Alfredo. Fim.
O Alfredo já não mora no Largo de Andaluz.
De manhã, o senhor da tasca, que sabe o meu nome, que me trata por tu, e tem umas madeixas loiras na franja, disse-me que o polícia barrigudo chamou a câmara e o Alfredo está algures no canil municipal à espera de ser transformado em sabão.
"Assassino!", gritei eu bem alto, soltando perdigotos para a cara do agente ridículo de bigodinho, que patrulha a rua por causa das obras da EPAL. "Como é que consegue dormir à noite? Não lhe pesa sequer um bocadinho a consciência? Não tem vergonha nessa cara?", continuei eu com um ataque de raiva daqueles que não sentia há muito tempo, de punhos cerrados, olhos a faíscarem. E foi essa mesma, a sua explicação: "O cão ladrava muito; estava raivoso de certeza". E eu aos berros, parecia a doida que diz que a branca foi a melhor coisa que lhe aconteceu na vida, e que na noite passada, qual candidata à junta de freguesia, cumpriu a promessa que havia feito de manhã, que iria voltar a haver água no Chafariz do largo de Andaluz, e eu não sei como ela fez, mas ele está cheio de água, e o homem da tasca a agarrar-me pelo braço, e eu com uma vontade enorme de bater no polícia gordo de cabelo grisalho ensebado, ao mesmo tempo que no meu cérebro martela "Porque é que ele não quis subir para minha casa? Porque é que se armou em vadio?", disparo: "Não há raiva em Lisboa, ò besta quadrada, foi erradicada há muito tempo". E o ridículo, perdão, o agente da autoridade, diz que me leva para a esquadra, que me prende, e eu continuo a dizer disparates, com o peito para a frente bem cheio, como quem diz: vá, prende-me lá, se és homem. E ele claro que não é. Tem medo de cães e de mulheres à beira de um ataque de nervos. Tranquei-me no Idea e chorei copiosamente, lágrimas que não corromperam o rímel à prova de água, chorei desalmadamente com o nariz a tocar no símbolo da Fiat do volante. Não sei quanto tempo lá estive, o suficiente para chegar atrasada à arruada do Carmona.
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