quinta-feira, novembro 24, 2005

Piçada (está a nevar em Paris)

Preciso de te ver hoje. Não sei se morro amanhã.

Não era suposto começarem assim os oito mil caracteres do dia.
Mas foram as palavras que me saíram das mãos, quando a janela do programa que está sempre ligado piscou - trabalha doze a catorze horas por dia, sete dias por semana e nunca se queixa, a aplicaçãozinha manhosa da Microsoft (argh, que não me orgulho nada disso, o amigo que já não é infectou-me com o vírus do open source, e não era difícil o contágio que eu nasci com o gene do contra, era só preciso espicaçá-lo, e esta noite ainda fiquei a olhar para o CD de Ubuntu em cima do sofá laranja, o mais geek presente de aniversário que algum dia recebi, e vai não vai, instala não instala, mas fui cobardolas, deixei o Ibook voador quietinho, com o sistema operativo lindo que a Macintosh lhe deu - e se corria mal, quem é que me podia valer?). É um programita que me arruína a produtividade, que atrasa o fecho do pasquim, que me assanha a tendinite da mão direita, mas que me mata a solidão em noites demasiado longas.
Escrevi esta frase linda à fadista, com xaile preto nos ombros, e esqueci-me logo da piçada que levei pela manhã, do meu paizinho blogueiro (que, assim como o big brother, proíbe outros bloggers de me linkarem, apenas para me proteger do despedimento por justa causa - e tenho-me portado bem e nem falei dos papéis que estão afixados a oferecer Ipods Nano -, mas, agora, estou proibida de o citar sem autorização prévia), foi uma piçada descomunal que nem me deixou saborear como deve de ser o lugar de estacionamento à porta do pasquim, fora do domínio da EMEL, pelo quarto dia consecutivo.

Não sei se morro amanhã, mas, pelo menos, está a nevar em Paris (se o avião cair, pelo menos que caia em Orly, com neve na pista - irracional, este medo de voar desde que tenho um pedaço loiro de quase dois anos que depende de mim; e se morrer amanhã, por favor, audiência fiel e gigantesca e muito anónima deste blogue, vão todos a Tribunal de Menores dizer que a minha última vontade é que a Carolina fique entregue aos cuidados da Magui).

Tenho 27 anos. Devia saber, até porque a Dona Prudência não me larga um segundo como um guarda-costas arraçado de roupeiro, que não se dizem estas coisas bonitas a quem não pode retribuir (admito que é só isso, não tem nada a ver com gostar ou deixar de gostar e há ainda outra frase, terrivelmente bonita, que não me sai da cabeça, que ficou pendurada, que não teve resposta e que nunca devia ter saído dos meus dedos - também nunca deviam ter sido mencionadas as qualidades imobiliárias de um admirador pouco secreto, que, espante-se, tem um carro igual ao que eu mais amei nesta vida, mil perdões, senhor FTA -, a frase era esta: "há uma forte probabilidade de termos sido feitos um para o outro". E, estranhamente, continuo a acreditar nisto).

Nunca vi nevar, foi com uma alegria de criança que abri o site weather.com, digitei Paris, carreguei no enter, e como que por magia, apareceram floquinhos de neve durante os próximos três dias e quase histérica (histérica mesmo, confesso) apressei-me a ligar para a minha "mana" pequenina, para lhe dar a estonteante novidade. E agora estou com um dilema existencial, não sei que sapatos e que casaco levar, mas à parte isso, o fim-de-semana ao som dos acordeons parisienses promete (para o caso de não haver acordeons, eu levo-os na mala: toda a discografia do Tiersen vai passar o fim-de-semana a Paris), estão reunidas todas as condições para desafiar o destino, grande arquitecto, supremo engenheiro, senhor das barbas e túnica brancas, desde já aviso que não me contento com menos, quero um fim-de-semana digno de argumento de um filme do Jeunet, ou pelo menos que inspire dezenas de posts.
Os viciados desta tralha sosseguem: vai comigo para Paris o Macintosh de 12 polegadas. E a fotojornalista homónima, que me acompanha na plane trip que ia dando para o torto por causa de um holandês que era voador e agora é marinheiro, leva a sua Canon digital, por isso, haverá actualizações diárias, coloridas com fotos excelentes da maninha.

(E, por falar nisso, ando para publicar esta, ainda do jantar lá de casa; é, como sempre, da Diana Quintela, minha fotógrafa oficial - adoro os pestanões)



[São dezanove horas, a janela pisca, e a resposta é a que mais se temia: "Já não te vejo"]


À bien tôt.

7 comentários:

Dia disse...

Nao morras (embora fosse demais, se algum tiveres que morrer, que morreses em paris à la jeunet) pq acredites ou nao fazes me falta. A mensagem chegou às 19h30, e fiquei com menos medo de voar.

Mary Mary disse...

Paris? QUE SORTE!!! Também quero... A minha cidade... Sniff! E ainda por cima a voar... Que sonho!!!

Vou ficar aqui a morrer de inveja... E nada de falar de possíveis acidentes... Xiu! Não agoires... Eu vou ao tribunal pela pequena Carolina! ;)

Mary Lamb disse...

Vais inspirada e voltas inspirada! Linda! És única, não há dúvida!

Unknown disse...

que o acordeon parisiense te toque sempre com carinho e admiração...

god bless you and your Trip!

;)*

Lcego disse...

Oh tão lindo!!!
Mas em Portugal também neva, pelo menos eu estou encurralada no alto da serra do montemuro e este silêncio branco é divinal. Adoro o Inverno, imensamente doce como as tuas palavras.

mac disse...

mais do que ires, xuxu, leva os olhos abertos e a alma lavada para respirares pelo TEU nariz a vida que tens a sorte de viver.
e, repara, o quão sortuda és, pois tudo, tudo, acaba por se compor a teu favor.

SGTZ disse...

Actualizei a música, fumei um cigarro enquanto lia o teu post e começou a cair uma carga de água em Benfica ... Obrigado pela companhia. Boa viagem