quarta-feira, março 29, 2006

Guinness

Em Julho de 2005, quando fixei residência na Rua de Santa Marta, demorava, em média, 25 minutos a acender o esquentador. Em Dezembro, recordo-me, ainda tinha a mesma marca pessoal, que quase me levou à loucura e à pneumonia de tanto banhos gelados a que me submeti por não ter a paciência de estar de castigo, com o polegar da mão direita em esforço, durante quase meia hora.
De há um mês para cá, tudo mudou, apanhei-lhe o truque, mas não foi pela via do diálogo que lá cheguei, nem pelas preces à santa da minha rua. Descobri-lhe o ponto fraco, sempre fui boa nisto, nas rasteiras. Negociação de conflitos está na moda, há cursinhos merdosos financiandos pelo IEFP anunciados todas as semanas no Expresso Emprego, mas eu gosto de pronunciar o meu nome à italiana (R-a-g-l-i-a), porque noutra encarnação fui mafiosa de certeza, e, daí, a minha fixação nas Berettas (graças a Deus já não guio o Frontera; era muito perigoso, cheguei a engatar a marcha-a-trás a um desgraçado que guiava um corsa comercial, cujo único pecado foi ter-me apitado porque não arranquei no micro-milésimo de segundo que se seguiu à passagem da luz encarnada para verde de um semáforo, e abri o vidro e gritei: "queres ficar sem capot, ò filho da p...?").
Agora, acendo-o em menos de um minuto. Hoje, infelizmente, não tive testemunhos, mas demorei-me apenas dez segundos e este é um recorde digno de registar no livro do Guinness, na categoria dos acendimentos de esquentadores a gás butano com o piloto estragado, feito tão estúpido quanto o maior pão com chouriço do mundo, ou maior largada de balões em barco rebelo.
Quer esta prosa sem nexo e de encher chouriços dizer que esta foi a maior alegria de um dia em que a Primavera se voltou a esconder por trás de nuvens cinzentas, e eu estou tão fora da realidade, que a meio da tarde - porque li no nick name de alguém que consta da minha extensa lista de contactos do messenger, a palavra eclipse -, perguntei à amiga "Malmequer": "vai haver um eclipse hoje?". E ela, pacientemente, com todo o amor do mundo, não disse: "Alzheimer, sai de cima da Dia". Respondeu: "Foi de manhã" e eu escrevi um "ah" de queixo caído.
Continuo a sobrevalorizar o sentimento começado por "A", e não entendo porque é que ele se esqueceu de mim. E da Dijei exbloguerThê, que passou a tarde a passar-me, ilegalmente, toda a discografia disponível do Anthony. O "senhor preta", como ela lhe chama. [Porque um dia, ela enviou-me o primeiro mp3 do senhor andrógena, e eu fiquei passada, com o "hope there's someone who'll take care of me, when I die", e perguntei no messenger: "Thê, de quem é aquela música que me enviaste". E ela não sabia de qual é que eu falava, na altura, já me bombardeava o Gmail com playlists que me embalam as tardes de trabalho, e eu disse-lhe: "é uma cantada por uma senhora preta, parece-me". Pois é um gajo (pelo menos tem pilinha, apesar de não ter aspecto de quem lhe dá muito uso, a não ser para fazer xixi) e é bem branquinho.] E porque é que o nobre Amor, foge, também, a sete pés, da amiga Malmequer, que é a mulher mais bonita que eu já vi, de cara angulosa, olhos asiáticos, cabelo de francesinha coquette, pernas de sonho e coração generoso.
Nada disto faz sentido e eu hoje não tenho absolutamente mais nada a registar a não ser que acendi o Vulcano em menos de dez segundos.

9 comentários:

Isa disse...

mesmo qdo n tens mais nada pra registar os teus textos dão um gozo do caraças ler. sempre. nem sempre comento, nem sempre me apraz dizer qualquer coisa. às vezes apetece-me dizer qq coisa mas tb n tenho nada de novo pra dizer, como hoje, hoje tb n tenho nada de novo pra te dizer, só coisas velhas, adoro a forma como escreves. gosto mesmo mesmo mto. bjs

Dia disse...

Estava a ser injusta, houve outro momento grande do dia: quando o meu editor deixou passar uma referência shakesperiana dos Montéquios e Capuletos numa reportagem sobre o Bairo Padre Cruz, o maior bairro social da Península Ibérica. Foi o segundo momento do dia, e, aos primeiros minutos desta quinta-feira, a amiga "malmequer" confirmou que eu sou o centro do mundo, escrevendo não só um post sobre a minha trágica aventura, como um comentário sobre a minha pessoa no seu quintal, e o dia promete, ai se promete.

Dia disse...

Isa, meu amor, estávamos ao mesmo tempo a comentar o post. O mais preocupante é eu comentar os meus próprios textos...
Obrigada pelo carinho, temos que combinar aí um cafezinho, uma vez que estamos ligadas pelo mesmo defunto Amor (isto é um karma, ser grande amiga de mulheres que amaram os mesmos homens que eu). Jantar no sábado?

AnadoCastelo disse...

Quem tem um Vulcano tem tudo. Eu já tive um e só me desfiz dele pq era mais barato comprar um inteligente do que ter esse todo o dia aceso. Era um gastar de gás q não te digo nada.
Pq é que é (como diz o outro) que o teu editor não deveria deixar passar tal frase?? Escreves tão bem.
Jokas

Isa disse...

acho q da minha parte nunca chegou a tanto, mas sim, bateu. bateu mais do que estava à espera, durou mto mais do que desejaria...

sim, why not, vamos a isso!!! :-) bjs

Anónimo disse...

uma colherada no arroz doce preparado com amor pelas mãos sábias da d.ester. e vamos lá a isto. os momentos foram esses dois, a frase de ontem foi... o amor agora distribui-se aos pacotes, não de açucar mas iguais aos que os senhores da clix ou da sapo oferecem à saída das estações. é desta forma que ao jantar a senhora minha mãe definiu o amor do século xxi.


gostei do tango (mas há qualquer coisa que me incomoda, há qualquer coisa que o astor me quer dizer ou já me disse... vou averiguar e talvez quebre a folga). outra frase, o tango resolve uma vida (thê com vinho da galiza a mais no corpo) quando vamos resolver a nossa vida di?

isto de já não se blogar tem que se lhe diga... grande comentário. schiii e um pafff e um pifff no mundo!

ex... o resto já sabes lol

Anónimo disse...

aii as gralhas. sorry

exbt

Telescópio disse...

Adivinha-se uma nova etapa para a tua vida: acender o fogão em menos de cinco minutos e sem ajuda [eheheheheheheheheheheh].

Sábado estamos juntos? Chuac.

Dia disse...

Sábado estamos juntos. Ainda não sei bem onde, mas estamos. Reserva o jantar, amor.