese. Ficáste logo a ver o rio por entre o último andar. Assim, pela penthouse do 4.º andar. ainda sem paredes. Acentaram tijolo e pronto. Foi um ver se se aviam. Na altura indignou-me que não se exigisse como contrapartida pelo prejuízo público, pois, que o construtor civil fosse encarregue de expandir o caracol (meter-lhe assim mais umas pedrinhas em cima, e betão, muito betão). Para não nos privarem desse tão singelo canto, tão escondidinho, tão exposto. (hoje estou todo inhinho e zézinhos).

Parece-me bem. Parece-me muito bom spot. Já ninguém lá vai. está gasto, fora de uso. Áh! Tem lagartichas ao sol: Lounge Lizards. mais, mais? uns corredores correndo, uns charrinhos e uns velhotes. Tudo isso à vez: ou lagartos, ou velhotes, ou... são públicos que não se cruzam muito. Leva a picareta, mas deixa lá o livro. e a picareta pode ser que dê jeito a alguém(!!).
éXs marks the spot. 25 de abril sempre!

Goiaoia disse...

«hã?pim»??
Olha, foi por estas e por outras...