quarta-feira, dezembro 07, 2005

5 x 2 + 2

Começo eu, o computador e a casa são meus.
Há dois anos, 730 dias, são 17.520 horas, deixaram-me à porta do Hospital Particular, jantámos na Lusitana, eu tenho pena de não ter uma foto aqui comigo, tem-nas a Catarina, eu era uma grávida bem bonita, fui de saltos de cunha de sete centímetros, fui toda de castanho, parece que foi ontem, deixaram-me no Particular, e eu parecia forte, o Pedro depois disse-me que sentiu orgulho na mulher que ficou nas urgências, sozinha, que ficou nas urgências do Particular, quarto 615, para parir. Foi há dois anos.
de dois em dois anos, de duas em duas mãos, de dois em dois paços e passas de passar a noite a passar palavras: (i'll miss our conversations) e se fosse uma coisa que cheirasse, como soprar 23 vezes por dia a nossa liberdade: falta de pudor. de um no outro parágrafo, soltam-se coisas pequenas ou pequeninas coisinhas de fazer sorrir, de fazer viver. depois estavam todos na rua a celebrar, do 7 ao oito passam-se próximos infinitos: coisas sem nexo e sexo no vão das escadas: assimetrias.
"começar em assimetrias e esquecer tudo o resto que está para trás."
"e o gajo quando foi à África do Sul com ela mostrou-lhe o meu blog e ela curtiu bué."
"aliás a nossa viagem de finalistas foi a Diana, o Pedro, o Miguel, a prima do Miguel, o namorado e eu. Não, nos fomos mm pq já tinhamos..."
"e quando tens 21 ou 22 anos isso é muito importante, precisas dessas coisas para cimentar uma amizade."
"vem cá ter? pá ainda vamos ter mais um então, mas ele diz que não vem só beber um capuccino. "
"imprimir esta merda e lermos os cinco ao mesmo tempo mas cada um ler a sua parte. tipo Carolina mas ao contrário. e se jogassemos outra vez ao "e se fosses?""
"tu perguntaste e a diana viu? e eu respondi que sim."
"e se essa pessoa fosse uma divisão da casa que divisão era?"
um sótão."
"se essa pessoa fosse...se essa pessoa morresse o que estaria escrito na sua pedra tumular?
é bonito!"
".... mas é complicado..."
"qui qui já te estás a esticar, era só um parágrafo...!"
(troca de pessoas, troca de respostas....bangunça total! o jogo no seu ponto!)
É meia noite e dezassete. Há pouco, quando o telefone tocou eram: 00:00. No meu telefone. O que na prática significa que afinal eram 00:03. Era para ser a 10 mãos. afinal vai passar a ser a 12... Números. Sempre gostei de números, e de riscos. Os riscos ficaram pelo caminho. De vez em quando faço uns biscates. As letras é que nunca me apaixonaram. A não ser na versão voyeur. Gosto. De ler. O que os outros escrevem. Por vezes deixo posts. Muitos anónimos. Quando sei que sabem quem sou. Gosto especialmente quando conheço os personagens. Mesmo os ficcionados. Aqueles que consigo ver. A cores. Ou em "relevo branco" como descrevia um antigo professor a cor dos sonhos.
Há 365+366+1 dias atrás eu estive lá. Naquele jantar. A deixá-la à porta. A dar-lhe um bloco para ela escrever. Porque não sou rica para lhe oferecer o i-book que ela comprou uns anos depois. Para ela escrever para a filha os seus pensamentos. e estive lá há 365+366 dias atrás e a vi. E ao bébé mais lindo do breçário. Pequenina. Perfeitinha. Linda. Com toda a vida pela frente. Com todos os sonhos por realizar. Por idealizar.
Escreve - disseram-me, enquanto arrastava o último neurónio pela viela escura dos corredores do cansaço que precedeu o último orgasmo do ano. Foi o epílogo de uma história triste. Uma noite estafada com uma ideia feliz a rematar as primeiras horas do dia seguinte. E agora?... What now, my love?
E agora, navegar. Mergulhos superficiais, para treinar a respiração e depois submergir profundo. É a sina de santa marta, estofo de um sofá cheio de pó, amarelado, um art work desactualizado.
Não há nem pode haver coerência em seis almas, doze mãos. Somos passageiros de realidades egoístas, filmes com um único protagonista, o nosso umbigo.
Noite que vaga, vagarinho. Um chegante estafado, 'miss' dry martini, o pedro-master-musician, a dupla homónima, menina quero ser e menina quero ter. Eu também, aqui ao lado. Feliz, feliz porque o Benfica ganhou.

Postado por Dia, Branco, Qui Qui, M. (a blogger que ainda não é), Mac e Telescópio.

6 comentários:

Dia disse...

A que me fez chorar é a única que não tem blogue. Tem que ter. Impõe-se.

Anónimo disse...

Eu não escrevi. Mas li o Fio da Navalha inteirinho nessa noite, na minha noite que depois se fez dia, Dia. E esta noite esteve muito escura, apesar da lua (um quarto qualquer), porque queria estar aí...E partilhar isto contigo. Desculpa. Vou mandar o carro para a sucata.

Anónimo disse...

fiquei um bocado baralhada. mas gostei das palavras ausentes.
thê

Anónimo disse...

Simplesmente maravilhoso esta história de um DIA muito importante e inesquecivel nas vossas vidas.

Anónimo disse...

Não tenho blog. Mas vou deixando post em blogues de pessoas de quem gosto, aqui e ali.

Telescópio disse...

M.
Deixa-te de merdas, que o talento não se despediça assim. É pecado.