quinta-feira, abril 27, 2006

História

[Perdão pela demora no arranjo paisagístico do quintal, mas, nos intervalos desta escrita, a minha favorita (hoje em dia, já não é a minha favorita, lamento: agora, gosto de escrever com esferográficas do PSD na Moleskine e rasgar as folhas, um sacrilégio nunca antes cometido na grande colecção de cadernos pretos que já escrevinhei na vida, rasgar pedaços de mim, escritos com caligrafias que variam consoante o meu estado de espírito, e depositá-los à noite, no Jardim da Estrela, porque sei que são adubo para a rosa e sei, tenho a certeza, que alguém os vai recolher poucas horas depois) - e isto é só às vezes, muito de vez em quando -, tenho que entrevistar o presidente da câmara de Lisboa, e desgravar a entrevista no mesmo dia (e isto implica ouvir a mesma conversa duas vezes e ouvir a minha voz irritante na fita da cassete), e editá-la, cortá-la, fazer vários textos e títulos, e a meio disso tudo, ainda tenho que ouvir da boca do ortopedista lindíssimo, escolhido num casting qualquer de telenovelas da TVI, a dizer-me que preciso de duas operações em cada joelho, uma, simples, que são dois furinhos e outra que deixa cicatrizes enormes, e depois quase que tenho eu de o consolar, porque ele que diz-me que é um crime fazer-me marcas daquelas nas pernas, mas já não era pelos meus lindos olhos, nunca foi pelas pernas ou pelos joelhos, muito menos pelas mamocas que faço parecer interessantes com decotes sinuosos (e o Carmona, naturalmente, que se desbocou um pouco mais do que devia, pela indecência do vestido que levei para os Paços do Concelho): quem quiser morar em mim, vai ter que levar com duas cicatrizes laterais de dez centímetros de comprimento nas pernas, e claro que eu vou tentar a fisioterapia, doutor, tento a fisioterapia mesmo que haja muito pouca esperança. É que eu também não queria marcas, não queria mais do que as que já tenho e que não foram feitas com o bisturi ou o com o objectivo de me tirar as dores ou endireitar as rótulas]

Tenho uma história para escrever. Mas não a escrevo aqui, não a escrevo para mim, para mim não preciso, prefiro vivê-la a cada dia que passa desta Primavera, a cada rosa que brota no jardim da Estrela. Escrevo, hei-de escrever, com tempo, com calma, de dia, protegida do sol por uma árvore cujo nome informa que ali existe uma bela sombra, para a minha filha. Esta história fez-me sonhar, esta madrugada, com bolas de sabão que traziam o arco-íris lá dentro. E eu não sonhava há não sei quantos meses.

E está um post em draft neste blogue desde a madrugada d0 25 do 4. E o Blogger e todos os blogues da blogosfera fazem figas para que ele seja publicado.
Até lá.

5 comentários:

Isa disse...

PUBLICA, PUBLICA, PUBLICA!!!!

a cena dos joelhos é sério??? toda a sorte.... bjs

ffidalgo disse...

gostei deste post. Gosto sempre, não é? Mas está light, giro, com piada. Mesmo que seja a brincar consigo imaginar a cara do Carmona. E os joelhos...

Dia disse...

Querida malmequer esquizo, obrigada pelas rezas por baixo do meu santinho favorito.
Isa xuxu, é verdade a cena dos joelhos e Floca este post é tudo menos light. Fala de coisas seríssimas.

ffidalgo disse...

ups...

Anónimo disse...

estou à espera mana... ;)