Agosto
Já chegou o meu mês favorito - o mês em que os casalinhos apaixonados decidem dar o nó, parvos, inconscientes, ignorando a sabedoria popular: casar em Agosto dá desgosto.
Tenho saudades das guerras de provérbios. Veio parar à minha secretária no outro dia um dicionário de provérbios portugueses; 800 páginas de grandes verdades, que eu devoro todas as noites, enquanto penso em ti minuto sim, minuto não, - já vou na letra "b" -, já aprendi dezenas de novos ditos, espero apenas uma oportunidade para os usar, acho que não os vou usar contigo nunca mais, mas que se dane: A esperança é a última a morrer, apesar de eu achar que quem espera desespera e não, nunca alcança.
Três horas depois deste último parágrafo, decretei o fim da aventura.
Três horas e meia depois deste último parágrafo, o João Ramos de Almeida desmaiou, teve um AVC.
Agosto chegou, mês de desgosto.
2 comentários:
Se me permite um comentário, a propósito de provérbios aqui vai...
Quem avisa...amigo é!
Como diria Monsieur de la Palisse, temos que saber com quantos paus se faz uma canoa, pois que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco..
Mas, como até aí morreu Neves, e quando um burro fala o outro abaixa as orelhas, vocês poderão argumentar que se conselho fosse bom, ninguém dava de graça, e se fosse mandioca, ninguém morria de fome, não é mesmo? Eu , no entanto, não estou aqui para ensinar o Pai Nosso ao vigário, uma vez que, sua alma, sua palma, e depois, cada qual sabe muito bem onde é que lhe aperta o calo.
Quero, a bem da verdade, deixar muito claro que o que os olhos não vêem, o coração não sente, que quem cala consente, e não adianta pressionar-me pois jamais dou nome aos bois, só lhes garanto que filho de peixe, peixinho é, e, para não ficar com a pulga atrás da orelha, aprendi que a filha da onça traz pintas que nem a mãe.
Hoje, dou a mão à palmatória: para quem traz barriga cheia, toda goiaba tem bicho, e, boa coisa não há de ser, se passarinho não cisca...depois, desde o tempo em que Berta fiava, comenta-se que Deus só dá asas a quem não pode voar, mas por aqui o ditado é diferente: Deus é grande, mas o mato é maior, e, como seguro já morreu de velho, é bom a gente não enfiar o rabo entre as pernas,a viola no saco, pois quem com cães se deita, com pulgas se levanta...
Quem burro vai à Roma, burro vai, burro vem, e por mais que se disfarce, deixa sempre as orelhas de fora, no entanto, é melhor ser burro vivo, do que sábio morto, falou Alceste. Assim, chegue-se aos bons e serás um deles. Se, no entanto, cair em tentação, dance conforme a música e jamais dê com a língua nos dentes . Em boca fechada não entra mosquito, depois, a boca foi feita apenas para guardar a língua e, parentes são os dentes, e assim mesmo podem lhe ferir. Segredo contado é segredo espalhado, por mais que roupa suja só se lave em casa...
Quando se pensa estar com a faca e o queijo na mão, é muito mais fácil
dar-se com os burros n'água e sair com as mãos abanando. Quanto maior o salto, maior o tombo! Chegue-se aos bons e serás um deles. Tenha sempre em mente que a ocasião faz o ladrão mas, por outro lado, ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, e como há sempre algo de podre no reino da Dinamarca, não adianta tapar o sol com a peneira, pois aqui se faz....aqui mesmo se paga.
E como tudo que é demais enjoa, e em terra de cego quem tem um olho emigra, vou encerrando por aqui este meu conto, que aumentei um ponto, lembrando que bom cabrito não berra, promessa de feijão não enche barriga, quem nasceu pra lagartixa nunca chega a jacaré, raposa que dorme não apanha galinhas e boi lerdo só bebe água suja.
Por outro lado,a fortuna é vária, hoje a favor...amanhã contrária, e ainda que o galo não cante, a manhã sempre rompe...e, depois da tempestade vem sempre a bonança. E tenho dito! Mas será o Benedito? Ah...se ele tivesse me dado ouvidos... Quem avisa...amigo é!
Os provérbios utilizados na crônica foram pesquisados no Dicionário Brasileiro de provérbios de R. Magalhães Jr., no livro Mas será o Benedito? De Mário Prata e no Dicionário do Folclore Brasileiro de Câmara Cascudo.
Delicioso, caro leitor, delicioso. Aconselho-lhe vivamente o meu livro de cabeceira: "O Livro dos Provérbios", de Salvador Parente, Editora Âncora
E eu agora estou numa onda de provérbios meios javardos: aqui fica um para si: "Quem mija claro não carece de doutor".
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