sexta-feira, dezembro 16, 2005

Sem nome (reeditado, que o outro estava uma boa merda)

Tenho estado à espera. De cair em mim.
A alma foi dar uma volta ao bilhar grande, foi ver se eu estava ali na esquina de cima, ao pé do Sheraton, disse que ia comprar cigarros - Dunhill, porque a alma é a coisa mais fina que há em mim - e não voltou. Desapareceu de casa da sua mãe, sofre de algumas perturbações mentais congénitas raras, de menor importância (ver luz onde só existe escuro e cores berrantes onde a realidade é monocromática, em gradientes de cinzento), mas é considerada inofensiva pelas autoridades. Vestia calças de ganga de marca Lee a caírem pelo cú abaixo e uma camisa preta com dezenas de pequenos botõezinhos e, para ser honesta, nem sequer me lembro qual foi o dia em que ela abalou (foi esta semana, parece que foi há muito tempo).
Tenho estado à espera. De reagir da forma como sempre reajo: com muito sangue, com muitas lágrimas.
Nada.
Emagreci dois quilos.
Rio muito.
Fumo muito.
Fiquei doente, o de sempre, amigdalite, o manhosococus atacou-me as debilitadas e cansadas defesas imunitárias.
Não durmo porque nada encaixa com nada, as peças todas na minha mão, mas parece que já não sei fazer puzzles, quando essa é uma das minhas maiores aptidões, desde pequena - aos seis anos gostava dos de 50o peças do Mordillo e o meu recorde foi encaixar uma paisagem muito pirosa, dividida em três mil pedaçinhos de cartão, que fiz em trio com a tia Lena e o tio Carlos, durante os três meses das férias de Verão. Tinha uns oito anos. De manhã fazíamos o puzzle (começa-se sempre pela moldura), à tarde eles estudavam para a tese (seria de mestrado, na altura?) e, para me entreter, durante a digestão, enquanto não podia ir a banhos para a piscina do avô Ralha, davam-me testes psicoténicos e de QI que fazia com gosto e dedicação, cujos resultados me punham quase sempre a raspar o genial.
Estou sempre à espera de sair deste coma. Com uma notícia de jornal sobre uma qualquer desgraça ou aberração da realidade, com o facto de o incitável já me chamar "Calimera" (se eu estivesse no meu perfeito juízo bastava isso para me pôr a chorar - é que eu não tenho vergonha de estar triste), com um comentário simpático e atencioso, dos que aparecem neste blogue.
Mas nada.
Até agora, nada.
Dói-me as entranhas quando vejo os olhos verdes da minha amiga, ou quando vou espreitar o seu blogue das bolinhas. É só.
Se calhar, estou a ficar um icebergue como a Magui.
Há um post que eu gosto muito, destes últimos semi-neuróticos (nos próximos dias vou publicar aí um best of, porque esta horta está quase a fazer um anito de vida e isto vai mudar, tem que mudar, de facto já não há paciência para tanta desgraça e vou voltar a escrever as histórias da minha família, dos personagens estranhos que passam por mim e, bem vistas as coisas, até devia mudar de layout), e nesse lençol, escrito no dia em que fui dispensada via messenger, eu escrevi que esperava tudo. Menti: não esperava mesmo que aconteceu. Até porque, a noite em que o destino decidiu juntar-nos, tinha uma lua crescente absurdamente bela e irregular e o bife pelo qual sonhei, quase três anos da minha vida, estava uma delícia.
Não dói.
É só a supresa, o espanto face à cadência de coincidências à filme psicadélico de um qualquer realizador alternativo, que seria um êxito de bilheteira de tão surreal, retorcido e fantástico que é o seu argumento.
Mais uns dias e vou conseguir fechar a mandíbula. Mas não conseguirei cerrar os dentes de raiva e ficar com o rosto menos bolachudo e mais anguloso, com os maxilares marcados nas maçãs do rosto.
E isso não é à Ralha.

4 comentários:

[ t ] disse...

queria escrever qualquer coisa de jeito. mas não dá. os neurónios esses coitados andam a fazer uma kitten dentro do meu minusculo cérebro. olha já sei vou-te raptar até madrid! bora?

Dia disse...

Leva-me para os bons caminhos, Thê.

SGTZ disse...

Este blog é mesmo muito bem escrito.

Dia disse...

O sargento é o maior!!!