[tenho que ir buscar o carregador do Ibook, já só tenho 33 por cento de bateria - bela percentagem -, é só um momentinho, fregueses]
Hoje foi mais um dia estranho (não muito bizarro, não pode ser todos os dias bizarria, ninguém aguenta muitos dias bizarros de enfiada), uma quarta-feira sobre a qual recaía apenas um desígnio.
[há coisa de umas três semanas - se eu não fosse preguiçosa e se não fossem três da manhã, ia à procura do post nos arquivos e punha aqui o link para quem não leu, pronto, faz de conta que está aqui -, quarta era dia de mudar o destino, e eu mando para o ar estes reptos à filme do Jeunet e depois o destino muda mesmo, mas, ao menos, podia ser pontual, que é uma qualidade que eu muito aprecio - ai, estas variações Golbberg matam-me, e saibam, senhores leitores, que a maioria dos meus posts é escrita ao som de Bach, ou de Chopin e às vezes de Ben Harper -, porque o destino decidiu mudar de faixa de rodagem, sem fazer pisca, sem olhar pelo retrovisor, e abalroou as duas miúdas que têm a mesma idade, que se vestem de preto, que gostam das cores encarnado, beringela e de sapatos de salto alto e biqueiras pontiagudas (aliás, estas mesmas garotas foram comer um bife ao Snob, dias antes de o destino mudar, com um calçado muito apropriado para escalar e descer ruazinhas estreitas com passeios esburacados e estradas em macadame do Bairro Alto). Atropelou-as na terça-feira, e não na quarta, e as terças, antigamente, eram dias de Andy (faz amanhã, sexta-feira, um ano que tu entraste na minha vida, holandês voador, e não tem sido fácil), e eu já estou como a Teresinha e acho que tenho um blogue, não só para terapia intensiva pela madrugada fora, mas, também, para saber a quantas ando, que dia da semana é que é]
A missão desta quarta não era ir vacinar a miúda, ou tratar da papelada da EMEL (não vou fazer nada do que me propus fazer, não tenho pachorra e há sempre lugares de estacionamento não pago nesta rua por debaixo da Fontes Pereira de Melo e da Duque de Loulé). Era simples: encher caixas de comentários de blogues alheios (e, como amor com amor se paga - e como eu gosto de provérbios -, as caixinhas desta horta também estão a abarrotar, anónimos de toda a blogosfera, juntem-se a nós, nós os que somos voyeurs compulsivos confessos, que adoramos espreitar as vidas de desconhecidos, mas, também, gostamos de participar, de as invadir, gostamos de dar vida aos posts, outra vida, levando-os, por vezes, para caminhos sinuosos - maus caminhos, naturalmente).
E porque quero perpetuar as estranhezas, as bizarrias desta quarta-feira, hoje não vou começar pelo princípio, nem pelo título (fiquem a saber que é raríssimo eu começar a escrever um post sem primeiro esgalhar um bom título, foi isso que eu estudei publicidade - haverá aí muito leitor que não sabia esta, que eu estudei para ser vendedora da banha da cobra e, arriscando mais uma vez a justa causa, se o patrão me descobre o quintal, não trabalho na indústria publicitária, mas, basicamente, o meu quotidiano é esse mesmo, mas não faço filmes, nem coisas criativas, nem sou tão bem paga como provavelmente seria, se levasse a vida a fazer anúncios, mas se eu já fico puta da vida com notícias sem importância, não sei como reagiria se tivesse que fazer um anúncio do Jumbo com o Jorge Gabriel a perguntar a uns actores pagos para fingirem que são pessoas normais, apanhadas de surpresa, a afirmarem que esse hipermercado é o mais barato -, quatro anos a fazer o curso com os pés num edifício bonito em Benfica, sobre a Segunda Circular, que ganhou o prémio Secil de Arquitectura, mas que é irracional, contra todas as regras do bom senso, da ergonomia, da acústica e o raio que o parta, mas valeu de alguma coisa, para além de pés torcidos no caminho de pedras que o arquitecto teimou em perpetuar para se chegar à porta da Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa, sei, pelo menos (mas não precisava de quatro anos para chegar a essa conclusão), que se deve chamar a atenção do consumidor (neste caso, leitor) no primeiro contacto, porque senão ninguém se dá ao trabalho de prestar atenção ao resto, sobretudo se existir uma falta crónica de pontos finais e muitos parêntesis e travessões com coisinhas que não lembram ao menino Jesus.
