Politiquisses
O cidadão Rogério Guimarães, eleitor nº 6823, da unidade de recenseamento das Caldas da Rainha, comprou um anúncio grandote (e carote, com certeza) nos classificados do pasquim que me paga a renda da casa, para apresentar as suas desculpas a todos os democratas por ter contribuído com o seu voto para a eleição deste Governo (PÚBLICO – 9 de Setembro, caderno Local, página 58, para quem estiver interessado).
Ontem queimei um Domingo de folga a acompanhar o candidato à presidência da câmara de Lisboa que me saiu na rifa, pelos piores bairros de Chelas, e eu e o mano reaccionário discutimos à hora do jantar (para além da questão de que toda a gaja barbuda, gorda, sebenta, a cheirar mal da boca e dos pés, ter namorado e eu, que nem sou uma monstrenga, não – a discussão continuou mais tarde, numa janela à direita do meu monitor, com o meu ex-marido a perguntar-me, out of the blue, se é por eu ter uma filha que os gajos não se aproximam e eu a responder-lhe que não deve ser, é mesmo por minha causa, que os afugento com as minhas maluqueiras; só neste blog é que a minha excentricidade têm legiões de seguidores dependentes), que devia ser instituído um exame de aptidão para o voto.
Estava na Zona I de Chelas (o Carmona não quer que se chame Chelas pelas letras, mas, caro professor, comigo essa treta não pega) e ouvi um senhor de bigode farfalhudo e grandes patilhas dizer que ali, as “gentes”, votam mas é no PCP.
Um elemento do staff do candidato independente apoiado pelo PSD perguntou ao tal senhor de bochechas rosadas - que partilhou com todos que tinha votado numas presidenciais no Soares, porque o “partido” lhe tinha dito para fechar os olhos e votar no PS -, o que é que ele achava do Ruben de Carvalho. O fiel eleitor do PCP respondeu: “Não sei, não conheço”, pensando que o assessor se referia a um outro candidato da oposição. “O meu voto vai para o Jerónimo”, disse com convicção, segundos depois. O colaborador da candidatura de Carmona Rodrigues explicou-lhe, muito educadamente, que o Ruben era o candidato do PCP à Câmara de Lisboa, mas isso não interessava nada ao senhor bonacheirão. Não faz ideia em quem vai votar, mas não há problema.
Os taxistas precisam de ter um Certificado de Aptidão Profissional para conduzirem uma viatura, que lhes custa 200 contos, de cinco em cinco anos. Para além disso têm, como qualquer condutor, que ter a carta – o que implica um exame de código e outro de condução. Eu pago, de dois em dois anos, à Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas, uma imoralidade para escrever notícias. Os advogados têm o exame da ordem, enfim, os motoristas de pesados são obrigados a fazer testes psicológicos com frequência (talvez não a desejada, anda para aí muito doido), mas para votar basta ter 18 anos. Único requisito.
Não interessa que não saibam o que são as instituições, para que é que se vota, o que é que se está a eleger. Não interessa que nunca se vá votar na vida. O direito ao voto está no código genético, é intocável.
Antes que a esquerda fique com a ratinha aos pulos com este post (espero nunca mais me dar para estes lados; é mesmo só porque me comprometi a não tocar nos trágicos acontecimentos da semana passada), que isto é uma ideia neo-fascista para calar os pobres e os desprotegidos, eu e o mano reaço estamos francamente convictos que a classe média-alta chumbaria em maior percentagem do que a classe média-baixa.
Já estou a ver os tios da Lapa a responderem ao teste americano de múltipla escolha: “Nas legislativas o que é que se elege? 90 por cento responderia o primeiro-ministro. 8,9 por cento optaria pela resposta B - o presidente da república e 1,1 lá acertaria na terceira opção.
E qual é, caros, a resposta certa?
1 comentário:
O Sr. Rogério Guimarães terá pago algo como 63€ (se não teve desconto)... para pedir desculpas à população. Eu não preciso de pedir desculpas porque exerci o meu direito de voto mas não para com estes nem os anteriores senhores que (des)governam.
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