No café manhoso
Como sempre, cheguei cedo demais e o coração batia tão forte e tão rápido que quando foste embora, um SG ventil depois, fumado a pressa só para aliviar a tensão, ainda cavalgava descompassado de amor, do lado esquerdo do peito (e já só ponho o penso rápido dia-sim, dia-não).
"Um dia, vais esperar por mim", disse eu, a rir, envergonhadíssima, ao balcão do café manhoso - uma bica cheia e uma Ucal de chocolate, por favor. O café é mágico, guarda a nossa história retorcida a sete chaves e trinta e três aloquetes, mas ontem a nossa mesa não estava disponível. Escondemo-nos atrás de uma parede azul.
"Não é um bom dia para me chateares, Dia", responde ele, com um mau feitio e poder de encaixe de metáforas bonitas desligado há uns bons quinze dias. "Queres que eu espere por ti, Dia?", continua, mais doce agora.
Vais esperar, tenho a certeza que vais esperar, já chateia ser sempre eu com uma paciência de Jó, lá fora, sobretudo de fazenda castanho, bochechas rosadinhas do frio, vários posts a nascerem na cabeça, um trânsito cerebral que me deixa desnorteada, e depois é tanta a confusão ao final do dia, que quando me sento no sofázinho branco (não voltei a escrever no sofá laranja, que agora também é verde alface), com o portátil da maçã ao colo e o computadorzinho também é branco, o branco invadiu-me a casa, passo as noites todas com ele (casámo-nos ontem de madrugada, mas isso é outra história que terei de contar depois de escrever um texto para o jornal), que, depois, as mãos e os seus filhos dedos não conseguem dar vazão a tanto post engarrafado, às vezes há mortos e feridos a reportar como houve ontem na A1, choques em cadeia de palavras que se perdem no meio de tanto post aglomerado nas minhocas da minha cabeça, é assim quando não se escreve na hora e depois tem-se tendinites, claro, tendinites assanhadas que não nos deixam escrever mais de sete horas por dia.
Vais esperar sim, um dia vais esperar, nem que para isso eu faça horas na esquina, retoque a maquilhagem, lave os dentes três vezes, ou compre dois pares de sapatos, tens que esperar.
Não sei que dia é hoje. Fazemos quatro meses sim (17 é um dia perfeito, mas o 18 foi melhor, deixou marcas na parede, bem as tentei apagar, mas ainda lá estão) , mas não é por isso que a valsinha me foi entregue pelos estafetas do Gmail.
Estamos no café manhoso e de manhã, quando desembrulhei o presente, não podia imaginar que pudessemos voltar ao café das bruxas, o primeiro encontro depois do fim (fazemos quatro meses e já acabámos tudo umas milhentas vezes; vai ser assim até ao final dos dias; já perdi a conta às conversas que gravei com o nome de "fim" - aqui no PC do pasquim tenho sete fins e cinco "conversas de merda" que despoletaram finais infelizes).
Voltámos ao café manhoso. E ainda não sei se é bom ou se é mau.
1 comentário:
Pois tu sabes que é bom. Será sempre bom, até ao dia em que estiveres indisponível...
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