Mas está muito frio em Santa Marta, o aquecedor irrita-me porque faz muito barulho, eu sempre que escrevo fico com as mãos e a ponta do nariz gelados e, por isso, fiz uma concha com as mãos, levei-a à cara, tapei todo o nariz e a boca com ela e expirei lá para dentro, num esforço inglório para aquecer as extremidades enregeladas, e nisto reparei nas minhas mãos de perto e veio-me à memória esta imagem: o parque de Viseu, junto ao lago, o Leonardo na biblioteca, eu junto à Magui, pego-lhe nas mãos lindas e compridas, analiso a textura da sua pele junto aos nós dos dedos, olho para as minhas mãos pequeninas e gorduchas, que têm uma textura muito diferente, e pergunto: "Mamã, quando é que eu vou ter estrelinhas nas mãos?" (olhem para as vossas mãos e reparem se a pele junto aos nós dos dedos não faz uns desenhos que se aperentam com umas estrelas). Eu já tenho estrelas nas mãos, 22 anos depois de o perguntar à minha mãe vem-me este fantasma do Natal passado do nada, e agora que o escrevi e gastei mais uma pestana a quem ainda não desistiu de ler este post (hoje tive um recorde de visitantes únicos, 125, é o efeito Carrie, e está a dar no iTunes a minha variação preferida, a 15, bem na realidade, é a 21 a favorita, bom, são as duas, adiante), vamos a isto, Lisboa (argh, resquícios da campanha eleitoral do Carmona; é que há pouco, passava pouco tempo depois de me ter transformado em abóbora, às doze badaladas da meia noite, estive a rever as fotos da divertida campanha, demorei-me, sobretudo, numas hilariantes tiradas pelo Hermínio numa sardinhada no Vale de Santo António).
Começou a guerra química em Santa Marta. Ontem, quando afoguei sem piedade, às cinco e picos da manhã, o exército de formigas que teima em não içar a bandeira branca, voltei à diplomacia, vamos lá assinar o tratado de paz, eu não gosto de matar nenhum ser vivo, basta de carnificina, vamos lá, senhoras, que maçada, mas não, estas formiguitas são da pior espécie, guerrilheiras bárbaras, e hoje já tinham novamente um exército armado, que me atacou um pacote de bolachas e o saco do lixo. Não me restou outra opção senão utilizar o meu arsenal de armas de destruição maciça - Raid Casa e Plantas. Vamos lá ver se é desta...
Hoje voltei ao Independente. Como sou uma tesa de primeira, não tinha dinheiro para telefonar ao meu irmão emigrado na Escócia que, ontem, fez 25 anos (ou 24? para além de tesa sou desnaturada), fui então ao Independente chular o meu irmão mais velho: "Não te importas que eu faça a chamado do teu telefone, pois não?"
E ele não se importou, claro. O meu irmão mais velho até mesada me dava quando eu já trabalhava.
Mas eu não punha os pés no Independente desde que engravidei inadvertidamente de um jornalista desse pasquim e correu tudo anormalmente bem, a loira endiabrada esteve a brincar com o tio e com o paizinho e eu até consegui ir a um café manhoso da Almirante Reis com o indivíduo que começou essa tradição de cafés feios porcos e maus (este era só piroso, tinha um painel de azulejos com o rei Artur).
É que hoje, finalmente, consegui chorar qualquer coisita depois de o destino ter mudado a uma terça-feira, afinal ainda não fiquei de pedra, teve apenas efeito retardado, a dor da pancada - as árvores não são apenas árvores, ninguém me tira esta da cabeça -, e a coisa correu, também, anormalmente bem.
Por isso, hoje (ontem) foi um dia anormalmente estranho. E a propósito do meu post anterior, ao estilo da minha mais recente paixão na blogosfera, ele escreveu assim, no seu blogue, o tal que eu não vou linkar porque ainda arranjo um bilhete de ida, sem volta para Sarilhos Grandes:
Eram blogonamorados. Quando ela o apanhou na caixa de comentários com outra acabaram tudo.
P.S.: You wish.
P.S.2: I wish.
Quatro da manhã. Mais uma noite. Quantos dias aguentarei eu a dormir três horas?