E se eu páro de escrever?
E se eu páro de escrever?
Se o nosso amor fosse mesmo de papel, se não fosse um código binário, cheio de zeros e uns, era assim - olha bem para esta imagem
Moleskine, escrito com a Dupont de prata.
Seria mesmo assim, na maioria das vezes em itálico, porque tu me desconcertas, e quando eu fico ao rubro, quando alguém me faz transbordar para lá do que eu achava ser possível, inclino a letra miudinha, escrevo em itálico. E quando assim é, nem dá para perceber que os meus erres são iguais aos meus énes, que os vês são iguais aos us. A minha caligrafia tem dupla personalidade, tem dupla personalidade porque as outras sete personalidades estão amarradinhas com cordas, não lhes dou rédea solta.
E se eu páro de escrever?
Se calhar até te sentes confortável com o estatuto - és o meu chulo literário.
Não é pelos meus lindos olhos azuis. Não é pelos meus lindos olhos azuis, porque eu não tenho olhos azuis, tenho-os apenas nos meus genes, passei-os à minha filha, mas não é pelos meus genes. Nem tão pouco é pelas minhas gigantescas pestanas. Não é pelo sinal de nascença gigantesco que eu tenho por baixo da mama direita; não é pelas minhas mãos esguias de artista, nem tão pouco é pela minha voz - não é pela minha voz falada, muito menos pela minha voz cantada (a minha voz também tem múltipla personalidade).
Não é pelo meu metro de cabelo e não é pelos meus pés; nem tão pouco pelos sapatos bonitos que colecciono.
Não é por nada disso, porque nos vimos apenas quatro vezes.
A primeira foi diferente, a segunda quase não conta, a terceira não foi de vez e teve sabor a primeira, deixou marcas nas paredes, e na quarta estivemos mais tempo de olhos fechados - eu estive de olhos fechados, tu estiveste com eles bem abertos, mas estava escuro, não viste grande coisa, à noite todos os gatos são pardos (e parvos, acrescento eu) e, por isso, não é por nada que tenhas visto.
E se eu páro de escrever?
É pelo que eu escrevo.
E quanto mais eu sentir que é pelo que eu escrevo, melhor sairá, mais preso ficarás, e eu não me posso dar ao luxo de deixar de escrever.
Aqui.
Para ti.
Na Moleskine, com a Dupont de prata.
A custo, num processo quase tão doloroso quanto prazeiroso, vou continuar a arranjar frases.
Vou arranjar uma frase que te martele um mês inteiro na cabeça - quando abrires os olhos, de manhã, e quando os fechares, à noite, quando passeares pelas ruas da cidade e pelas ruelas da tua casa; uma frase que se cole à tua pele - e não vale a pena esfregares no duche com água quente, vai ficar grudada.
Vou arranjar-te uma frase, ou três, porque eu só gosto de ímpares, daquelas que te prendem a mim para sempre, e um dia, com esforço, se me fizeres mal, arranjo-te uma frase que te amachuque, daquelas que ferem toda a gente.
4 comentários:
fiquei sem palavras.
as vezes tento encontrar mentalmente o teu melhor post de sempre... é dificil.
Nao te sei dizer ao certo se este é o melhor, mas apenas porque tenho medo de me esquecer de algum...
Se esse amor passa do papel acho que escreves um best seller.
E nao, esse mail eu nao tinha lido. apenas decidi passar pela senhora do lapiz azul antes de enviar o comment, quando ela virtualmente sorridente me diz "isso já eu tinha tinha escrito"...
as dianas...
lápiz era lápis :)
até me desconcentras!
já estou como o rapás que até é bom mosso! hehehe
:-)
As Dianas são assim - estão no mesmo comprimento de onda, minha maninha querida...
Beijo grande e obrigada.
já esteve mais longe...
mas hás-de cá vir...
um dia, escreverás qualquer coisa como "lúguebre"...
eh eh
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