Doa a quem doer, este tem que ser publicado. Foi o último.
Esperei pela meia-noite para ser segunda.
Esperei pela meia-noite e na minha cabeça já é uma da manhã, não gosto quando mexem no tempo e os dias curtos fazem-me mal. É uma da manhã na minha cabeça e ainda não preparei o meu remédio para dormir, uma mezinha que descobri por acaso e que, todas as noites, dá-me boleia até ao barco que me leva a um mundo diferente onde estás sempre comigo, onde não há fins-de-semana, nem noites solitárias na companhia de músicas tristes e maços inesgotáveis de tabaco; uma terra secreta, uma terra sagrada, que não está cartografada em nenhum mapa, não vem no Google Earth, podes pesquisar onde quiseres, pergunta aos Jeeves, ao Ambrósio, procura o mapa do tesouro no baú do sótão à vontade, perdes o teu precioso e preenchido tempo, mas tenta, que eu sei que és teimoso, que vais tentar encontrar a chave, que vais subornar funcionários da alfândega para tentares lá ir sem levar o convite VIP que te entrego todas as madrugadas; falo de um lugar que não é físico, é amplo, enorme, mas confortável, aconchegante, é solarengo e salgado, não há nenhuma fita métrica que consiga calcular a sua área, é só meu e teu.
As segundas são sempre dias difíceis para mim. Não tarda, detesto-as mais que os sábados.
Porque vens cheio de certezas, às segundas, de culpa, de remorsos. Vais enxotar-me como é hábito, repudiar-me, dizer que não podes, que não está certo, que isto e que aquilo, vais chamar-me querida, mas começar a semana com o pé esquerdo, a ferir-me o coração, e eu vou ter que me revirar, que me despir, aqui, ou no outro blogue, ou na janela muito indiscreta onde te mostro um corpo cheio de marcas, onde te cego com o que há de bom e de péssimo em mim, onde te prometo despudoradamente um mundo de prazer sem travões ou vergonhas; vou, de mansinho, puxar-te de novo para perto de mim, vou ser doce, vou ser meiga, vou ser o meu melhor eu.
Porque não me fazes uma surpresa? Eu não a mereço? Dá-me uma segunda com sabor a sexta.
Não me magoes esta segunda.
Algures na blogosfera, 31 de Outubro de 2005 [escusam de procurar, porque o blogue já não existe, e há caixas de Pandora que nunca se deviam abrir, porque abrem cicatrizes profundas que nenhuns pontos conseguem fechar]
[Ele chegou, na segunda, com humor de sexta. Não me magoou, bem pelo contrário, nunca vi a felicidade tão perto num dia de chuva torrencial. Dois dias depois, a uma quarta com sabor a segunda, depois do feriado dos mortos, este amor foi enterrado vivo]
3 comentários:
n sei se foste tu que escreveste, mas é alguém que pareces tu. hoje escrevi um post enorme totalmente inspirado na tua escrita, na forma como escreves. tá lá, na pole position, bjs
Fui eu fui :)
Vou já ver isso no teu quintal.
PS - Sábado, oito e um quarto na Sé, amoreeeeee. Vamos lá jantar perto, a pandilha do Tralha.
Como é que desconfiei??? :-D
Lá estarei, lá estarei! bjs
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