quinta-feira, agosto 25, 2005

Dependências

Mas porque é que nunca mais chove?
Os meus ossos - todos eles, já não são só os joelhos, não há uma única articulação do esqueleto que não me doa; dor fininha, daquelas que não mata, mas mói - estão a prever um dilúvio, uma carga de água, uma daquelas debaixo da qual eu, um dia, este Inverno, ou no próximo (ou noutra vida mesmo) te quero beijar, ficar parada no tempo, alheada da chuva que cai (valerá decerto a constipação de caixão à cova - fui muito gráfica outra vez?).
Porque é que não chove? Nada, nem uma gota tímida para amostra, para desassenhar (existe, este verbo?) os meus ossos - o céu está azul, está mais fresco, é certo, mas o céu está azul, uma ou outra nuvem de nortada, as minhas favoritas, as que parecem carneirinhos e dão largas à imaginação de quem se dá ao trabalho de olhar para o céu, mas são todas branquinhas, parecem algodão doce; as escuras, as carregadas de água, estão a enquadrar o beijo de outros amantes, noutra freguesia qualquer, numa parte recôndita do globo (haverá alguém a beijar-se à chuva neste preciso instante???)

A Qui Qui vai hoje para a terrinha, duas semanas, 15 dias, e eu não sei como vão ser as noites sem ela. A Qui Qui ilumina-me as noites.
Eu estava às escuras, não paguei a conta, com certeza que foi isso, e o senhor do pedestal decidiu cancelar o fornecimento de electricidade às minhas noites. A resolução do contrato foi sem aviso de corte, sem hipótese de pagamento, mas o fornecimento de luz foi gradualmente diminuindo. A luz foi ficando fraquinha, fraquinha, chegou a um ponto que era uma daquelas velinhas que estão na moda - as tea candles -, mas eu sempre me contentei com pouco, com muito pouco.
A chama é fraquinha, quase não se vê, está à direita, em primeiro lugar (porque é que continua em primeiro lugar? Porque é que continua lá, de todo? Esquecimento? Ou és mais um a gostar só do que eu escrevo e a dispensar o resto do pacote?)

A Qui Qui é um neón nas minhas noites. Faz-me companhia à janela. Somos vizinhas de um bairro típico virtual, falamos às nossas janelas de tudo, encostadas aos parapeitos pintados com sardinheiras, brincos de princesa e buganvílias.

Dianas

Estas somos nós, as Dianas, eu ainda com aparelho nos dentes, numa noite de excessos na minha casa velhinha.

A Qui Qui vai para a terra, ter com a avó, e eu declaro-me aqui dependente da minha mana pequenina.

Como se chama às pessoas que são estupidamente atreitas a dependências? Há uma designação científica? É uma patologia? Uma fragilidade? Alguém me sabe dizer?

2 comentários:

Anónimo disse...

e a qui qui gosta muito muito da mana mais velha!
um grande beijinhoooo

Mary Lamb disse...

Nem fragilidade, nem patologia. É o Amor!!!
Ana