sexta-feira, março 03, 2006

Bomba-relógio

O nosso amor é uma bomba-relógio. Prestes a rebentar.
É um amor terrorista e quando a contagem decrescente, perfeitamente louca e aleatória, chegar ao três, e não avançar automaticamente para o 333 (este amor é um amor codificado também), quando passar para o dois e, depois, finalmente, recuar até ao um, este amor rebenta pelas costuras, parte as correntes que o atrofiam, engole a mordaça e arrota em sinal de bom proveito, dá o seu primeiro grito, respira o seu primeiro ar, e aí não vai haver sete virgens à espera de quem quer que seja.
O boletim metereológico espera uma chuva de serpentinas e purpurinas para o dia em que este amor rebentar: este amor tem a bênção de São Pedro, este amor mexe com os quatro elementos e estranhos fenómenos da natureza acontecem para o validar -- já houve neve e trovoada, vendavais que escreveram as mais belas sinfonias para espanta-espíritos de janela, e chuvadas sob as quais ninguém ousou dançar ou cantar.
E se este amor não morrer com a Primavera, se esperar quietinho, sem alarido, pelo Verão, pelos jacarandás que pintam uma Lisboa em tons de lilás, como num quadro impressionista, dizem-me, que se esperar pela subida do mercúrio dos termómetros, este amor vai incendiar todo o país e, pelo sim, pelo não, eu vou comprar um extintor, é que este amor, mais cedo, ou mais tarde, vai entrar em combustão espontânea, e a minha casa em Santa Marta é de tabique, e as chamas deste amor consomem a centena de metros quadrados onde ele surgiu sem ser esperado ou anunciado, reduzem-na a cinzas no curto espaço de tempo de cinco batimentos do coração.
É um amor, sim, não há que ter vergonha, é um amor bastardo, rejeitado, perfeitamente ignorado, invisível, insignificante de tão mal tratado que é. Não é um amor perfeito, não me tira as olheiras, não me põe bonita, como o outro, o que era a sério, o que eu tratava a pão-de-ló, o ocupava todo o espaço do meu sentir. Este amor não me traz de volta o castanho escuro aos cabelos despigmentados, às madeixas brancas que, para a semana, vou cobrir com mais tinta, que não será permanente -- tal e qual como este amor.
É um amor que ninguém aceita, que enche as caixas de reclamações.
Fugimos do detonador como se ele ferisse, passamo-lo de mão em mão como brincadeira de criança, pisamos o rastilho com força, atiramos-lhe baldes de água quando ele começa a faiscar, procuramos tesouras nas gavetas para cortar o pavio que está cada vez mais curto.
Mas é este amor é uma bomba-relógio. Prestes a rebentar.

2 comentários:

Isa disse...

deixa-o rebentar. bjs

AnadoCastelo disse...

E quando rebentar fas PUMMMMM..
Vê lá se te aleijas
Bejos