domingo, abril 16, 2006

Tentativa e erro

[É tão difícil começar: os posts, como as cebolas picadas, são escritos sempre com muito amor e sem dead lines de fecho para cumprir, sem editores a pressionarem, sem rotativas que se perdem ao mínimo bloqueio criativo. Às vezes acontece, o obrigar-me a escrever, por estas bandas. Sei que há muitos olhos a pairarem por aqui, à noite, como corujas, e de dia, como aves de rapina. Lido mal com a desilusão. Faço tudo pelos outros, esmifro-me, fico seca e sou péssima gestora de expectativas. Não sou uma máquina frenética de produção literária. Espero transes que, às vezes, perdem-se pelas ruas estreitas e becos da rede, luto na lama com as frases, fecho os olhos e vejo letras na escuridão, escrevo e apago, solto os dedos como cães presos à corrente todo o dia, desespero e às vezes desisto. Como hoje. Certamente, amanhã, de manhã, enquanto afogo o cabelo, a cara e os dias calmos de folga no duche, surgirá a frase mágica que iniciará a história da minha primeira visita ao jardim da Estrela que queria contar. Amanhã volto à janela sobre a Andrade Corvo, volto a apostar alto na roleta da EMEL com a protecção do demónio do estacionamento, e os posts voltarão à sua cadência de sete mil caracteres por dia. Nada me inspira mais do que posts entre notícias que, quando saem para as bancas, já são passado. Nada me dá mais gozo do que ser a notícia de ontem.]

2 comentários:

ffidalgo disse...

espero não ser a tal coruja...
mas que queres?! Tu (a)postas tão bem que a gente fica á espera. Apostas alto sim.
E ganhas sempre, pelo que leio.

Anónimo disse...

não é desilusão, é apenas saudades das tuas letras.
T.