Elimina-se
As limpezas continuam.
Elimina-se um blog secreto, feito para um único leitor, como um fato de alfaiate
Elimina-se contactos do telemóvel.
Elimina-se uma label do Gmail e todo o seu conteúdo.
Elimina-se bookmarks dinâmicos do Firefox.
Elimina-se um contacto do Messenger e o histórico de mais de três meses de “namoro”.
Elimina-se o chip anafado do meu cérebro.
Elimina-se tudo, depressa, sem pensar, fecha-se os olhos, inspira-se fundo, como se fosse mergulhar, franze-se a testa e o nariz, tenta-se imaginar a magnitude da dor - é maior do que algum dia se imaginara -, e carrega-se na tecla, primeiro a medo e a missão é abortada (o dedo recua, cobarde, como se a tecla queimasse).
Na segunda tentativa, elimina-se um cigarro de enfiada numa casa de banho sinistra, o rabo em cima do tampo da sanita, os pés assentes no bidé e o fumo a seguir direitinho, como pulgas de circo amestradas, para os alarmes de incêndio. Esperam-se as lágrimas, enquanto o filtro do cigarro aquece, mas elas faltam ao encontro marcado, estão de greve geral, não choram mais por este indivíduo.
Na terceira e última tentativa, porque é impar e eu gosto desses números, é já com determinação, elimina-se tudo, porque assim dói menos, foi o que me disseram.
Elimina-se uma mão cheia de nada, mesmo muitos megabytes de nada.
3 comentários:
Era tão bom poder carregar nesse botão. De conseguir de uma vez por todas... Talvez um dia! Talvez amanhã! Assim o espero...
a existência do botão "delete" na vida das pessoas serve para apagar algo que está errado, já usei varias vezes esse botão para eliminar algo que passou. o mais giro é que funciona mesmo.
parece conversa de "capo" de uma família mafiosa.
É. É isso.
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