sábado, setembro 17, 2005

Ainda o mistério alado

A Qui Qui diz que passa tempo demais a pensar nas impressões corporais do ser alado que esbarrou na porta da Estados Unidos (e há uma segunda impressão corporal, também com asas, a mais de 2,5 metros de altura, que eu fotografarei assim que possível) e eu compreendo-a perfeitamente.
Não sei se é coisa das Dianas, mas também não me sai da cabeça o fenómeno quase paranormal, até porque a senhora que faz a limpeza lá no prédio (que é das melhores pessoas do mundo, acreditem) está de férias e o bicharoco ainda está lá para quem o quiser ver.
O manualdedeus estreou-se nos comments neste quintal (seja muito benvindo; este blog, assim como o seu, tem leitores mudos e com uma qualquer parilisia nas mãos que os impede de comentar o que aqui se escreve e eu nem escrevendo sobre sexo consigo encher as caixas que o Blogger disponibiliza para o efeito, mas também já me habituei à plateia silenciosa, espiolho os seus movimentos através do statcounter, comove-me, Andy, que cá tenhas vindo hoje às nove e picos da manhã), e avança com uma explicação que me agrada particularmente, a de um anjo pequenino que atravessou a matéria translúcida do vidro "como se de ar se tratasse".
Gosto de pensar que é o anjo da minha Carolina que anda sempre de vigia por aqueles lados, velando-lhe o sono, afastando os sonhos maus - ele deve ainda estar na Unidade dos Cuidados Intensivos do Hospital de São Miguel arcanjo, algures entre o céu e a terra, porque hoje ela teve muitos pesadelos -, protegendo-a de coisas que eu não vejo, que não dependem mais de mim.
"Anjo da guarda, minha companhia, guarda a minha alma de noite e de dia. Anjo da Guarda, minha companhia, não me desampares, nem de noite, nem de dia" - vocês não imaginam quantas vezes eu, descrente, repeti esta lenga-lenga, no quarto 615 do Hospital Particular de Lisboa, durante três longas madrugadas, a Carolina com horas de vida, o bébé mais bonito de toda a freguesia de São Sebastião da Pedreira, a dormir ao meu lado e eu agarrada ao anjo da guarda de prata que a minha mãe (outra descrente) trouxe para a minha filha no dia em que ela nasceu, dia em de Nossa Senhora da Conceição (faça sol e chuva não, mas choveu o dia inteiro), o anjo preso ao meu pulso com uma fitinha de cetim branca e eu a pedir-lha ajuda e paz nas desventuras.
E ando zangada com Deus, não falamos há muito, mandei cortar a assinatura, rescindi o contrato de prestação de serviços, mas, de vez em quando, sei que ele ainda olha por mim e põe, no meu caminho, anjos de carne-e-osso para me orientarem, para me protegerem, anjos que às vezes têm tatuagens, outras vezes têm mesmo cara de anjos, são perfeitos e irradiam luz (e quando estou com eles, com os que não parecem anjos e com os outros que é de caras que perderam as asas nesta reencarnação, ando sempre à procura de um rasto de penas).
Eu olho para aquele vidro, obsessivamente, e também não me parece ser possível um pombo; os pombos são singelos, não têm aquela corpulência do "desenho" no vidro. E naquele prédio não há ninguém genial (à excepção do meu irmão Leonardo), são todos velhos, mais velhos que sei lá o quê, não é obra de nenhum dos inquilinos da Magui.
Olho para as asas, lindamente impressas, reviradas, perfeitas, agradeço por não ter enlouquecido, de elas estarem lá mesmo, e aceito que não vou desvender o mistério. Seja um anjo. Agrada-me essa imagem. Se calhar os anjos não deixam penas pelo caminho. Ficam impressos nos vidros da porta da nossa casa.


[e deixem-me partilhar esta rima linda de pé-quebrado, com a qual o JBA, me presenteou neste início de tarde: Os peidos saem do cú/ Os pombos dos pombais/ Os pombos voltam sempre/ Os peidos não voltam mais]

4 comentários:

Anónimo disse...

Eu já vi, ao vivo e a cores, a impressão, não de um pombo, mas de uma coruja. Foi em França. E qdo me apontaram a dita impressão, pensei q ou eu tinha percebido mal, ou a pessoa estava louca. Nem uma, nem outra. Estava lá. Mesmo. A impressão alada da coruja. Com os olhos esbugalhados e tudo. Pelo menos as corujas já têm a cara achatada, não se deve ter magoado tanto... como o anjo... ;-)

Mary Lamb disse...

Esse anjo vai acompanhar-te sempre. Mesmo tendo rescindido o contrato com deus, os anjos vao trabalhar para sempre.
Ana

fernando lucas disse...

Lembrei-me de outra possibilidade...
Terá sido um gigante de bigodes revirados que encostou o nariz no vidro para espreitar?

Dia disse...

Gosto muito do teu "espírito científico", manual de deus! Continua a formular hipóteses; trazem imagens lindas, as tuas possíveis resoluções do enigma. :)